SISTEMA DE SAÚDE

Pacientes sem covid-19 sofrem por falta de UTI por causa da superlotação

Brasilienses com outras doenças lutam para conseguir uma vaga em meio a centenas de casos do vírus na capital

Além da covid-19, pacientes do Distrito Federal estão sofrendo com a falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por causa da superlotação nos hospitais causada, em grande parte, por causa da pandemia do novo coronavírus. Na manhã desta sexta-feira (2/4), a rede pública de saúde estava com 99,48% dos leitos ocupados. Felizmente, nesta tarde, a taxa de ocupação diminuiu para 96,82%. Mas ainda há aqueles que padecem na espera de uma vaga. 

Como é o caso da esposa de Diego Raphael, de 35 anos, que está internada no Hospital Regional de Planaltina (HRP) à espera de uma vaga desde a última terça-feira (30/3). A gerente comercial Julianne Aparecida deu entrada na instituição com febre e episódios de convulsões. "A gente suspeita que sejam sequelas da covid-19, que ela teve em agosto do ano passado. Ela já fez vários exames, mas ainda não descobrimos o motivo da infecção. Por isso a necessidade de uma UTI neurológica", relata o marido. Dados da Secretaria de Saúde indicam que, nesta sexta, 340 pessoas aguardam por uma vaga.

Segundo Diego, ela está na fila de prioridade 1 à espera de um leito, mas, por causa da demora, o marido busca entrar com uma ação na Justiça a fim de "agilizar o processo". A expectativa é que Julianne seja transferida para o Hospital de Base ou algum outro particular com parceria com o Sistema Único de Saúde (SUS). 

"Como muitos leitos foram designados para covid, infelizmente isso atrapalhou de certa forma. E como tá tendo muita solicitação judicialmente, há necessidade de muitas UTIs para covid, as outras UTIs, para outras necessidades, acabam sendo afetadas, que é o que a gente tá vendo aqui. Inclusive, a questão da transferência está demorando também por causa disso. Há uma certa demora no atendimento para providenciar esses leitos de UTI", observa Diego. 

Especialista explica a falta de leitos 

Entrevistada nesta quinta-feira (1º/4), no programa CB.Saúde, a médica intensivista Adele Vasconcelos diz que os casos entre jovens de 20 a 30 anos têm tido aumento significativo. "Muitas vezes os pacientes chegam em estado grave nos hospitais e pela capacidade de lutar mais tempo pela vida, ocupam muitos leitos por muito mais tempo. Isso cria um problema de giro de UTI", alerta a médica, que é chefe do pronto-socorro do Hospital Santa Marta, em Taguatinga.

"Com 100% de lotação há quase um mês em todo o DF e no Brasil, estamos vendo esses jovens morrerem. Temos mais de 90% de pacientes em ventilação mecânica, hemodiálise, e em estado muito grave. Por outro lado, houve a redução dos idosos acima de 75 anos, então a vacina vem fazendo o efeito que precisava. Porém, temos tanta gente doente, mas tanta gente doente, que não dá para quem chega. Muito paciente jovem chegando em estado grave no pronto-socorro e, neste momento, não temos leito de imediato para recebê-lo", observa a especialista.

Por causa do aumento significativo de jovens que contraíram o vírus e que, consequentemente, ocupam os leitos por mais tempo, a médica explica que não é possível dar alta aos casos graves, e os que vão chegando posteriormente acabam por não conseguir a vaga adequada, gerando as longas filas de espera. Segundo a Saúde, 83,17%$ dos adultos ocupam um leito de UTI por até 15 dias. Outros 14,15% utilizam o leito de 16 a 30 dias.