Desde que a variante de Manaus da covid-19, a P1, passou a ser predominante no Distrito Federal, os jovens acometidos pela doença e que precisam de internação apresentam mais urgência por um leito de unidade de terapia intensiva (UTI) e por intubação. De acordo com os profissionais de saúde da linha de frente ouvidos pelo Correio, ainda não há uma pesquisa consolidada que apresente números sobre essa realidade, mas, assim como ocorre em São Paulo, dentro dos hospitais, a mudança é nítida. Segundo os médicos, antes, era raro que as pessoas de 0 a 39 anos necessitassem de tratamento intensivo. Agora, quando chegam às unidades de saúde, precisam ser internadas quase que imediatamente.
A infectologista Joana Darc atua no Hospital Regional da Asa Norte desde o início da crise sanitária no DF e conta que, em 2020, era raro um jovem chegar a ir para a UTI. “Anteriormente, os jovens que chegavam aos hospitais tinham alguma comorbidade e, por isso, tinham complicações da covid-19. Agora, eles chegam com a saturação muito baixa, já com necessidade de oxigênio e internação”, diz. A médica afirma que o cenário, com a P1 em circulação e o início da vacinação, alterou-se bastante. “Um dia, chegamos a ter apenas um idoso na UTI do hospital”, completa. “As pessoas têm chegado com o pulmão mais comprometido, com o caso mais grave, necessidade de intubação, e acabam ficando mais dias internadas que antes”, comenta Joana.
O também infectologista Luciano Lourenço, intensivista no Hospital Santa Lúcia, confirma o que a colega de profissão diz. “Eles (os jovens) chegam ao hospital já numa condição em que precisam ser internados. Vemos mais pacientes abaixo de 40 anos precisando de mais suporte da medicina intensiva que temos dentro da UTI”, afirma o intensivista. Luciano ainda faz uma recomendação: “Ao menor sintoma ou suspeita de infecção, procure ajuda médica, para evitar que o quadro evolua da pior forma”.
Internações
De acordo com dados do InfoSaúde — portal de transparência da Secretaria de Saúde do DF — por volta das 12h de ontem, havia 435 pessoas internadas em UTIs da rede pública tratando a doença. Destas, 219 tinham entre 0 e 59 anos e 197 mais de 60 anos, valores equivalentes a 50,34% e 45,28% do total, respectivamente.
Além disso, de acordo com o último boletim epidemiológico, mais de 295 mil pessoas de 20 a 59 anos já haviam se infectado com o novo coronavírus na capital federal. Junio Gabriel Araújo, 21 anos, foi uma delas. Em março deste ano, o marceneiro testou positivo para a doença. Após sentir dores no corpo e falta de ar, ele foi para o Hospital Regional de Ceilândia, onde precisou ser internado em uma UTI. “Fiquei nove dias intubado e mais uma semana na UTI em tratamento. Só depois desse período que fui transferido para uma enfermaria”, conta.
O pai de Junio foi infectado pela doença na mesma época e também precisou ser internado. Porém, ele não resistiu e faleceu enquanto o jovem ainda estava no hospital. “Fiquei sabendo da morte do meu pai enquanto ainda estava na UTI”, lembra o morador de Ceilândia. Atualmente, Junio diz que está recuperado e sem nenhuma sequela, mas alerta para as dores da internação. “Foi a primeira vez que precisei de uma UTI. Não foi uma experiência boa, mesmo com a equipe médica se esforçando ao máximo para tornar tudo menos pior”, ponderou.
Questionada sobre os números de jovens internados na rede pública, a Secretaria de Saúde do DF informou, por meio de nota, que entende que, por estarem contemplados pela campanha de vacinação contra a covid-19 em andamento, o grupo de idosos “tem se contaminado menos e, quando infectado com novo coronavírus, reagido melhor à doença”.
Vacinação
Atualmente, o público-alvo da campanha de imunização contra covid-19 no DF é, principalmente, os idosos com 62 e 63 anos. Ontem pela manhã, segundo o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), que faz o controle das filas e o ordenamento do fluxo de veículos, o movimento em três dos sete pontos de vacinação abertos para atender a este público estava tranquilo.
Para esta semana, o DF espera receber, na quinta-feira, uma remessa de vacinas contra a covid-19 da norte-americana Pfizer e, ao longo da semana, mais doses da CoronaVac e da AstraZeneca, imunizantes já em aplicação na capital federal. Apesar da expectativa, ainda não há um indicativo de como os imunizantes serão utilizados, uma vez que as doses são carimbadas para públicos específicos pelo Ministério da Saúde. Porém, a expectativa interna da Secretaria de Saúde é de que seja possível ampliar a campanha de vacinação para pessoas com 60 e 61 anos, último grupo de idosos previsto no Plano Nacional de Imunização.