A disputa entre criminosos do Guará 1 e 2 por pontos de venda de drogas fez, ao menos, seis vítimas desde o final de 2019 até o começo deste ano. Os homicídios são resultado de uma guerra entre gangues dos dois bairros, que matam, a sangue frio, aqueles que ousam vender entorpecentes em área proibida por eles. Há um ano, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) identificou as quadrilhas e deu início a um trabalho de investigação intensa. Em março, nove pessoas foram presas no âmbito da Operação Trem Bala, entre elas, o “chefe” do Guará 2, Janderkleyton Pereira de Souza, 30 anos, mais conhecido como Taynan. O homem foi solto, mas acabou detido por homicídio.
Taynan é o cabeça do grupo e o responsável por mandar matar, ao menos, seis pessoas na região. O Correio apurou que ele e mais seis pessoas da família integram uma rede de tráfico de drogas. O criminoso — que está preso por envolvimento em um homicídio — e os parentes moram em barracos no fundo de um lava-jato no Guará 2, do qual ele era proprietário, mas alugou o estabelecimento a outro parente.
O esquema de tráfico ocorria dentro desses barracos. Era lá que a mãe de Taynan recebia as drogas e dividia para os encarregados em vender os entorpecentes aos usuários. Temido na região, Janderkleyton angariava jovens, com idades entre 16 e 23 anos, para se associarem ao tráfico e, como pagamento, ganhavam drogas ou um pequeno “salário”. Encarregado fiel, Josenilson Silva do Amarante, conhecido como “Demônio”, era braço direito de Taynan, mas foi preso na quinta-feira por cometer um homicídio em junho do ano passado, a mando de Janderkleyton (veja Tragédias). Em um vídeo, Josenilson aparece mostrando arma de fogo (veja o vídeo abaixo).
Após três meses de investigação, em 12 de março, a 4ª Delegacia de Polícia, sob a coordenação dos delegados Anderson Espíndola e Guilherme Sousa Melo, prendeu seis homens e três mulheres em uma megaoperação contra o tráfico de drogas. Entre os detidos, estão Janderkleyton e três familiares. As prisões ocorreram na BR-060, próximo à cidade de Alexânia (GO); uma no SOF Sul, próximo ao Park Shopping; na QE 40 do Guará 2; e na invasão próxima ao Hospital Ana Nery, em Taguatinga. Dos nove presos, sete foram soltos em audiência de custódia, incluindo Janderkleyton. A polícia continua as investigações para apurar se o grupo trazia cocaína e crack da Bolívia.
A sangue frio
Janderkleyton é investigado por seis homicídios e duas tentativas entre 2019 e 2021. Um deles foi o assassinato do sucateiro Aldo Bezerra Neto e do amigo, José Ailton Soares, em novembro do ano passado. À época, o caso teve grande repercussão no DF. Os dois foram mortos em frente a uma chácara, na Quadra 4, Conjunto 6, no Park Way.
O carro de Aldo, uma Hilux branca, foi encontrado estacionado em frente ao portão de uma residência. O morador da casa, o empresário Douglas Pereira, 35, contou ao Correio na época que, no momento do crime, estava trabalhando na Asa Norte, quando recebeu a ligação da mulher pela manhã, relatando ter escutado tiros em frente à residência.
Aldo estava caído de bruços em frente à chácara. Segundo as investigações, ele foi colocado de joelho e, em seguida, executado. O amigo dele foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
Em novembro de 2019, Janderkleyton teria mandado assassinar Jonathan Dalmo Macedo dos Santos. O homem foi morto a tiros, na QR 319 de Samambaia, por um dos encarregados. Em junho de 2020, um adolescente de 17 anos morreu próximo à linha de trem do Guará 2, uma das áreas dominadas pelo criminoso. O responsável pelo homicídio foi Josenilson Silva, braço direito de Janderkleyton. Antonio Hygor Araújo levou diversos tiros, e a motivação do crime teria sido uma disputa por ponto de tráfico de drogas.
Neste ano, em janeiro, segundo a polícia, Janderkleyton encomendou a morte de César Lacerda Junior. O rapaz levou diversas facadas, no Conjunto M da QE 40. Poucos dias antes, outro homem, identificado como Thiago Teixeira de Oliveira, foi assassinado à luz do dia por Josenilson Silva, próximo a uma distribuidora do Polo de Modas. O criminoso e outro rapaz chegaram em um Jetta e efetuaram diversos disparos contra a vítima.
Na quinta-feira, a 4ª DP prendeu Josenilson pelo assassinato do adolescente Antonio Hygor. Ele estava foragido e foi detido jogando dominó, na QR 413, Conjunto 12. Já o “chefe” dele, apesar de ter sido liberado em audiência de custódia após ser preso por tráfico de drogas no começo de março, foi novamente preso na terça-feira pelo homicídio do adolescente.
Barbárie
A rivalidade entre os criminosos do Guará 1 e 2 começou há, pelo menos, um ano, segundo a PCDF. No Guará 1, o chefe do bando é Carlos Alberto Lacerda, o “Mancha”, foragido da Justiça por mandar matar e esquartejar um homem de 35 anos no Guará, em junho passado. Anderson Rocha Alves foi torturado, queimado e teve as partes do corpo jogadas em uma estação de tratamento de esgoto da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), na Avenida das Nações. Segundo as investigações, a vítima teria entregado dinheiro falso para comprar drogas, e o assassinato teria servido para dar “exemplo” aos demais.
“Estamos falando de duas gangues de bairros distintos, que disputam o ponto de tráfico de drogas no Guará. São jovens, com idades entre 16 e 23 anos, que entram para o mundo do crime pelo dinheiro fácil. A sociedade sofre com isso. Por exemplo, uma briga entre traficantes com troca de tiros pode vir a balear um inocente. O usuário de drogas comete pequenos furtos e até roubos para conseguir o dinheiro para alimentar o vício. Continuamos nossas investigações para impedir o crescimento desses grupos e prendê-los”, frisou o delegado-chefe da 4ª DP, Anderson Espíndola.
O titular da Coordenação de Repressão às Drogas da Polícia Civil do DF (Cord/PCDF), Rogério Oliveira, destacou que a delegacia especializada está atenta às organizações criminosas voltadas ao tráfico. “Temos investigações em andamento em diversas áreas do DF”, finalizou.