Poucos dias antes de morrer, Tatiane Pereira da Silva, 41 anos, registrou boletim de ocorrência por violência doméstica contra o companheiro, Manoel Paulo Severino, 35, na 6° Delegacia de Polícia (Paranoá). A mulher relatou que sofria agressões há, pelo menos, um ano e solicitou medidas protetivas. A vítima morreu nesta segunda-feira (12/4), em decorrência de uma hemorragia interna, após ficar internada no Hospital Regional de Planaltina.
Na madrugada de sexta-feira (9/4), Tatiane e o marido foram até um bar próximo à casa onde moravam, na DF-250, no Núcleo Rural 06, na Chácara São Francisco, no Paranoá, segundo a investigação. O casal ficou por pouco tempo no local e, em seguida, retornou ao imóvel. Em depoimento na delegacia, a vítima afirmou que as agressões começaram depois que companheiro decidiu retornar ao estabelecimento, mas ela teria negado o convite. Nervoso, o homem bateu na mulher com um facão, mordeu o braço dela e chegou a pisar no corpo de Tatiane.
Vizinhos e o dono do bar tentaram impedir a violência. Na tarde de sexta-feira (9/4), Tatiane registrou o boletim de ocorrência e relatou o ocorrido, passou por exame de corpo delito e teve o pedido de medida protetiva atendido. Depois disso, a mulher procurou o Hospital Regional do Paranoá com náuseas e vômitos. Ela foi liberada pela equipe médica, mas retornou no sábado (10/4) queixando-se de fortes dores abdominais, mas foi orientada a voltar para casa, segundo relato de familiares.
Ao Correio, Andreia Ferreira, 40, prima de Tatiane, contou que, entre a noite de domingo (11/4) e a manhã de segunda-feira (12/4), a vítima urinava sangue e estava sem conseguir andar. "Ela foi até o Hospital de Planaltina, até que conseguiu ser internada, mas já era tarde demais. Minha prima morreu", contou. "Ela procurou atendimento do Paranoá e mandaram ela voltar, pois a suspeita seria que ela estava com dengue. Depois, conseguiu ser internada e teve uma parada cardíaca. Entendemos que ela veio a falecer em decorrência das lesões sofridas e, por isso, o crime é tratado como feminicídio", explicou o delegado-chefe da 6° DP, Ricardo Viana.
Tatiane deixa um filho de 3 anos, fruto do relacionamento do casal. Ela será sepultada às 17h, no Cemitério Campo da Esperança de Taguatinga. O autor foi preso na madrugada dessa terça-feira (13/4), pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).
Questionada pela reportagem, a Secretaria de Saúde (SES) informou que a paciente procurou o Hospital da Região Leste na quinta-feira, apresentando quadro de febre, náuseas, cefaleia e mialgia. Disse que a mulher tinha os sinais vitais estáveis e foi encaminhada à unidade básica de saúde (UBS) da região. De acordo com a pasta, Tatiane retornou ao HRL no domingo, com relato de astenia (perda ou diminuição da força física) e dispneia (dificuldade de respirar caracterizada por respiração rápida e curta, geralmente associada a doença cardíaca ou pulmonar), sinais vitais estáveis e foi classificada como gravidade nível amarelo.
Segundo a Saúde, a paciente só relatou as agressões na segunda-feira, quando procurou o Hospital Regional de Planaltina (HRPL), apresentando os mesmos sintomas. “A pasta esclarece que a paciente teve toda assistência necessária nas duas unidades e lamenta o óbito, que ocorreu apesar do atendimento prestado pelas equipes médicas das unidades da rede pública”, finalizou.