Para falar de temas como a baixa procura por vacinas contra a covid-19 e imunização de pessoas com comorbidades, o CB.Saúde — parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília — de ontem, recebeu a médica Joana D’arc Gonçalves, infectologista do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Em entrevista à jornalista Carmen Souza, ela destacou que comorbidades e gravidez não aumentam o risco de efeitos colaterais da vacina. “Não existe medicamento 100% seguro. Temos de vacinar com o que temos”, afirmou a especialista.
Dos 513 mil moradores do DF com doenças crônicas, 87 mil fizeram o cadastro para se vacinar. Em três dias, 16% dos idosos com 60 e 61 anos do DF tomaram a primeira dose. O que isso representa?
Quando você começa um processo de imunização em massa, sempre surgem alguns eventos adversos, o que é esperado. Quando você tem esse momento inicial e surge esse evento adverso, as pessoas acabam ficando assustadas. A gente tem um menu de diferentes tipos de imunizantes, alguns com eficácias diferentes, e as pessoas começam a querer escolher qual vacina tomar e acabam esquecendo que estamos em um momento crítico. As vacinas que se tem atualmente são suficientes para a gente sair desse momento crítico do país e tirar os pacientes graves dos hospitais. Cada vacina tem as suas características e pode levar a um evento adverso, mas as pessoas não podem escolher.
Qual a orientação que você pode deixar para as pessoas com comorbidades que ainda têm dúvidas sobre a vacinação?
A gente tem que lembrar que o Programa Nacional de Imunização (PNI) diz o que é pautado para diminuir morbidade e mortalidade em pessoas de doenças imunopreveníveis. É um grupo mais vulnerável, porque quem tem uma doença tem um risco maior de complicar (o quadro de saúde). A gente viu que, no início (da pandemia), eram os idosos os mais afetados. Depois, vimos as comorbidades associadas, como obesidade, diabetes e cardiopatias. Para cada tipo de patologia, tem uma reação. Um imunossuprimido, por exemplo, para desenvolver anticorpos protetores com relação à vacina, têm que ter imunidade. Se a sua imunidade está muito baixa, talvez você precise de mais doses para chegar em uma eficácia da vacina. Essas comorbidades devem ser avaliadas para saber qual grupo vai receber determinadas vacinas.
Há relatos de pessoas indo aos postos e rejeitando algumas vacinas por opção. Essa é uma boa estratégia?
De jeito nenhum. A vacina AstraZeneca é bastante segura, e os problemas que a gente teve com ela foram pontuais, com relação à trombose, foram em populações diferentes, em mulheres em uma faixa etária determinada, muito pontual. E tivemos vários problemas com outras vacinas, que são bem mais caras e não foram demonizadas. Quando você toma uma vacina da Pfizer ou da Moderna, você tem reações muito mais acentuadas do que em relação à AstraZeneca, por exemplo. Temos que vacinar com o que temos. Os eventos que evidenciamos no Brasil, que a Anvisa lançou recentemente, estão mais associados a ter uma sonolência e uma dor local e, em alguns casos, um quadro de diarreia. Eventos graves não temos registro. Devemos confiar nesses produtos para nós vacinarmos e sairmos dessa situação.
Quais os riscos de não se vacinar?
É uma oportunidade única. Tem muita gente querendo se vacinar, e algumas pessoas não comparecendo, é ruim para quem não se imuniza. Temos uma perspectiva de uma terceira onda, estamos neste período de inverno, temos outras doenças virais que podem se sobrepor à covid-19. Então, a pessoa que não se imunizar perde uma chance única de minimizar os danos e de não ter o risco de sofrer com a doença. Quem fica doente ou perde um familiar não deixa de se vacinar. A maioria da população não passou por essa situação. Não espere por esse momento.
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