Pandemia

Covid-19: familiares dizem que paciente foi intubado sem sedativo em Hospital de Campanha de Santa Maria

Leison Wander de Almeida está internado no hospital desde 31 de março. Mas apenas na sexta-feira (9/4) a família descobriu que ele precisou ser intubado e amarrado em uma cama, pois não há sedativos no regional

Na manhã deste sábado (10/4) um grupo de amigos e familiares se reuniu em frente ao Hospital de Campanha de Santa Maria para pedir ajuda para Leison Wander de Almeida, 45 anos, morador de Águas Claras. Segundo a família, Leison está internado devido às complicações causadas pelo novo coronavírus. Na última sexta (9/4), Leison foi entubado, mas os familiares disseram que, pela falta de sedativos no hospital, Leison foi amarrado ao leito para permitir o procedimento.

Segundo o relato da família, Leison está internado no hospital de campanha desde 31 de março. No entanto, na sexta-feira, Meiriel Marques da Silva, 43, esposa de Leison, contou que não recebeu o boletim informativo do hospital a respeito do quadro do marido.

Preocupados, um integrante da família foi visitar Leison no hospital. Ao chegar no regional, a familiar descobriu que ele estava entubado e, segundo afirma, sem sedativo e amarrado ao leito. Meiriel também contou para a equipe do Correio que a unidade sequer dispõe de medicamentos. “Aqui não tem nem dipirona”, disse a esposa.

Os familiares carregaram cartazes na frente do hospital pedindo ajuda. Mas apesar da ação, não conseguiram permissão para entrar na unidade e verificar como estava o paciente.

O outro lado

A equipe do Correio entrou em contato com a Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) que informou que a responsável por administrar o Hospital de Campanha de Santa Maria é a Associação Saúde em Movimento (ASM). Segundo a ASM, “o paciente deu entrada no hospital no dia 31 de março com quadro grave de covid-19, recebendo todo tratamento especializado a partir de sua necessidade”.

A nota explicou que “a contenção no leito é artifício previsto pela resolução do COFEN 427/2012, quando se entende necessário pela equipe médica multidisciplinar. Um dos casos que pode ser feita esta contenção é quando a equipe médica está fazendo a retirada da sedação e o paciente quando está acordando fica muito agitado, podendo tirar o respirador e se machucar, logo, tal prática é para garantir a segurança e saúde do paciente”, declaram.

Já em relação a questão dos insumos, a ASM disse que os hospitais estão tendo dificuldade para providenciar as medicações necessárias de intubação, principalmente as drogas para sedação, analgesia e bloqueadores musculares, devido a grande demanda que o mercado está tendo pela alta quantidade de pedidos para utilização. “Contudo, todos os hospitais da ASM estão se desdobrando para manter o fornecimento dessas medicações para todos os seus pacientes, bem como a equipe médica em conjunto com a farmácia tem se desdobrado para que não haja a falta de nenhum insumo a ser utilizado na UTI, fazendo diariamente um plano específico de sedação e analgesia para atendê-los, além de compartilhar as informações com seus respectivos hospitais para um ir suprindo o outro”, afirmam.

A ASM também disse que todas “as informações sobre o quadro dos pacientes de COVID-19 instalados na UTI do HSM são disponibilizadas diariamente via ligação para os familiares, que contam ainda com acompanhamento psicológico necessário nesse momento tão difícil”, finalizou.

 

Arquivo Pessoal - familiares denunciam falta de medicamento em hospital regional de Santa Maria
Arquivo Pessoal - familiares denunciam falta de medicamento em hospital regional de Santa Maria
Arquivo Pessoal - familiares denunciam falta de medicamento em hospital regional de Santa Maria
Arquivo Pessoal - familiares denunciam falta de medicamento em hospital regional de Santa Maria
Arquivo Pessoal - familiares denunciam falta de medicamento em hospital regional de Santa Maria

 

Pronunciamento médico

Devido a repercussão do caso, Carlos Eduardo Gracindo de Oliveira, médico intensivista e responsável técnico do Hospital de Campanha de Santa Maria, disse que a demanda dos insumos tem sido um desafio para as instituições particulares e públicas e explicou o processo de contenção de pacientes em leitos de hospitais.

“A contenção do leito é uma ferramenta prevista no Conselho Federal de Medicina e pode ser usado em condições que nós entendemos que seja necessário para manter a segurança no paciente, por exemplo, se o paciente estiver mais superficial, não tiver o risco de tirar um tubo, um acesso venoso e colocar em risco a sua vida”, disse Carlos.