O GDF passou o dia pedindo calma à população e garantindo que haverá vacina para todos no Distrito Federal. Ainda assim, centenas de idosos de 66 anos bateram o pé, determinados a passar o dia na fila com a esperança de conseguir uma das 1.111 mil doses disponíveis na primeira etapa. A procura foi tão grande que a Secretaria de Saúde foi obrigada a remanejar 2.489 vacinas destinadas aos profissionais de saúde. Com isso, no fim do dia, cerca de 3,6 mil pessoas foram vacinadas neste sábado. Hoje, a vacinação será exclusiva para idosos e profissionais da saúde agendados para receber a segunda dose (D2). Para atender a demanda, somente o posto drive-thru no Estacionamento 13 do Parque da Cidade estará em funcionamento, das 9h às 17h.
Em nota, a Secretaria de Saúde afirmou que aguarda a disponibilização de mais doses pelo Ministério da Saúde para dar continuidade à imunização do grupo de idosos a partir de 66 anos. Confirmada para amanhã, a vacinação das forças de segurança no Distrito Federal vai começar pelas equipes que estão na rua diariamente, principalmente as mais expostas e, depois, vai seguir o critério de idade.
O Correio apurou com uma fonte do GDF que há, pelo menos, 16 mil pessoas na ativa com este perfil, mas, por enquanto, não se pode afirmar quantas serão imunizadas na primeira etapa. “Tudo depende do recebimento de novas doses e, até agora, o Ministério da Saúde não comunicou novo envio”, diz a fonte.
A vacinação dos idosos com 66 anos começou, ontem, com muitas filas. Nos três drive-thrus, a média de carros oscilou entre 500 e 700 durante todo o dia. Na Rua 36, de Águas Claras, teve motorista que circulou na contramão da via para garantir um espaço na fila. No Lago Norte, cansados da demora, parte das pessoas desistiu. No Parque da Cidade, chegava gente o tempo todo. No geral, quem levou apenas um lanchinho, achando que seria rápido, precisou se articular para conseguir o almoço. Em todos os pontos, agentes do Detran organizaram as filas e orientaram o trânsito.
As equipes do Correio acompanharam a corrida pela vacina desde o começo da tarde de sexta-feira, quando houve fila de carros em frente ao drive-thru do Parque da Cidade. Por volta das 21h, funcionários da Secretaria de Saúde entregaram senhas para quem estava no local, e os agentes de trânsito orientaram os idosos a voltarem para casa por conta do toque de recolher, das 22h às 5h. O pedido foi atendido, mas houve quem burlou a proibição e voltou na madrugada.
Em Águas Claras, pessoas prestes a completar 66 anos passaram a noite toda na fila, na esperança de receber doses remanescentes. É o caso do aposentado Antônio Carlos, morador de Samambaia, que chegou às 20h de sexta-feira na faculdade Unieuro. O idoso revela que dormiu a noite inteira no drive-thru e soube da imunização por meio do noticiário: “Eu já saí procurando o local, e como seria só três, o de Águas Claras era o mais próximo.”
Com sentimento de gratidão, o aposentado se sentiu mais seguro ao receber o imunizante. “É uma coisa muito esperada no momento, diante de tanto desespero, porque a coisa não está fácil”. Com a segunda dose marcada para 30 de abril, ele espera não ter de passar a noite no ponto de vacinação novamente. “No momento, a única coisa que a gente pode se apegar é na vacina, e continuar tomando os cuidados”.
Sopro de esperança
Receber a primeira dose da vacina contra a covid-19 representa mais do que uma chance de sobreviver ao novo coronavírus. É como se nos 0,5ml do líquido injetado no organismo tivessem também um antídoto capaz de aplacar um pouquinho a dor do luto e a saudade dos que se foram. Ao longo desse sábado, quem conseguiu vencer a fila e a exaustão se emocionou e voltou para casa com a sensação de poder respirar sem a espada da doença sobre a cabeça.
Durante espera de 4 horas no drive-thru do Iguatemi, o aposentado Antônio Guasselli, 66, morador de Águas Claras, contou entusiasmado que está feliz, e compara a imunização com “um evento”, diante da situação do país devido à covid-19. Para ele, o sentimento de ser vacinado “é uma sensação de estar e continuar vivo, que a esperança que nós temos é isso”.
De luto pela perda de amigos e a experiência de ter ficado internada por 13 dias com covid-19, a aposentada Regina Coeli, 66 anos, chegou ao Parque da Cidade às 8h30, quando cerca de 500 veículos já estavam por lá. Defensora da imunização, ela comemora o fato de a filha e o genro, que vivem nos Estados Unidos, já terem se vacinado contra a covid-19. Consciente, sabe que deverá manter os cuidados para preservar a si e aos outros. Perguntada se acredita na melhoria do cenário após a população ser vacinada, ela considera imprevisível. “Primeiro porque muitas pessoas acham que, tomando a vacina, estão imunes, e não é bem assim. Mas a esperança é grande”, diz.
Alívio
Sabe o que é ficar seis horas numa fila? Pois foi essa a maratona enfrentada ontem por boa parte dos idosos, entre eles o aposentado Maurício Teodoro da Silva, 66, imunizado no Parque da Cidade. Apesar da longa espera, o morador do Lago Sul saiu de lá com o sentimento de alívio e confiante. “Essa pandemia, na verdade, trouxe um problema muito grande para o mundo todo, uma mudança de vida, mudança de comportamento”.
A moradora de Ceilândia Maria Inês, 66, foi a última pessoa a ser vacinada, ontem, no drive-thru do Estacionamento 13 do Parque da Cidade. Ela conta que teve covid-19 em agosto de 2020, mas conseguiu se recuperar. Ao ser imunizada, ela não conteve a emoção. “Estou muito feliz com a primeira dose, graças a Deus. Espero que toda a população possa se vacinar para nós vivermos a vida em paz novamente. Eu mesma perdi um punhado de parentes e pessoas próximas por conta da doença, como o sogro da minha filha e um cunhado meu. Recomendo que os jovens que causam aglomeração em festas fiquem mais em casa. Espero que o governo do DF consiga mais vacinas para todos”, comenta a idosa, que recebeu a primeira dose da CoronaVac.
(Colaboraram: José Carlos Vieira, Larissa Passos, Pedro Marra, Samara Schwingel, Tais Braga e Vicente Nunes)