Na manhã desta quarta-feira (14/4), Lecino Ferreira da Silva Filho, 63 anos, ficou dentro de uma ambulância em movimento, "de um lado para o outro", sem destino, por cerca de 30 minutos.
A filha de Lecino, Ana Clara Adami, relata que o pai tem enfisema pulmonar há cinco anos e sentiu falta de ar no domingo (11/4). "Domingo, trouxe meu pai para a UPA de Sobradinho 2, de ambulância, onde foi internado na área de covid-19. Ele fez alguns exames pulmonares e o teste para a doença, que acabou dando negativo, com resultado ontem de manhã."
O homem foi, então, transferido para um quarto individual. Na noite dessa terça (13/4), avisaram a filha que ele seria encaminhado para o Hospital Regional de Samambaia (HRSam). Por volta de 7h da manhã desta quarta (14/4), a ambulância transportando Lecino saiu da UPA.
"Chegando lá, o hospital falou que o atendimento era só para pacientes com covid-19 e pediu para retornar com ele para a UPA. O pessoal do hospital ligou para a UPA e explicou a situação. Meu pai nem chegou a descer da ambulância", conta Ana Clara.
No caminho de volta, passando por Taguatinga, a unidade de pronto atendimento entrou em contato com a ambulância, pedindo que retornasse ao HRSam. "Disseram que não iam recebê-lo de novo. Ficamos rodando de um lado para o outro. Meu pai começou a ficar nervoso e a oxigenação dele baixou para 81. O aceitável é até 90. A ambulância então encostou o carro no meio de Taguatinga e ficamos parados lá. O motorista da ambulância não tinha o que fazer", denuncia a moça.
Eles ainda esperaram uma decisão das unidades de saúde por cerca de 30 minutos. Receberam, então, a determinação de retornar à UPA de Sobradinho 2. "Quando chegamos de volta, ninguém nos recebeu. Ficamos na porta ainda uns 20 minutos parados dentro da ambulância. Não estavam nem sabendo do retorno dele. Eu e um dos enfermeiros da ambulância tivemos que procurar alguém para recebê-lo."
Os profissionais da UPA queriam encaminhar Lecino para uma área de pacientes com covid-19, segundo Ana Clara. Após resistência da filha, porém, o homem foi transferido para uma área para pacientes sem a doença. "Nisso, ele fez outro teste de covid-19, que ainda não saiu resultado, para ver se contraiu a doença nesses dias em que ficou na ala de covid."
No quarto, já no final desta manhã (14/4), Lecino ficou aguardando atendimento por duas horas, para verificação de exames e encaminhamento de tratamentos. "Vieram só medir a saturação dele. Ainda estamos esperando para saber o que pode ser feito", completou Ana Clara.
Procurada, a Secretaria de Saúde informou que o Hospital Regional de Samambaia (HRSam) "é referência para o tratamento de pacientes acometidos pela covid-19. Todos que são atendidos ou internados naquela unidade possuem suspeita ou confirmação para o novo coronavírus."
Ainda segundo a pasta, o paciente foi encaminhado da Upa de Sobradinho para o HRSam e, como já havia resultado de exame PCR negativo e tomografia computadorizada não sugestiva para covid-19, foi solicitado à Regulação que ele voltasse à Upa para ocupar um leito não covid.
A pasta ressaltou que as unidades que atendem apenas pacientes covid-19 possuem um alto risco de contaminação, por isso, a orientação é que, após resultado negativo, o paciente seja encaminhado para uma unidade que possua o leito e tratamento adequado ao seu quadro clínico