A pandemia do novo coronavírus provocou um tsunami de casos de doenças mentais, resultantes, sobretudo, dos elevados graus de estresse e de ansiedade. Depois de acometerem os idosos, na primeira onda da covid-19, os transtornos estão, agora, atingindo crianças e jovens, que se tornaram as principais vítimas do vírus. Foi o que ressaltou o médico psiquiatra Fábio Aurélio Leite, do Hospital Santa Lúcia.
Em entrevista ao programa CB.Saúde, uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília, o médico afirmou que os transtornos psicológicos provocados pela pandemia ainda vão se prolongar por vários anos, pois os estragos ocasionados pela covid-19 em muitas famílias serão profundos. “Muita gente perdeu vários entes queridos. Há casos dramáticos”, disse. Pelas projeções da Organização Social da Saúde (OMS), as doenças mentais serão prevalentes nos próximos 10 anos.
Os transtornos mentais também estão provocando impactos no mercado de trabalho. Segundo o Ministério da Economia, em 2020, houve recorde de concessões de auxílio-doença e aposentadorias por invalidez decorrentes de doenças relacionadas à depressão e à ansiedade. Os afastamentos por transtornos mentais tiveram aumento de 33,7%, saltando de 213,2 mil, em 2019, para 285,2 mil, em 2020. Já o total de aposentadorias por invalidez concedidas em decorrência desses problemas subiu de 241,9 mil para 291,3 mil de 2019 para 2020 — aumento de 20,4%.
Pesquisa realizada no ano passado pelo Ministério da Saúde, que reuniu informações sobre a saúde mental dos brasileiros em tempos de pandemia, constatou que a ansiedade é um dos transtornos mais presentes, mais precisamente, em 86,5% dos participantes. O estudo foi realizado de forma on-line, entre 23 de abril e 15 de maio, e monitorou a evolução dos sintomas citados pelos participantes por meio do questionário. “O momento é grave”, destacou Leite.
No entender dele, a velocidade com que a pandemia chegou, mudando radicalmente a vida das pessoas, das empresas, do governo, mexeu muito com o emocional de todos. “Tudo aconteceu muito rápido. As pessoas não poderiam imaginar, e, quando você tem uma expectativa de algo, pode até dar para você se preparar mentalmente. Mas tudo veio de forma surpreendente, como coisa de ficção científica, as pessoas de máscaras, tendo que se afastar. Outra coisa também é o número de óbitos, as famílias que foram atingidas e que continuam sendo, o luto, seja pela perda trabalho, de renda ou de contato social. É um conjunto de fatores que geraram vários problemas em um curto período de tempo”, explicou.
Pela pesquisa, as mulheres são as que mais estão sofrendo com os transtornos psicológicos (71,9%), mas a pandemia atingiu a todos, de uma maneira geral. “Os idosos, em um primeiro momento, eram o público de maior risco, porque ficaram bastante isolados, até os parentes evitavam visitá-los presencialmente, o contato passou a ser por telefone e por vídeo chamada. Nessa segunda onda, nós temos percebido que o grupo de pessoas que têm perdido a vida são os jovens de 30 a 40 anos, e isso também gera um desconforto, medo e apreensão na população. As crianças e adolescentes sofrem muito pela falta do convívio escolar, social e das brincadeiras, fica muito difícil brincar em um ambiente tão tenso e sem ter com quem”, afirmou.
Outro fator que também contribuiu para o aumento dos transtornos psicológicos foram as questões relacionadas à vida profissional e afetiva. No entender dele, a pandemia gerou um tipo de tsunami psicológico, que varreu todos os conceitos e desestruturou muitas famílias. Diante desse quadro preocupante, o psiquiatra alertou sobre a importância de sempre se buscar ajuda médica, que é fundamental para tratamento das doenças mentais.
“É importante que as pessoas entendam que é um momento atípico, que nossas forças e o emocional vêm sendo bombardeados há muito tempo, a resistência vem sendo minada. Temos de ficar de olho para sinais de perda de energia, perda de disposição, menos valia e achar que a vida não faz mais sentido. É sempre muito importante observar os adolescentes e os idosos, que são grupos mais vulneráveis do ponto de vista emocional”, receitou.
Estagiária sob supervisão de Vicente Nunes
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