O excesso de cães e gatos abandonados nas ruas é uma realidade cada vez mais presente no Distrito Federal e fez com que surgissem verdadeiros guardiões dos pets, que abraçaram a causa animal e lutam pelos direitos desses bichos. A professora Kika Danna, 46 anos, se divide entre a rotina das aulas da escola e o trabalho voluntário. Protetora há sete anos, ela começou a se interessar pela proteção dos animais depois de perder dois pets de estimação. “Eles morreram de velhinhos, e eu tentei canalizar a tristeza e o luto para apoiar a causa animal. Iniciei o trabalho fazendo resgates”.
Moradora de uma região próxima ao Paranoá, ela destaca que hoje já “tem um protocolo de resgate de um animal, sei entender melhor um comportamento advindo de abandono, de maus-tratos, e sei preparar esse pet para uma adoção”, diz. A vontade de ajudar vem desde criança. “O voluntariado na minha vida sempre foi muito forte”. Kika conta com a ajuda da companheira, Cris. “Ao mesmo tempo, ela é o freio de mão. Existe uma linha muito tênue entre o protetor e o acumulador de animais. O protetor é aquele que não perde a própria qualidade de vida, em função desse trabalho voluntariado, e que também não perde de vista a qualidade de vida do próprio animal. Quando isso se perde, a pessoa se transformou em um acumulador”, explica.
Amor, amizade e pets
A bailarina e professora de dança Regina Corvello, 56, sempre gostou de animais. Mas, em 2020, esse amor se transformou em um projeto de vida. Em dezembro do ano passado, Regina ficou sensibilizada pela situação do cãozinho Ravi, que foi atropelado e precisava de ajuda. “Ele não andava e estava se arrastando. E isso me comoveu muito”, relembra.
Conhecendo mais a fundo a atuação do projeto de resgate animal SOS Pets Valparaíso — que foi fundado em 2018, a bailarina decidiu se tornar uma protetora. “Vi que é um grupo sério e comecei a atuar. Eles me convidaram para fazer parte da organização e estou aqui. Muito feliz”, diz.
O trabalho começa desde a busca de um bicho vítima de maus-tratos ou prestes a ser atropelado perambulando pelas ruas até traçar estratégias de arrecadação de doação e parceria com outros voluntários. “São vários casos de resgate. Tem dias que são três, quatro. E não tem horário. Estamos sempre nos mobilizando para poder resgatar os animais”, relata. Muitas vezes, é difícil segurar a emoção. “Tem horas que a gente chora. É cada caso terrível, mas é muito gratificante quando vê o animalzinho curado e depois vai para adoção. O Ravi mesmo já está andando”, ressalta.
Regina mora no Sudoeste com o marido, dois filhos, um cachorro e um gato. A família toda apoia o trabalho voluntário como resgatadora de animais e se envolve na causa. “Aqui todo mundo gosta. Até mesmo minha mãe, que tem 82 anos, ajuda”, conta.
Atuando no resgate dos bichos, a bailarina conheceu uma pessoa com quem pode trocar experiências, dividir angústias e lutar em prol dos bichos. Apresentadas por meio de um amigo em comum, Regina Corvello e Kátia Marsicano, 57, começaram a focar no alcance de doações para ajudar os animais.
Segundo Kátia, a solidariedade aproxima as pessoas envolvidas. “Sabemos como é essa realidade, do significado, da intensidade, das dificuldades, e tudo isso acaba nos aproximando. As nossas amizades se consolidam em torno da causa”, explica.
Kátia participa do projeto Linda, que tem foco no resgate e controle populacional de felinos. Desde o começo da pandemia, a voluntária tem se dedicado ao trabalho de forma remota. “As minhas atividades da proteção ficaram mais suspensas nesse período. Tudo que fiz, nesse último ano, foi contando com o apoio de quem está podendo ir para a rua”, diz.
Atualmente, a voluntária se mudou para uma casa no Lago Norte com o marido, onde mora com quatro cachorros e onze gatinhos. Ela destaca um ponto negativo do trabalho. “É uma vida meio de instabilidades emocionais, porque é muito triste ver tanta notícia ruim envolvendo bicho e animais sendo maltratados. E quando a gente trabalha com proteção animal, isso parece que dói mais ainda na gente”, lamenta.
O mundo da adoção
A servidora pública aposentada Ruth Maria da Silva Moura, 68, se encantou pelo mundo da adoção. Ela sempre teve cachorros em casa, mas nenhum era vindo de resgate. Depois de perder uma cadelinha da raça doberman, Ruth, então, abriu o olhar para os cachorros abandonados. “Comecei a perceber que tem muita gente que faz fábrica com os animais. Isso me incomodou bastante”, diz.
Em março, ela se apaixonou pelos irmãos Simba e Bartô, sem raça definida, que viviam em lar temporário de protetores. “Achei ótimo, porque eles são irmãos e são maravilhosos. Estão até aprendendo os comandos que eu dou, são supercarinhosos e muito inteligentes. Para mim, não faz diferença nenhuma. Estou também aprendendo a cuidar de cães abandonados”, conta.
O que diz a lei
Se entendido como maus-tratos, o abandono de animais incorre em crime, previsto na Lei n; 9.605/1998. Quem pratica abuso, maus-tratos, fere ou mutila animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos, cumpre pena de três meses a um ano de reclusão, além de pagamento de multa.