Há pouco mais de 14 meses, os brasilienses tiveram de mudar o tradicional canto “com quem será?” para “quando será?”. Desde o início da pandemia da covid-19, quem estava com planos de se casar precisou remarcar datas, refazer compromissos e postergar sonhos. Em alguns casos, por causa do adiamento, foi feita uma pequena prévia do momento tão esperado.
Os empresários Camilla Santa Cruz, 30 anos, e Lucas Alagemovits, 31, que planejam o casório desde agosto de 2019, precisaram adiar a data três vezes por conta da pandemia. A espera valeu a pena: Camilla, que mora no Sudoeste, será a primeira noiva brasileira a se casar no castelo da Cinderela, no parque Magic Kingdom da Disney, nos Estados Unidos, em fevereiro do ano que vem. No próximo fim de semana, o casal vai fazer uma cerimônia para 100 pessoas na Catedral Metropolitana de Brasília, que pode abrigar até 4 mil fiéis.
Segundo Camilla, a igreja colocou divisórias de acrílico nos bancos, para manter a distância de dois metros, e está comportando apenas quatro pessoas por assento. Quanto ao casamento estadunidense, será em uma área verde, externa ao castelo, às 7h, antes de o parque abrir, com duração total de cinco horas. “Fiz intercâmbio de trabalho na Disney algumas vezes. Sou apaixonada, e surgiu a ideia de casar lá. Não foi burocrático, as tratativas foram feitas por telefone e e-mail, tudo bem tranquilo”, relata Camilla, explicando que a cerimônia na Disney contará com a presença de amigos que não puderam ser chamados para o evento em Brasília. “Pelas mudanças com as datas, estamos com alguns problemas com passagens, hotéis e ingressos, e perdemos algumas reservas. Um dos convidados até precisou entrar na Justiça contra a empresa aérea”, lamenta a empresária. “Lá, já foi liberado o uso de máscaras ao ar livre, o que foi um alívio. Espero que se resolva a questão da chegada de brasileiros no país até lá, meu medo é travarem a nossa entrada. É um sonho. Realizei todos os meus sonhos lá”, torce.
Para não precisar enfrentar mudanças inesperadas, por conta do cenário pandêmico, nem arriscar eventuais prejuízos, os peritos criminais Joicy Queiroz, 36, e Rafael Marinato, 39, decidiram se casar no jardim de casa, no Jardim Botânico. Após três anos juntos, eles disseram ‘sim’ em 10 de outubro, em uma cerimônia para 25 convidados. “Sempre gostamos da ideia de fazer um casamento mais intimista”, conta Joicy, relembrando que, ao verem o gazebo do jardim na primeira visita à casa, antes de morarem nela, chegaram a comentar que seria um bom lugar para uma festa de casamento.
Com a lista enxuta, o casal deixou de chamar pessoas especiais para a ocasião. “Queríamos ter feito a festa antes, em maio ou junho, mas não tinha clima. Mesmo quando fizemos, como até hoje ainda não estamos em um momento de tranquilidade, foi uma decisão muito difícil. Ficávamos sem graça e deixávamos as pessoas à vontade para rejeitar o convite. Foi em um ambiente totalmente aberto e durante o dia, para que as pessoas ocupassem todos os espaços da casa e ficassem o mais distante possível umas das outras”, justifica Joicy. “E o casamento superou todas as nossas expectativas. Nossa casa ganhou um novo significado, porque olhamos para os espaços e lembramos do dia”, completa a moradora do Jardim Botânico.
Novos ares
Com a pandemia, a escolha por locais abertos se tornou quase unanimidade entre os noivos, de acordo com Joyce Albuquerque, responsável pela A Casa da Joy, no Lago Norte, e cerimonialista, decoradora e juíza de paz. A empresária, de 33 anos, trabalha com casamentos desde 2009. “A grande alteração de perfil foi no local, 95% dos casamentos que eu fiz foram ao ar livre. É mais seguro, além de ser muito bonito e agradável. Tem funcionado”, observa. Sobre os demais cuidados, Joyce destaca o uso de máscaras e luvas, em áreas comuns, como bufê. “A maioria dos clientes adere ao álcool gel em miniatura e personalizado, entregue ao convidado na entrada”, acentua Joyce.
Ela conta que também fez casamentos em lugares até então desvalorizados. “O que mais me marcou foi em junho do ano passado, na casa do tio do noivo. Foi lindo e superaconchegante. Os noivos tinham programado a festa para 250 convidados. Eles optaram, porém, por antecipar o casamento no civil, porque queriam a presença da avó da noiva que, apesar de não ter ido, assistiu por live e recebeu um kit do casamento, com flores, minibolo e docinhos. Em agosto, ela faleceu”, emociona-se Joyce, acrescentando que também chegou a emprestar a própria casa para alguns clientes. “Eram casais que não tinham lugar para festa pequena. Mas quem tem casamento marcado para o ano que vem não cancelou, está esperando o momento certo, apesar de já ter realizado o desejo de se casar. Esse é o mais importante, que sonhos não sejam adiados”, completa.
Os servidores públicos William Farkatt, 48 anos, e Marcelo Moreira, 46, juntos há 26 anos. Desde 2008, eles têm o registro de união estável, mas o desejo de oficializar o relacionamento no registro civil era antigo. O grande dia estava marcado para 2 de março, quatro dias antes de o governador Ibaneis Rocha (MDB) decretar toque de recolher e reduzir o funcionamento de atividades no DF. A festa, que seria em um restaurante, para 50 pessoas, mudou para a casa dos noivos, na Asa Sul, com apenas 10 convidados.
“Foi um ensaio. Decidimos fazer na garagem de casa. A juíza de paz já estava marcada para o restaurante, apenas pedimos para mudar o local. Alguns amigos tinham vindo de outras cidades, então fizemos só com eles”, explica William. A cerimônia oficial ainda vai acontecer, em outubro, com redução no número de convidados, sem pista de dança e com uso de máscaras. A depender da situação da pandemia e da vacinação contra a covid-19 no DF, eles pensam em convidar mais pessoas, “se a segurança assim permitir”, ressalta William. “Ainda vai ser, com certeza, o casamento dos sonhos. É um momento que desejamos muito e há muito tempo”, completa.
Cachoeira
Houve quem aproveitasse a impossibilidade de eventos com muitas pessoas para realizar o desejo de um casamento intimista, apenas com a presença do oficializante. Rafaela Gouveia Silva e Juan Uriel Assunção Angelo, jovens de 28 anos e moradores do Gama, casaram-se em junho, na Chapada Imperial, cachoeira em Brazlândia, há cerca de 54km da Rodoviária do Plano Piloto.
“Não somos religiosos, e a ideia sempre foi realizar algo diferente, nunca imaginávamos ser dentro da igreja ou algo do tipo. Inicialmente, pensávamos que poderia ser ao ar livre, até que surgiu a ideia da cachoeira. Não teve convidados, somente nós e uma amiga, que celebrou o casamento, e, claro, a equipe técnica. Usamos máscaras e álcool gel”, conta a psicóloga casada com o profissional de tecnologia da informação. “Marcamos a cerimônia e precisamos de autorização do local, mas foi bem tranquilo. A gente acredita que o casamento entre os noivos é o suficiente, não precisava mais de ninguém, só nós dois”, completa Rafaela.
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Eventos liberados
Em 13 de maio, o governador Ibaneis Rocha (MDB) liberou a realização de eventos sociais como casamentos, festas de aniversário e batizados em espaços que exigem licença de funcionamento do governo local. As cerimônias devem ocorrer entre 11h e 23h e precisam seguir protocolos e medidas de segurança para evitar o contágio do novo coronavírus. Os espaços devem ser readequados com limite de ocupação de 50% de suas capacidades, sendo proibida a destinação de áreas para danças ou que permitam outras aglomerações.