Crônica da Cidade

A amarelinha dos nossos filhos

As brincadeiras de criança evoluem ao longo do tempo. Muitas até reeditam clássicos do passado. A gente tenta, assim como nossos pais tentaram, ensinar aos filhos algo que nos divertia muito quando éramos do tamanho deles. Com os bebês e os menorzinhos, quase sempre dá certo. Passada a primeira década de vida, porém, a tarefa se torna cada vez mais árdua. A competição com a tevê e os games virtuais certamente dificulta o processo.

Brincar de boneca era o meu passatempo favorito na infância. Desenhar, pular corda, fazer castelos de areia, barraca embaixo da mesa da sala, faz de conta que era professora, vestir as roupas da minha mãe e fingir que saía para trabalhar, montar quebra-cabeça, pique-esconde. Tudo isso fazia parte também da lista de preferências.

Alice, com menos de 2 anos, já aprendeu algumas dessas formas de se divertir sem estar à frente de uma tela. Adora brincar na areia e montar as próprias construções para, em seguida, destruí-las e começar tudo de novo. Com giz de cera nas mãos, extasia-se diante das possibilidades de cada cor e das formas que ainda não consegue dominar totalmente ao riscar o papel. Qualquer rabisco pode ser um coração, uma nuvem ou até mesmo um passarinho. Também aprendeu a calçar meus sapatos, colocar uma sacola embaixo do braço e dar “tchau”, anunciando a intenção de deixar o cômodo.

Mas tem aqueles hábitos que são dela e ninguém tira. Desde que conheceu a música e os clipes que acompanham cada canção, esforça-se para aprender as coreografias e imita os passos de dança mais elaborados à própria maneira. Sabe pedir as melodias que quer (até aqui ainda controladas pelo gosto musical do pai e da mãe). O repertório inclui até uma apresentação do Grupo Corpo, com direito a passinhos agilizados ao som da zabumba e da rabeca nordestina.

A piscina também é hors concours. Não há cansaço que a impeça de dar uns bons mergulhos. Com uma canhota potente, também adora jogar bola — uma das primeiras palavras que começou a falar. E, agora, aprendeu a usar o velotrol empurrando os pés contra o chão e sai numa velocidade conduzindo o carrinho pela casa que me lembra a abertura do Fantástico Mundo de Bobby, animação da década de 1990.

Impossível saber durante quanto tempo essas brincadeiras ainda a farão sorrir e gargalhar até perder o fôlego. Muito menos se ela continuará curtindo todas as que nós, papais, nos achando gênios do século, ensinarmos e inventarmos para entretê-la. Mas é certo que viver no “Fantástico Mundo de Alice” é um privilégio impagável.