Arte

Corais de Brasília se reinventam no ambiente virtual e são vozes de alento

Impedidos de promover encontros presenciais, devido à crise sanitária provocada pela covid-19, corais de Brasília se renderam ao ambiente virtual para dar continuidade às atividades. No entanto, nem todos os grupos se ajustaram ao modelo, e alguns suspenderam os ensaios

Caroline Cintra
postado em 07/04/2021 06:00
Diretor musical do Broadway Show, Pedro Mendonça optou por paralisar as atividades do grupo, inclusive os ensaios, durante a pandemia -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
Diretor musical do Broadway Show, Pedro Mendonça optou por paralisar as atividades do grupo, inclusive os ensaios, durante a pandemia - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Os corais do Distrito Federal, assim como tantos outros setores, tiveram de se reinventar durante a pandemia do novo coronavírus. Diferentemente de outros tempos, agora os coristas ensaiam separadamente, e organizar as vozes em harmonia por meio da internet é um dos desafios que surgiu. Alguns coros conseguiram se adaptar e manter a rotina a distância, outros acabaram perdendo integrantes ou até encerraram as atividades temporariamente.

O Coral da Universidade de Brasília (UnB) é um dos que mantiveram os ensaios a distância. Embora o ambiente virtual seja novidade para muitos integrantes, a adesão tem sido positiva. Desde o início das aulas on-line, no ano passado, três pessoas saíram do grupo por não se adaptarem ao modelo. “Mas estamos sempre em contato com elas. Sempre ligo para saber como estão. Como maestro, tenho que me importar com a vida fora do coral também e sei que essas pessoas vão retornar quando pudermos nos encontrar pessoalmente novamente”, afirma o maestro Éder Camúzis.

Cantar traz uma série de dificuldades, principalmente para os corais, onde todos devem acompanhar o ritmo ao mesmo tempo. “Com a pandemia, mudou tudo da água para o vinho e sem preparar a gente. É outro mundo. Existe uma dificuldade tanto para a gente quanto para os cantores. É um novo processo para a nossa forma de ensino e aprendizagem, usando o que a tecnologia nos oferece”, conta o maestro.

Éder explica que, nos ensaios presenciais, o aprendizado é em conjunto. Antes de todos cantarem em uníssono, ele separa os grupos por naipe — tipo vocal. “Nesses momentos, observamos os erros e acertos. No on-line, não tem como fazer essa avaliação de todos ao mesmo tempo. Não conseguimos usar o piano e teclado junto com o cantor, porque tem as interferências na internet, que fica oscilando, e acabamos perdendo mais tempo, e o ensaio sendo mais lento”, destaca.

À frente também do Coro Feminino Cantares, da Escola de Música de Brasília (EMB), Éder Camúzis ressalta que, apesar das dificuldades, o modelo ajudou pessoas isoladas a lidarem com o momento. “A possibilidade desses encontros semanais e de ter a responsabilidade de estudo salvou muita gente”, completa.

Convívio

Regente do Coral de Servidores da UnB, Renato Pedro da Silva, 57 anos, lembra que quatro coralistas deixaram o grupo desde que os ensaios passaram para o ambiente digital. Hoje, 27 integrantes compõem o coro, entre funcionários da universidade, alunos, ex-alunos e pessoas da comunidade. Passado um ano do novo modelo de trabalho, Renato sente saudade de ter o grupo reunido. “Sentimos falta do convívio humano, do abraço, aperto de mão. Fazíamos cantando e, agora, é tudo longe, gravado. Gastamos mais tempo, e está sendo mais trabalhoso. Antes, ensaiávamos duas ou três músicas por mês. Atualmente, uma ou uma e meia” diz.

Com diversas formações acadêmicas, como administração de empresas, teologia e pedagogia, Renato afirma que a música é sua vida. A paixão pela regência o faz acreditar que, ainda este ano, consiga reencontrar o coral pessoalmente. “No segundo semestre, lá para setembro, conseguiremos retomar o presencial”, aposta. “Já cantamos em asilos, creches, apresentações de Natal em várias cidades. Com a música, as pessoas até mudam de expressão, traz lembranças boas. É uma sensação gostosa poder fazer isso e levar para as pessoas”, define o regente.

Pausa temporária

Antes da chegada da covid-19, o grupo Broadway Show se apresentava em diversos lugares da capital federal, de duas a três vezes por semana. Até março de 2020, a agenda estava cheia. Com o primeiro decreto do Governo do Distrito Federal (GDF) de suspensão de diversas atividades, o coral precisou parar. A princípio, a pausa durou um mês. Depois, decidiram iniciar projetos em casa. No período, surgiu o Quarentena Sessions, em que os integrantes gravavam vídeos com músicas de esperança.

Com a retomada de algumas atividades, o coral fez algumas apresentações, sempre com máscara e mantendo distanciamento, mas devido aos riscos de infecção, decidiram suspender temporariamente os espetáculos. Os ensaios também foram interrompidos. “Estamos parados, com medo e receosos. Da forma que o vírus está mais sério, decidimos dar essa pausa. Neste período, cada um está tocando um projeto pessoal diferente. Fizemos vários eventos de Natal no fim do ano, foi o que salvou financeiramente, mas, agora, estamos parados”, conta o diretor musical da Broadway Show, Pedro Mendonça, 38.

Enquanto ensaios e apresentações estão suspensos, os integrantes se encontram virtualmente. “Estamos desestimulados, para dizer a verdade. No grupo do WhatsApp mandamos fotos, porque dá muita saudade. Sentimos falta das pessoas nos ouvirem, aplaudirem. A gente se emociona com isso”, finaliza Pedro.

 

Acompanhe o trabalho dos corais:

Coral da UnB

Instagram: @coraldaunb

Coral dos Servidores da UnB

Instagram: @coralservidoresunb

Coro Feminino Cantares da Escola de Música de Brasília

Instagram: @corocantares

Broadway Show

Instagram: @broadway.show_

 

 

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    Quatro coristas deixaram o Coral dos Servidores da UnB por não se adaptarem ao modelo virtual. Atualmente, o grupo conta com 27 integrantes Foto: Arquivo Pessoal
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