O pato-mergulhão é uma ave quase em extinção no mundo. Especialistas estimam que existam menos de 250 indivíduos da espécie espalhados pela Terra. No Brasil, eles podem ser encontrados em somente três lugares: Chapada dos Veadeiros (GO), Serra da Canastra (MG) e Jalapão (TO). Quem os encontra não perde tempo e registra a passagem do animal pelos rios. Conhecidos pela personalidade arisca, eles gostam de água limpa e cristalina. Nelas, encontram o alimento diário, os peixes. Para evitar que esses pássaros sumam da natureza, projetos ambientais trabalham no monitoramento e proteção deles.
Dono da Chácara Mundo dos Pássaros, na Chapada dos Veadeiros (GO), o servidor público Fernando Alencastro, 57 anos, teve o privilégio de encontrar um casal de patos-mergulhão enquanto passeava pelo local, em 2 de abril. Os animais estavam no Rio São Miguel, que passa pela propriedade de Fernando. Embora seja comum ver as aves no município goiano, essa foi uma das poucas vezes que indivíduos da espécie foram vistas nesse rio. “Isso me trouxe um sentimento de felicidade e esperança, porque, como estão em extinção e precisam de um rio saudável, significa que esse rio da chapada está oxigenado e vivo. Os patos são os mensageiros dessa boa notícia”, afirma.
Morador da Asa Sul, Fernando tem a casa de campo na Chapada dos Veadeiros há 20 anos. A ideia era ter um local para descansar e desligar-se da correria da cidade. Com o passar do tempo, ele identificou diversas espécies de aves na região e viu que muitas pessoas iam para localidades próximas observar os pássaros. Então, decidiu transformar o imóvel no primeiro observatório de aves da cidade e o denominou de Chácara Mundo dos Pássaros. Hoje, Fernando disponibiliza uma estrutura para a hospedagem dos observadores e abriu trilhas para viabilizar o acesso à mata de forma mais fácil.
Na semana passada, ao passar um período na chácara, o Fernando viu as aves no rio e mandou fotos para o Projeto Pato-mergulhão Chapada dos Veadeiros. “Logo, a equipe foi para lá e se hospedou. Passaram um fim de semana acompanhando e monitorando as aves”, conta o servidor público.
Monitoramento
Coordenadora do Projeto Pato-mergulhão Chapada dos Veadeiros, Gislaine Disconzi estima que na região existam entre 20 e 30 indivíduos da espécie. “Quando achamos dois assim, juntos, é uma festa. Por se tratar de aves monogâmicas, elas vivem sempre em casais. Para nós é ótimo”, comemora a bióloga.
Por meio do projeto, são compilados dados esporádicos sobre o pato-mergulhão e, nos últimos dois anos, o grupo conseguiu levantar informações importantes. “Andamos pelos rios da chapada e encontramos vários indivíduos. Mapeamos nove territórios, e todos eles ocupados por casais. Eles procuram locais para criar seus ninhos e reproduzirem”, explica Gislaine.
O grupo faz o anilhamento das aves, que é um método de marcação da ave, para acompanhar os locais onde habitam, as rotas por onde flutuam, entre outros dados, a fim de elaborar políticas de conservação e proteção do animal. O equipamento não pode ultrapassar 5% do peso do pato-mergulhão, para não atrapalhar seu mergulho, sua reprodução e sua movimentação. O aparelho é a prova d’água, e a bateria dura em torno de três meses.
Especializado em fotografia da natureza, André Dib faz parte do projeto. Embora esteja acostumado a fotografar animais, chegar até o pato-mergulhão não é tarefa fácil. “Precisamos estar integrados à natureza. Temos que ficar meio invisíveis, porque é uma ave muito arisca, que gosta de lugares com pouca movimentação de humanos. Mas conseguimos capturar boas imagens. Esse trabalho é importante para sensibilizar as pessoas por meio da beleza, ainda mais se tratando de uma ave ameaçada”, finaliza o fotógrafo.
10 anos extinto
O pato-mergulhão é uma espécie especialista em rios, considerada uma das aves mais ameaçadas das Américas e uma das mais raras do mundo, inclusive tendo sido considerada extinta entre 1940 e 1950. É conhecida no Brasil, na Argentina e na Paraguai, sendo que em território nacional há registros confirmados em três bacias hidrográficas: São Francisco, Tocantins e Paraná. No Paraguai e na Argentina, a espécie não é encontrada há mais de 10 anos.
*Fonte: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)
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