VACINA PFIZER

Saiba tudo sobre a vacina da Pfizer, o novo imunizante que chega ao DF nesta segunda

Segunda vacina mais usada no mundo, a vacina contra o covid-19 desenvolvida pela Pfizer, em parceria com BioNTech, finalmente chega ao DF. Saiba tudo entre peculiaridades, porcentagem de imunização e força frente a novas cepas

Pouco mais de três meses após o início da vacinação contra a covid-19 no Brasil, o país terá mais uma vacina para ajudar na imunização da população. Chegou na sexta-feira (30/4) o primeiro lote de um milhão de doses do imunizante da farmacêutica Pfizer, feito em parceria com o laboratório BioNTech.

A vacina foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso definitivo no país em 23 de fevereiro. A vacina é a segunda mais usada no mundo. São 90 países que estão usando o imunizante, segundo levantamento do The New York Times. Entre eles, boa parte da Europa, da América Latina e os Estados Unidos.

 

Como funciona a vacina

O imunizante da Pfizer usa uma tecnologia diferente das duas que já estão sendo aplicadas no Brasil. A vacina é feita por meio de um RNA mensageiro. Funciona assim: em laboratório, os cientistas criam uma “cópia” do material genético do vírus. O sistema imunológico desencadeia uma reação que cria uma defesa contra o verdadeiro vírus.

A grande vantagem dessa tecnologia é que não é preciso cultivar o vírus em laboratório, o que a torna mais barata. “É uma plataforma bastante diferente. Nunca havia sido utilizada”, explica o infectologista do Hospital Anchieta Victor Bertollo. “O RNA mensageiro é um fragmento de material genético que não modifica de maneira nenhuma o nosso material genético, mas ele é capaz de fazer com a célula produzir uma proteína do vírus que é mais relevante para a produção de anticorpos’, completa.

 

Doses

O Brasil fez um acordo com a farmacêutica para adquirir 100 milhões de doses. O primeiro lote com 1 milhão de doses do imunizante chegou ao país na sexta-feira (30/4). Nesta segunda (3 /5), o DF recebe 5,8 mil doses desse lote. 


As doses da vacina norte-americana serão totalmente utilizadas na vacinação de pessoas com comorbidades no DF. A informação foi divulgada pelo secretário da Casa Civil, Gustavo Rocha, durante coletiva no Palácio do Buriti. 

Assim como as vacinas que já estão sendo aplicadas no país, essa também necessita ser tomada em duas doses. O reforço, no Brasil, deve ser tomado com 12 semanas de diferença. Essa no entanto não é a indicação do fabricante, que recomenda um intervalo entre doses de 21 dias. O Ministério da Saúde justificou o intervalo maior com base em estudos que atestam uma proteção alta com apenas uma dose. Essa foi a mesma estratégia adotada pelo Reino Unido.  

Essa vacina tem o diferencial de ter que ser armazenada em temperatura muito baixa. Ela precisa ficar em ultracongeladores que a conservam em -70°C. Segundo Victor Bertollo, essa necessidade é exatamente pela tecnologia que ela utiliza. “O RNA mensageiro se degrada muito facilmente em temperatura ambiente, por isso ela precisa ser armazenada em temperaturas ultrabaixas para não perder a eficácia”, destaca.

Devido a esta peculiaridade, o Ministério da Saúde optou por distribuir essas vacinas somente entre as capitais. Nos postos de saúde, ela pode ficar em temperatura que varia entre 2°C e 8°C, e precisam ser aplicadas na população em um período de até cinco dias.

 

Eficácia alta

O imunizante da Pfizer tem uma eficácia bem alta. A terceira fase de testes, que terminou em novembro de 2020, apontou uma eficácia de 95%. Além disso, um estudo feito pelo Sheba Medical Center, em Israel, mostrou que somente com a primeira dose do imunizante já é possível ter uma proteção de 85% contra a doença.

A vacina também se mostrou eficaz para cortar a transmissão da covid-19. Quem toma o imunizante tem entre 38% e 49% menos probabilidade de transmitir o vírus do que pessoas não vacinadas, segundo a Public Health England. “Ela Tem uma elevada eficácia, não só para o risco de adoecimento, mas também de infecção e ela também evita que a pessoa transmita, mesmo que ela venha a se infectar”, afirma o infectologista Victor Bertollo.

 

Novas cepas

A assombração mais recente da covid-19 tem sido as mutações que o vírus vem sofrendo. As cepas de Manaus, da Índia, Reino Unido e África do Sul preocupam em relação a uma maior taxa de contaminação. Não bastasse isso, ainda há o risco das vacinas que estão sendo aplicadas não serem eficazes contra as variantes.

No caso da Pfizer, um estudo, ainda não revisado, feito pelo Centro de Pesquisa de Doenças Infecciosas e Vacinas de La Jolla, na Califórnia, constatou que a vacina é capaz de despertar uma resposta do sistema imunológico mesmo contra variantes. 

Um outro estudo, publicado na revista científica Nature Medicine, mostrou que a vacina da Pfizer pode neutralizar as variantes do Reino Unido, África do Sul e a brasileira. 

Além disso, como ela usa simplesmente material genético, é muito mais fácil fazer alterações na vacina para que ela possa agir contra variantes. 

 

Reações

Assim como as outras vacinas, é esperado que algumas pessoas tenham reações adversas não graves, como dor de cabeça, cansaço e dor no local da aplicação. Em alguns países, tiveram relatos de reações alérgicas graves. Victor Bertollo explica que as pessoas não devem se preocupar quanto a isso, já que é uma reação extremamente rara de ocorrer e em pessoas que já têm histórico de alergias. “É uma vacina bastante segura. Houveram alguns relatos de reação alérgica, principalmente em pessoas já com histórico de reações alérgicas. São eventos extremamente raros”, explica.

A estimativa é de 11,1 casos de anafilaxia para cada milhão de pacientes imunizados, segundo o Vaccine Adverse Event Reporting System. O intervalo entre a dose e o início dos sintomas, gira em torno de 13 minutos. Nenhum paciente morreu e desses pacientes 81% apresentavam história de alergia ou anafilaxia.

 

Polêmicas

Apesar do Brasil só ter comprado as vacinas da Pfizer agora, as negociações pelo imunizante começaram já há um tempo. Segundo a Pfizer, a empresa fez a primeira oferta ao Brasil em agosto de 2020. A farmacêutica ofereceu 70 milhões de doses ao país, mas o Brasil negou. Pela proposta, segundo a Pfizer, a entrega das primeiras doses seria em dezembro.

O governo disse que a negativa da oferta foi porque um acordo com a empresa "causaria frustração em todos os brasileiros". Segundo o Ministério da Saúde as “cláusulas leoninas e abusivas que foram estabelecidas pelo laboratório para criar uma barreira de negociação e compra”, isso porque as primeiras entregas do imunizante seriam de apenas 2 milhões de doses.

Mesmo sem acordo de compra, a fabricante solicitou à Anvisa o registro do imunizante no país. Em fevereiro, a agência brasileira concedeu o registro definitivo da vacina contra a covid-19. Esta foi a primeira a conseguir este registro no país. Tanto a vacina de Oxford quanto a Coronavac só tinham autorização para uso emergencial até então. A diferença é que a vacina da Pfizer passou por uma análise mais profunda da agência. Dessa forma, não é preciso, por exemplo, que a vacina só seja aplicada em um grupo específico.

 

Virar jacaré?

Agora o presidente Jair Bolsonaro tem defendido a vacinação da população, mas não há muito tempo o discurso era diferente. ‘Se você virar um jacaré, é problema seu’, a frase que repercutiu em dezembro foi justamente sobre a vacina da Pfizer. “Se você virar Super-Homem, se nascer barba em alguma mulher aí, ou algum homem começar a falar fino, eles (Pfizer) não têm nada a ver isso. E, o que é pior, mexer no sistema imunológico das pessoas”, disse o presidente na época.

Mais recentemente, o ministro Paulo Guedes fez um “elogio” a vacina da Pfizer ao criticar a CoronaVac. "O chinês inventou o vírus, e a vacina dele é menos efetiva do que a americana. O americano tem 100 anos de investimento em pesquisa. Então, os caras falam: 'Qual é o vírus? É esse? Tá bom, decodifica'. Tá aqui a vacina da Pfizer. É melhor do que as outras", disse o ministro na em reunião do Conselho de Saúde Complementar, sem saber que o evento era transmitido nas redes sociais.

No entanto, a vacina não foi criada por americanos. O grande responsável pelo imunizante foi o laboratório alemão BioNTech. À frente do projeto estão o casal de imigrantes turcos Özlem Türeci e Ugur Sahin.