Apesar de não ser referência para a covid-19, o Hospital Regional de Taguatinga (HRT) apresenta risco de contaminação cruzada. A constatação foi feita durante iniciativa da força-tarefa Ação Conjunta Covid-19, coordenada pela seccional da Ordem do Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF). De acordo com relatório divulgado, durante fiscalização feita na unidade, esses e outros problemas foram flagrados.
Segundo o diagnóstico da equipe, o risco de contaminação justifica-se pelo grave problema estrutural do hospital. Apesar do HRT não ser considerado referência para tratamento da covid-19, a unidade recebe, desde o início da pandemia, muitos pacientes com diagnóstico fechado para o novo coronavírus. É um hospital muito importante para a região Sudoeste do DF, e com grande volume de atendimento, conforme explica em relato no diagnóstico a presidente da Comissão De Saúde OAB-DF, Alexandra Moreschi.
“O fato do Pronto Socorro ter sido readaptado de maneira improvisada está gerando grandes problemas para toda a unidade, profissionais e pacientes. A ala isolamento 2 Covid foi alocada no meio do pronto socorro, em paredes levantadas com madeirite, sem nenhuma estrutura ou correta vedação”, afirmou.
A transmissão é preocupante, pois pode gerar um efeito cascata de problemas em todo o hospital. “Os pacientes que passam horas e dias no Pronto Socorro (PS) podem estar infectados pela covid-19 e, quando admitidos nas clínicas de internação dos andares, acabam também levando a doença para as enfermarias”, acrescenta Alexandra.
Além disso, a superlotação, o dimensionamento caótico e a estafa da equipe são fatores que favorecem a transmissão cruzada entre as alas, segundo a presidente da comissão. “Alguns profissionais prestam assistência na unidade covid e não covid no mesmo plantão quando necessário”, afirma.
Outros problemas
O HRT é um hospital considerado antigo, uma vez que foi construído em 1970 e nunca passou por grandes reformas estruturais. De acordo com o relatório, a falta de restauração justifica a estrutura física comprometida. Além disso, há um histórico recorrente de grande déficit de servidores. “Há um dimensionamento desumano para todas as equipes do pronto socorro”, pontua a relatora.
Segundo documento encaminhado pela gerência de enfermagem do hospital no dia 31 de março, o HRT dispõe de 2.836 horas de déficit de Enfermeiros e 5.197 horas de déficit de técnicos de enfermagem. "Contudo, evidencio que a taxa de absenteísmo é relevante com a média de 20% e 35% respectivamente”, pondera Alexandra.
A força-tarefa Ação Covid-19 é composta por representantes da OAB-DF, do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-DF), do Sindicato dos Enfermeiros (SindEnfermeiro), do Conselho Regional de Serviço Social (Cress), do Conselho Regional de Psicologia (CRP), da Associação Brasileira de Enfermagem (Aben), além do deputado distrital Fábio Felix (PSol), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa (CLDF).
Ao Correio, Alexandra explicou que os relatórios são encaminhados para a Secretaria de Saúde do DF e para os órgãos de controles, entre eles, o Ministério Público e o Tribunal de Contas da União. “Encaminhamos para que tomem ciência e verifiquem possibilidades de solução”, acrescenta. Segundo Alexandra, espera-se que a Secretaria resolva as problemáticas. “As pessoas hospitalizadas no HRT e os profissionais merecem ter acesso a uma saúde de qualidade”, pontua.
De acordo com a presidente, o relatório apresenta uma situação preocupante para a rede de saúde pública da capital. “Isso não é uma questão pontual, que está acontecendo só agora. Acontece que agora ficou latente. Gostaríamos que a Secretaria de Saúde entendesse que o nosso intuito não é trazer problemas ou praticar política. Queremos que a população do DF tenha uma saúde pública de qualidade, em especial esse momento de pandemia”, reforça.
A Secretaria de Saúde foi procurada, mas, até a publicação desta reportagem, não houve resposta.
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