Coronavírus

Covid-19: No ritmo atual, vacinação no DF pode levar mais 15 meses 

Levantamento considera a média de 120 mil vacinados por mês para imunizar toda a população acima de 18 anos em um ano e três meses. Até o momento, a capital federal recebeu 22 remessas de três marcas de imunizantes, totalizando 1.141.340 doses   

Cibele Moreira
postado em 19/05/2021 06:00
Para vacinar toda a população a partir de 18 anos até outubro deste ano, o Distrito Federal precisaria aplicar 330 mil doses por mês -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
Para vacinar toda a população a partir de 18 anos até outubro deste ano, o Distrito Federal precisaria aplicar 330 mil doses por mês - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Considerando o ritmo de vacinação observado em abril no Distrito Federal, com média de 120 mil pessoas imunizadas contra a covid-19 com a primeira dose da vacina, serão necessários 15 meses para vacinar toda a população a partir de 18 anos — estimada em 2.309.944 pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan). É o que aponta um levantamento feito pelo pesquisador e professor do Iesb Breno Adaid.

Considerando o mês de março — quando mais pessoas foram vacinadas (169.925) e mais vacinas recebidas pelo DF —, seriam 12 meses, aproximadamente, para imunizar o público estimado. Para vacinar todo mundo até outubro, é necessário aplicar 330 mil doses por mês. Na madrugada desta terça-feira (18/5), chegaram 77,1 mil doses da vacina de Oxford na capital.

Até o momento, o DF recebeu 22 remessas de imunizantes, totalizando 1.141.340 doses — 612.960 da CoronaVac, 508,4 mil da Oxford/AstraZeneca e 19.980 da Pfizer/Biontech. O quantitativo de cada envio varia. Segundo a Secretaria de Saúde, 24,48% dos brasilienses já foram vacinados. Até ontem, 565.556 pessoas receberam a primeira dose e 295.211 completaram o esquema vacinal. Atualmente, estão sendo vacinados idosos com 60 anos ou mais, profissionais da saúde, da segurança e a população com comorbidade com 30 anos ou mais. De acordo com a pasta, a ampliação de novos grupos prioritários e a inclusão da população geral dependem da liberação de novas doses pelo Ministério da Saúde.

Com a chegada da nova remessa, a Secretaria de Saúde irá iniciar a vacinação dos profissionais da educação. A expectativa é de começar, amanhã, a imunização de 10 mil professores que atuam em creches. A princípio, não será necessário o agendamento para esse grupo. Segundo a pasta, a vacinação ocorrerá em pontos próximos de onde os profissionais trabalham. Uma lista com o nome dos educadores servirá como base para a organização vacinal. No plano elaborado pela Secretaria de Educação, são esperados imunizar 80 mil professores da rede pública e privada.

Comorbidade

Desde o início de maio, pessoas com comorbidade estão sendo vacinadas contra a covid-19. Das 219.790 pessoas que compõem esse grupo, 69.830 foram imunizadas. De acordo com a Secretaria de Saúde, 190.825 pessoas com comorbidades entre 18 e 59 anos já se cadastraram no site vacina.saude.df.gov.br. Desse total, 103.344 — que estão na faixa etária entre 30 e 59 anos —, agendaram a aplicação do imunizante. Ontem, o agendamento foi suspenso após a lotação das vagas (veja Agendamento).

Pessoas com síndrome de Down, em terapia renal substitutiva e com imunossupressão podem agendar a vacinação a partir dos 18 anos. Gestantes e puérperas (mulheres que deram à luz recentemente) com comorbidades, e pessoas com deficiência inscritas no BPC, com idade entre 18 e 59 anos, não precisam fazer o agendamento.

O motorista Carlito Silva Júnior, 53 anos, comemorou após receber, ontem, a primeira dose do imunizante contra a covid-19. Com comorbidades, ele trabalha diariamente no transporte público do Distrito Federal e encara o momento como um alívio. “A gente não está tendo vida com essa pandemia. O tempo todo preocupado com quem entra no coletivo. Ninguém sabe quem está com o vírus ou não”, relata o morador de Ceilândia. “Trabalho há 21 anos como motorista, dez só em transporte público. Depois que iniciei com essa profissão tive diabete e hipertensão”, afirma. Carlito conta que teve covid em setembro do ano passado. “Graças a Deus não precisei ir ao hospital, só tive dor no corpo, febre e perda do paladar. Mas tivemos muitos colegas que pegaram a doença e morreram. Acredito que, com a vacina, isso poderia ser evitado”, pontua.

De acordo com o Sindicato dos Rodoviários, o DF conta com 12 mil trabalhadores da categoria, entre motoristas, cobradores e manutenção. Alguns desses profissionais receberam o imunizante pela idade ou por comorbidade, porém, ainda não há um levantamento em relação a esse quantitativo. A expectativa declarada pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) é de incluir a categoria no grupo prioritário após os profissionais da educação, com uma estimativa para vacinar em junho.

Agendamento

O Governo do Distrito Federal (GDF) suspendeu, ontem, o agendamento da vacinação contra a covid-19 de pessoas com comorbidades entre 30 e 49 anos. De acordo com a Secretaria de Saúde, as vagas disponibilizadas para a etapa foram preenchidas. Em um dia, 13.095 pessoas desta faixa etária agendaram atendimento, além de outras 11.971 com mais de 49 anos. A abertura de novas vagas depende do envio de novas doses de vacinas pelo Ministério da Saúde.

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Imunizante canadense será testado

Mais vacinas contra a covid-19 em desenvolvimento serão testadas no Distrito Federal. O Instituto de Pesquisas Clínicas L2iP abriu vagas para moradores da capital federal se cadastrarem e serem voluntários dos ensaios clínicos da vacina canadense desenvolvida pela Medicago, em parceria com o laboratório GSK. Para participar, é preciso ter 18 anos ou mais, morar no DF, não ter sido infectado pelo novo coronavírus, não ter se vacinado contra a covid com outros imunizantes e não ter doenças autoimunes ou fazer uso de corticoides. As inscrições podem ser feitas por meio do site l2ip.com.br e encerram-se no fim de junho. A intenção do instituto é recrutar 5 mil pessoas em todo o país.

A seleção dos inscritos começa na semana que vem. De acordo com o diretor do L2ip e investigador principal desse estudo, o médico Eduardo Freire Vasconcellos, a vacina canadense funciona em esquema de duas doses, com intervalo de 21 dias entre elas. O estudo será feito com metade dos pacientes recebendo a vacina, e, o restante, o placebo. “Nós e os pacientes não saberemos, no entanto, o que foi aplicado em cada um”, explica o médico.

O estudo deve durar de quatro a seis meses, e os pacientes serão acompanhados pela equipe por um ano. Freire explica que a vacina é experimental e não possui nenhum componente viral. “É uma vacina derivada de plantas, feita com um vetor de uma planta encontrada no norte da Austrália, derivada de tabaco, e combinada à proteínas com partículas semelhantes ao spike do Sars-Cov2”, explica.

Em agosto do ano passado, pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e do Hospital Universitário de Brasília(HUB) realizaram os testes da fase 3 da CoronaVac/Sinovac em 943 profissionais de saúde da capital federal. Em outubro, idosos também puderam se inscrever para participar dos testes.

Novos casos

Nas últimas 24 horas, o Distrito Federal registrou 592 novos casos e 21 mortes por covid-19. Com a atualização, o total chegou a 394.223 infecções confirmadas e 8.366 óbitos. De acordo com o boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde, a taxa de transmissão do vírus está em 0,97. A média móvel de mortes chegou a 26, valor 29% menor do que o registrado há duas semanas. Em comparação ao mesmo período, a mediana de casos, que está em 592, apresenta uma redução de 11,72%.

Das novas mortes notificadas, nove ocorreram ontem e sete pacientes possuíam algum tipo de comorbidade. Do total de óbitos registrados desde o início da crise sanitária, 704 eram de pessoas residentes em outras unidades da Federação, sendo 606 de Goiás.

Professores mortos pela covid

Roberto Neanes lecionava no CEF Caseb, na Asa Sul -  (crédito: Arquivo Pessoal)
crédito: Arquivo Pessoal

O Distrito Federal perdeu nesta semana dois educadores para a covid-19. Professor de matemática no CEF Caseb, na Asa Sul, Roberto Neanes Lima Caribé Pinho, 59 anos, faleceu no último domingo, por infecção generalizada causada pelo novo coronavírus. Ele foi sepultado ontem, no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul.

O Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF) divulgou nota de pesar. “Mais uma vítima da pandemia que matou mais de 8.300 brasilienses, ele ainda poderia estar entre nós caso o processo de imunização, que anda a passos lentos, o tivesse alcançado a tempo. Roberto tinha 59 anos. A perda de vidas tão valiosas causa indignação em toda a categoria”, diz a nota.

Também no domingo, faleceu a professora de história do Centro Educacional (CED) 14 de Ceilândia Jussara Ximenes de Oliveira, 47 anos. A madrasta, Maria das Graças do Santos, 63, contou que Jussara estava relatando muita falta de ar, mas não conseguiu chegar ao hospital a tempo de receber atendimento. “Ela recebeu o exame para covid-19 com resultado positivo um ou dois dias antes. O médico deu receituário com remédios e a mandou voltar para casa”, afirmou a moradora do Jardim Botânico. Jussara foi encontrada morta, por uma vizinha, no apartamento onde morava, em Taguatinga.

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