O segundo dia de imunização dos idosos de 64 e 65 anos foi marcado por longas filas. O público que foi até o Estacionamento 13 do Parque da Cidade — unidade drive-thru de vacinação —, durante a manhã de ontem, precisou esperar cerca de duas horas para receberam atendimento. Na Unidade Básica de Saúde (UBS) 3 de Ceilândia, mesmo com fila, quem aguardava pela primeira dose considerou o atendimento rápido.
O atendimento para esse grupo prioritário começou após a chegada de 80 mil novas doses de imunizantes no Distrito Federal. A aplicação continua hoje, das 9h às 17h, em oito postos, que incluem pontos drive-thrus e unidades básicas de saúde (UBSs). Do total de doses, 43.140 foram direcionadas aos idosos com 64 e 65 anos (com uma reserva técnica de 10% delas). O restante foi distribuído entre agentes de segurança, profissionais de saúde e segunda dose, a chamada D2.
A aposentada Maria Marlene Araújo Veloso, 64 anos, saiu, ontem, de casa para garantir a primeira dose do imunizante. Acompanhada do filho e da nora, esperou na fila de carros no Parque da Cidade. “Mesmo com a demora, a gente fica feliz, né? Eu esperei duas horas, mas não tem problema não, estava muito ansiosa pra chegar a minha vez”, celebra.
Maria Marlene conta que, na sexta-feira, a irmã de sua nora foi internada com covid-19 em uma unidade de terapia intensiva (UTI), após o quadro de saúde piorar. A aposentada lembra que pessoas próximas à família testaram positivo, por isso, procura se cuidar. “Eu não tenho ido em festas e reuniões de família. Só vou para o trabalho, do trabalho para casa, sempre com o álcool na bolsa e lavando as mãos”, reforça. Mesmo após receber a segunda dose, a aposentada garante que vai manter as medidas. “Temos que continuar usando máscara e tomando as precauções necessárias. Eu acho que tranquilidade mesmo, só no dia que essa pandemia acabar”, acrescenta.
A campanha de vacinação contra a covid-19 é uma das principais medidas adotadas pela Secretaria de Saúde para evitar a proliferação do vírus. Segundo boletim divulgado pela pasta ontem, 357.299 pessoas receberam a primeira dose das vacinas e 140.229 a segunda aplicação.
7.172 mortos
Nas últimas 24 horas, o DF confirmou 1.194 novos casos da covid-19 e 47 vítimas da doença. Com a atualização, o total de infectados subiu para 365.646, e o de mortos, para 7.172. Recuperados são 347.014 pessoas.
Ontem, a taxa de ocupação de leitos das UTIs da rede pública destinadas ao tratamento contra a covid-19 chegou a 95,38%. No caso leitos adultos, o índice é de 97,94%, com sete vagas. Na ala pediátrica e neonatal, há 12 disponíveis. Nos hospitais particulares, não há vagas para crianças, e a taxa de ocupação de UTI adulto está em 99%, com quatro vagas.
O estado de calamidade na saúde tem preocupado o DF. É o caso do aposentado Antônio Carlos de Oliveira, 65, que recebeu a primeira dose do imunizante ontem. Morador do Jardins Mangueiral, Antônio conta que foi até o ponto de vacinação próximo de sua casa na sexta para receber a primeira dose, porém, foi surpreendido com uma fila grande. “Como vim ao Plano Piloto para ficar com minha mãe, que mora aqui, aproveitei a fila”, diz. A espera do aposentado foi de uma hora. “Demorou um pouquinho, mas já me preveni e trouxe um livro pra ficar lendo e passar o tempo”, brinca.
Lockdown
Em meio à indecisão entre os Poderes Executivo e Judiciário sobre o fechamento das atividades não essenciais no Distrito Federal, um levantamento, feito por Breno Adaid, pesquisador do Centro Universitário Iesb e doutor em administração e pós-doutor pela Universidade de Brasília (UnB) em ciência do comportamento, mostra que, duas semanas após as medidas restritivas entrarem em vigor, a média móvel de casos no DF teve uma queda de 35% (veja Curva de infecção). Durante o período, a taxa de transmissão — R(t) — do vírus também registrou baixas.
Segundo o levantamento de Breno, mesmo durante a pior fase da pandemia, em março deste ano, com a redução das atividades do comércio, a média móvel de infecções passou de 1.651 para 1.070, em 14 dias. “Neste caso, o comum é a gente ver o impacto das restrições nos números cerca de duas semanas depois. Para este cálculo, utilizei os dados disponibilizados pelo GDF (Governo do Distrito Federal) de acordo com o primeiro dia de sintomas dos pacientes”, explica, sobre a queda de 35% do índice.
Quanto à taxa de transmissão da covid-19, houve redução durante o período em que as medidas restritivas mais rigorosas estavam em vigor. Quando as atividades não essenciais foram proibidas, em 28 de fevereiro, o índice estava em 1,44. Uma semana depois, diminuiu 0,24 pontos e, ao passar de 14 dias, chegou a 0,99 — abaixo de 1, como idealizado por especialistas e pelo governo local. No dia da reabertura do comércio, de forma gradual, em 1º de abril, o R(t) estava em 0,9. Uma semana depois, chegou em 0,95.
“Em retrospectiva, logo depois que fechamos, em dois ou três dias, se observa uma queda muito clara do índice”, ressalta Breno. “As projeções mostram que, com a abertura do comércio, o R(t) vai voltar a subir, e só vamos sentir esse impacto na taxa, em termos de números, quatro ou cinco dias depois”, alerta.
Breno comenta que as previsões indicam que o índice pode atingir o mesmo nível de março ao final deste mês e que um fechamento mais longo seria o ideal. Porém, há mais fatores que precisam ser considerados. “Se analisar o número, quanto mais tempo fechado, menos casos e menos mortes. Mas, temos variáveis de contexto que são os outros efeitos do fechamento, como o econômico, por exemplo”, argumenta.
Economia
Para o economista e presidente do Conselho Regional de Economia do DF, César Bergo, é inegável que as restrições trazem prejuízo aos empresários locais, mas, para ele, há uma forma de sobreviver. “Auxílios, como programas de crédito, prorrogação do pagamento de impostos e medidas como a que o governo federal adotou, de assumir parte da folha de pagamento das empresas, podem ajudar”, analisa. Mas reforça que a sobrevivência dos negócios depende muito do perfil de cada empresário. “As medidas são poucas para o tamanho do problema. Na prática, estamos só ganhando tempo até a crise passar”, completa.
Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), José Aparecido faz sua avaliação sobre um possível novo lockdown. “Por interferência do Executivo, eu acredito que não haverá. O toque de recolher deve ser estendido, uma vez que é o que tem gerado resultado para a queda nos casos de contaminação”, afirma.
Segundo José Aparecido, a abertura dos estabelecimentos comerciais não tem participação no aumento de casos de covid-19. “Todos os setores do comércio e serviços estão mantendo os protocolos exigidos, como distanciamento social, uso de máscaras e álcool, limitação de público nas lojas, entre outros. Então, o comércio, de um modo geral, não tem influência nessa taxa de contaminação”, defende.
Para o vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista), Sebastião Abritta, o varejo não é um ponto que gera aglomerações de pessoas e, por isso, não seria o responsável pelo aumento de contaminações. “Não há nem movimento direito. Sem contar que são lugares que atendem às regras sanitárias”, diz.
Procurado pela reportagem, o GDF informou que a situação da pandemia é monitorada todos os dias, em tempo real, e “todas as medidas tomadas para combate ao coronavírus são baseadas em avaliações de especialistas, critérios científicos e dados técnicos.” Segundo o Executivo local, quaisquer alterações nos protocolos vigentes atualmente serão amplamente divulgadas
Pontos de vacinação da covid-19 neste domingo (18/4)
Planaltina (Arapoanga) - UBS 5 (presencial e drive-thru)
Shopping Iguatemi - (drive-thru)
Jardim Botânico - CPS (drive-thru)
Ceilândia - UBS 5 (drive-thru)
Parque da Cidade - (drive-thru)
Mané Garrincha - (drive-thru)
Águas Claras - Uniplan (drive-thru)
Taguaparque - (drive-thru)
Público-alvo: segunda dose e idosos de 64 e 65 anos
Horário: das 9h às 17h
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