Coronavírus

Com chegada de novo lote de vacinas, GDF pretende vacinar 43,1 mil idosos

Governador Ibaneis Rocha afirmou, ontem, que o DF deve receber nova remessa do Ministério da Saúde, com 72,8 mil unidades de imunizantes. Desse total, 43,1 mil serão para o novo grupo etário. Ainda não há data para início da aplicação das doses

A campanha de vacinação contra a covid-19 será ampliada para mais faixas etárias no Distrito Federal. O governador Ibaneis Rocha (MDB) afirmou, na quarta-feira (14/4), que o Ministério da Saúde entregará 72,8 mil doses de imunizantes para a capital do país. Com a chegada da nova remessa, idosos com 64 e 65 anos serão incluídos como novo público-alvo da campanha. Enquanto isso, o Executivo local articula, por meio de consórcio interestadual, a compra de 28 milhões de doses da Sputnik V. No entanto, o imunizante ainda não recebeu aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A remessa que deve chegar ao DF nesta semana inclui doses da CoronaVac e da Covishield. Do total, 23,5 mil serão para a segunda dose; 20 mil para a população com 64 anos; 19 mil para pessoas com 65; 2,2 mil destinadas aos servidores da segurança pública; 4,1 mil à reserva técnica; e 3,9 mil aos profissionais de saúde da rede privada — que devem aguardar a abertura do agendamento on-line. Essa categoria contará, ainda, com 508 unidades extras, que sobraram da etapa passada, para suprir eventuais perdas.

Interlocutores da Secretaria de Saúde esperam que a nova fase comece, no máximo, um dia depois do recebimento das doses, previstas para chegar na sexta-feira. Mas, independentemente da data de início, a vacinação dos idosos com mais de 66 anos continua, nos postos de saúde e pontos drive-thru. Já os profissionais da segurança pública seguem com pontos específicos para aplicação dos imunizantes, divididos de acordo com cada categoria profissional.

ANDREAS SOLARO - This file photo taken on March 29, 2021 shows the Russian Sputnik V Covid-19 vaccine, during a vaccination campaign at the State Hospital in Cailungo, San Marino. Germany's Bavaria region has signed a previsional agreement to buy doses of Russia's Sputnik V coronavirus vaccine once it is approved by European regulators, state premier Markus Soeder said on April 7, 2021. The southern state has "signed a memorandum of understanding today... for the supply of Sputnik," Soeder told reporters in Munich. / AFP / Andreas SOLARO

Negociação

Na tentativa de avançar a campanha de vacinação contra a covid-19 no país, o Consórcio Interestadual de Desenvolvimento do Brasil Central (BrC), liderado por Ibaneis Rocha, negocia diretamente com o Fundo Soberano Russo (FSB) a compra de doses da vacina Sputnik V; além disso, o DF conta com uma fábrica para produção do imunizante. Contudo, o processo esbarra na falta de liberação da Anvisa. Os integrantes do grupo — formado pelos governos do DF, Maranhão, Tocantins, de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia — assinaram, ontem, uma carta manifestando intenção de compra. “Por enquanto, não tivemos qualquer empecilho nas negociações”, disse Ibaneis ao Correio.

Na segunda-feira (12/4), a agência informou por meio de nota que adiou a data de inspeção nas duas fábricas do imunizante, na Rússia. Um dia depois, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que, se a autarquia não deliberar sobre a importação em caráter excepcional e temporário das doses até 28 de abril, o governo do Maranhão poderá fazê-lo. A determinação pode abrir precedente para que outras unidades da Federação consigam autorização.

Secretaria descarta chance de abandono vacinal

Enquanto o Executivo local aguarda o envio de mais doses de vacinas contra o coronavírus pelo Ministério da Saúde ou a liberação do uso da Sputnik V, a Secretaria de Saúde descarta a possibilidade de abandono vacinal. A pasta afirma que o público que precisa tomar a segunda dose está em dia com o atendimento. “Se for considerado o quantitativo de D1 (primeira dose) aplicado até o momento, de 329.639, e se forem somadas as 104.303 doses aplicadas de D2 (segunda dose), com as 228.100 que serão aplicadas a partir do fim de abril, teremos 332.403 pessoas que receberam as duas. Os 2.764 de diferença entre esse cálculo pode considerar as pessoas de outros estados que tomaram apenas o reforço no DF”, explica a secretaria.

Para o professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB) Mauro Sanchez, investir em rastreamento e comunicação permitirá evitar o abandono vacinal. “O GDF (Governo do Distrito Federal) precisa investir em uma campanha de comunicação com a população, para as pessoas saberem da importância de tomar as duas doses. Também (é necessário) ter estratégia para rastrear as pessoas que, por acaso, não apareçam dentro do prazo”, diz. “É melhor se vacinar mais tarde do que não se vacinar, mas o ideal é cumprir o protocolo”, ressalta. Ele acrescenta que a velocidade da campanha está lenta tanto no DF quanto no restante do país.

A manhã de quarta-feira (14/4) ficou marcada por demora em alguns pontos de vacinação contra a covid-19 visitados pela reportagem. A maior parte do público era de idosos que aguardavam atendimento para receber a segunda dose dos imunizantes. Alguns levaram cadeiras e guarda-chuvas para esperar. Na Unidade Básica de Saúde (UBS) nº 22 de Samambaia Norte, a fila dava volta no posto, por volta das 9h. Em Planaltina, no Jardim de Infância Casa de Vivência, a situação era parecida, com uma população que compareceu para receber o reforço.

Questionada sobre o problema, a Secretaria de Saúde informou que a formação de filas em alguns momentos de vacinação ocorre, principalmente, “em virtude da ansiedade dos públicos contemplados para finalmente serem vacinados”. No entanto, a pasta reconheceu que, dado o prazo de retorno para aplicação do reforço nos grupos contemplados, é possível que ocorra aumento pontual na procura pelas UBSs.

A secretaria ressaltou que seguirá o trabalho para atender a todos os idosos e demais grupos contemplados pela vacinação, de acordo com a capacidade de cada unidade de saúde. Até o momento, 335 mil pessoas haviam sido vacinadas no Distrito Federal, sendo que 115 mil delas receberam a segunda dose. Na quarta-feira (14/4), 2.493 pessoas tomaram o imunizante pela primeira vez, e 6.788, o reforço.

Três perguntas para

Como surgem as variantes de vírus e, especificamente, da covid-19? Há uma forma de impedir isso?
Em janeiro de 2020, foi sequenciado o primeiro genoma do Sars-CoV-2, o causador da covid-19. Qualquer vírus que surgir a partir daquele ponto e que tenha alguma diferença mínima genética, alguma mutação, é chamado de variante. Quando ela entra no nosso corpo, tem objetivo de fazer cópias de si mesma. Esse é um processo extremamente rápido e passível de erros. Então, as cópias não são idênticas, e os erros, incorporados ao vírus e passados adiante. É uma grande loteria. Para impedir que as mutações surjam, temos de impedir que o vírus seja transmitido e chegue a mais pessoas, porque, quanto mais gente ele infecta, mais chances damos para que ele acumule novas mutações.

Qual a cepa da covid-19 mais preocupante?
Uma variante mais transmissível preocupa porque ela pode levar a mais casos e mortes. Hoje, existem várias aparecendo, em diversas regiões do mundo. E, nessas áreas, é feito o sequenciamento genético. Quanto mais disso você faz, mais identifica variantes. Essa é a grande vantagem de fazer um monitoramento amplo. Podemos identificar o vírus mais rapidamente. Existem, ao menos, cinco variantes com capacidade de transmissão um pouco mais elevada. Mas existem algumas surgindo em certas regiões onde o sequenciamento não é feito em níveis adequados. Então, nem sabemos que elas existem.

Anderson F. Brito, virologista da Yale School of Medicine, nos Estados Unidos

Como as variantes podem comprometer a vacinação?
O coronavírus evolui de maneira rápida, e algumas mutações podem alterar proteínas que o vírus usa para nos infectar. Algumas delas são reconhecidas por nossos anticorpos, mas, se o vírus sofre alterações nessas regiões específicas, nosso sistema tem mais dificuldade para reconhecer aquele invasor. Uma vacina serve para treinar o organismo a identificar o invasor. Mas, à medida que o vírus acumula mais mutações, ele vai ficando mais diferente, ao ponto que nosso corpo fica sem preparo para identificar a nova versão. Alguns estudos mostram que a B 1.3.5 e a P1 (variantes da África do Sul e de Manaus, respectivamente) tendem a ser menos reconhecidas por alguns anticorpos. Porém, as vacinas que temos no mercado, até então, têm se mostrado eficientes na produção de anticorpos e células que reconhecem o vírus, ajudando a evitar casos graves da doença.