Paralisação

Greve: Usuários do metrô temem aglomerações após redução da frota

Após liminar do Metrô-DF junto ao TRT, categoria vai operar com 60% dos trens da frota. A maioria dos usuários ouvidos pela reportagem não sabia da decisão e teme aglomerações que acelerem a transmissão do coronavírus

Pedro Marra
postado em 19/04/2021 11:41 / atualizado em 19/04/2021 15:34
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Os usuários do metrô foram pegos de surpresa na manhã desta segunda-feira (19/4) com o anúncio da greve dos metroviários. A paralisação por tempo indeterminado começou à 0h de hoje após longa assembleia que havia começado ainda no início da noite de domingo (18/4)

A princípio, o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários do Distrito Federal (Sindmetrô-DF) propôs operar com 30% da frota. A categoria exige direitos trabalhistas para o triênio 2021-2023. Após o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) acatar pedido do Metrô-DF, a circulação de trens ficou definida em 60%.

Ezequiel Gustavo, 18 anos, trabalha em uma loja de decoração, na estação Arniqueiras, em Águas Claras. Morador de Ceilândia Sul, ele aguardava um trem na estação da região quando soube da greve pela reportagem.

"Não sabia de nada dessa decisão dos trabalhadores. É complicado, ainda mais no meio de uma pandemia. Lembro de outras greves nos últimos anos que eu tive que ir a pé para a escola sem trens do metrô disponíveis", recorda o estudante do Centro de Ensino Médio 4, de Ceilândia Sul.

Ele destaca os efeitos da paralisação para a população que precisa usar o transporte público neste momento de crise sanitária. "Essa questão de aglomeração, principalmente, é complicado com essa greve devido à pandemia. Com menos trens pra ir e voltar, vai ter muito mais gente nos trens. Querendo ou não, funcionando normalmente, já tem uma aglomeração grande, com trens lotados. Isso poderia ser melhor pensado", opina Ezequiel.

O garçom Max Lenno Fernandes de Andrade, 31, foi para a Estação Taguatinga Centro, sem saber da redução da frota em 60%. Mesmo de folga do trabalho, ele precisou usar o transporte público para resolver um problema de cadastro do cartão de passagem, em um posto de atendimento do Banco de Brasília (BRB), na L2 Sul.

"É complicado passar por essa situação porque atrapalha o transporte em tempos de pandemia. Tanto no ônibus quanto no metrô, os veículos vão ficar superlotados, e isso vai atrapalhar o combate ao vírus, o que vai trazer mais transtorno para governo e população. Poderiam negociar mais um tempo antes de ter a paralisação", opina Max.

Para ele, manter o funcionamento normal do metrô é uma questão de bom senso com os usuários. "Estamos vendo pessoas morrendo e, mesmo assim, decidiram a greve de madrugada, sem avisar direito a situação. E não tem como a gente usar carro com frequência. Para que eu vou gastar R$ 40 de gasolina para ir ao meu trabalho, na Asa Sul, sendo que posso pegar metrô", contesta o morador de Ceilândia.

O garçom Max Lenno Fernandes de Andrade, 31, opinou que em períodos de pandemia, a paralisação atrapalha, pois "os veículos vão ficar superlotados".
O garçom Max Lenno Fernandes de Andrade, 31, opinou que em períodos de pandemia, a paralisação atrapalha, pois "os veículos vão ficar superlotados". (foto: Ed Alves/CB/D.A Press)

Entenda o caso

Funcionários do sistema metroviário do Distrito Federal haviam anunciado a greve por tempo indeterminado a partir da última sexta-feira (16/4). Decisão foi pleiteada em assembleia virtual no último domingo (11/4), que analisou as tratativas de negociação com a Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF). De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários (Sindmetrô), não houve avanço e a categoria decidiu por decretar a paralisação.

Na madrugada desta segunda (19/4), a greve foi anunciada por tempo indeterminado. A ação foi tomada após longa assembleia que havia começado ainda no início da noite de domingo (18/4). Foram mais de 150 votos favoráveis pela greve, 22 pelo cancelamento e um pelo adiamento do ato.

Faixas exclusivas

Em nota, o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) informou que a greve dos funcionários do Metrô-DF não trará alterações ao tráfego de veículos nas faixas exclusivas das vias W3 Sul, W3 Norte, Setor Policial Sul e Eixo Monumental. "As faixas permanecem exclusivas para ônibus e facultativa para táxis e veículos do transporte escolar", esclarece.

Em nota divulgada à imprensa, o Metrô-DF informou que, na manhã desta segunda (19), no primeiro dia da greve dos metroviários, todas as 27 estações foram abertas e o sistema operou com 60% dos trens, como estipulou a liminar do TRT, concedida a pedido da companhia. “Fora do horário de pico, ainda de manhã, seis trens estavam em operação, o que corresponde a 40% do total que normalmente circula neste horário, conforme percentual também estabelecido pelo Tribunal Regional do Trabalho”, diz .

De acordo com o Metrô-DF, desde fevereiro, a Companhia realizou nove reuniões de negociação e participou de duas audiências de conciliação no TRT. “No entanto, não houve consenso. O Metrô-DF manteve todos os benefícios, com exceção daqueles considerados sem amparo legal, como o 13º e auxílio alimentação. A Companhia permanece disposta à negociação e aberta ao diálogo, desde que a categoria vote a última proposta apresentada para o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) 2021 – 2023, que contempla avanços, mas sequer foi apreciada pela categoria nas duas últimas assembleias."

"Foram incorporadas à proposta inicial cláusulas que atendem a reivindicações da categoria, como nova escala de trabalho para agentes de estação e seguranças e gratificação por quebra de caixa”, destaca a assessoria de imprensa.

Na opinião da Companhia, a greve dos metroviários coloca em risco a saúde pública e o esforço coletivo do GDF e da sociedade, “que há mais de um ano combate os efeitos devastadores da covid-19. Por essa razão, a Companhia espera que os metroviários repensem a paralisação e analisem a proposta apresentada pelo Metrô-DF.”

Horários de funcionamento

A liminar do TRT estabelece que o SindMetrô-DF, em caso de paralisação, deve manter ao menos 60% da operação, conforme texto a seguir:

Em dias úteis (segunda à sexta-feira)

Horários de pico: das 6h às 8h45 e das 16h45 às 19h30;
Horários de "vale" diurno: das 8h45 às 16h45;
Horários de "vale" noturno, das 19h30 às 23h30;

Aos sábados

Horários de "pico": das 6h às 9h45 e das 17h às 19h15;
Horários de "vale" diurno, das 9h15 às 17h;
Horários de "vale" noturno, das 19h15 às 23h30;

Domingos e feriados

Circularão 40% dos trens que, normalmente, operam nesses dias;

Nos dias úteis e aos sábados, nos horários de "pico" deverão ser mantidos com 60% de atividade do quantitativo de trens que normalmente circulam nesses períodos. Nos horários de "vale" diurno e noturno, devem ser mantidos em atividade 40% dos trens que normalmente circulam nesses períodos. O TRT impôs multa diária de R$100 mil caso ocorram descumprimento da decisão.

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