Referência como fotojornalista, o fotógrafo Alain Barki deixará saudades a todos que tiveram a oportunidade de conhecê-lo. Barki morreu neste domingo (4/4), aos 74 anos, após oito dias internado em Unidade de Terapia Intensiva para tratar um câncer.
Marcelo Barki, sobrinho de Alain, conta que foi um grande susto a descoberta da doença. “Foi muito repentino. No sábado retrasado (27/3) o levamos ao hospital e veio a notícia do carcinoma. A gente não sabia sobre a doença e acredito que ele também não”, conta.
Nas redes sociais, amigos, colegas de profissão e familiares prestaram homenagem ao homem que marcou a história da fotografia na capital, além de ser um marco na profissão em trabalhos icônicos. Alain Barki é um dos fundadores do Lente Cultural Coletivo Fotográfico em Brasília, em 2009, um coletivo sem fins lucrativos (ONG) que reúne trabalhos fotográficos com olhar cultural em diversas frentes de atuação.
O produtor cultural, fotógrafo e jornalista Eraldo Peres, um dos parceiros de Barki na fundação do coletivo, anunciou a morte do amigo nas redes sociais com um agradecimento: “Amigas e amigos, é com muita tristeza que registramos a passagem do querido amigo Alain Barki. Em meu nome e de todos os membros do Coletivo Lente Cultural prestamos nossos sentimentos aos familiares e nossas homenagens ao Alain. Um dos fundadores da Lente Cultural, Barki sempre pulsou alegria, garra e fotografia. Agradecemos o tempo que nos foi possível estar ao seu lado e conviver com suas ideias e sabedoria. Fique com Deus Alain, você sempre estará em nossas lembranças e em nossos corações”.
“Hoje partiu meu querido amigo Alain Barki. Desde os anos 70 ele brincava de não saber se eu era 'sua filha mais velha' ou 'a irmã mais nova'. Partiu sem chegarmos a uma conclusão. Alain teve um câncer e renasceu para outra vida. Muita luz meu querido amigo, pai, irmão!”, escreveu a amiga Valéria Machado Colela.
A fotógrafa Zuleika de Souza conta que uma das coisas que impressionava em Barki era o fato de que ele fotografava desde criança e nunca parou de fotografar. “Ele era muito bem-humorado, muito sagaz, esperto. E, ao mesmo tempo, muito recolhido também”, conta. “Era um fotógrafo provocador, uma fotografia menos óbvia, que precisava de mais interpretação”.
Para o fotógrafo Juan Pratginestós, Barki era um fotógrafo muito lúdico. Eles se conheceram no final da década de 1970, quando Barki deixou o Jornal de Brasília. “Ele gostava de fotografar coisas bonitas. Sempre fazia fotos bonitas, lúdicas, que tinham uma visão positiva de quem ele estava fotografando”, conta.
Uma das amigas mais próximas do fotógrafo, Beth Nardelli lembra que ele era um apaixonado pelo cerrado e pela vida tanto quanto pela fotografia. “Um cara que gostava de ficar sozinho, mas isso não o impedia de se dar bem com todo mundo”, conta a jornalista, que conheceu Barki há mais de 50 anos. “Éramos amigos de vida, daqueles que não precisamos encontrar sempre pra saber que contamos um com o outro. Sou madrinha de uma das filhas dele, a Tati. Perdi um amigo muito querido, um companheiro de farra na juventude e um irmão. Os flashes agora são em outro plano, mas sua luz continuará aqui iluminando a todos nós, que o amávamos”, diz Beth.
O legado continua
Antes de morrer, Alain estava trabalhando em alguns projetos junto com Marcelo Barki. Entre eles, uma coletânea de fotos a ser publicada em livro, além de um site e uma exposição. “Ele estava super ativo. Todo o domingo nos encontrávamos para tratar sobre o planejamento desses projetos”, conta Marcelo Barki, que trabalha na organização do acervo do tio.
“Agora, sozinho, vou dar continuidade ao sonho dele. Tenho comigo essa missão de finalizar os projetos. Vai ter livro, vai ter site, vai ter exposição. Não consigo falar em data, mas as ideias vão se concretizar”, ressalta Marcelo.
Para ele, o tio é muito mais que um familiar. É um amigo e uma referência como pessoa. “Alain Barki foi um profissional que marcou muito, mas também foi um ser humano que marcou. Ele curtiu muito a vida e aproveitou intensamente. Para quem fica é uma perda imensurável”, destaca Marcelo.
As tratativas para o velório e enterro estão sendo feitas nesta segunda-feira (5/4). A expectativa é que Alain seja velado e sepultado, nesta terça (6/5), no cemitério Campo da Esperança na Asa Sul.
Homenagem
O VISIONÁRIO E O VIDENTE
Brevíssima reflexão sobre o olhar e o labor de um fotógrafo
O universo era escuro, depois apareceu a luz, filha brilhante e rebelde das trevas e, para dialogar com ela, Deus inventou o fotógrafo. Por ter sido inventado, ele existe sempre acompanhado do vento, do sopro divino, e, assim, vai buscar nas paisagens, nas criaturas e nos objetos o motivo do seu trabalho. Como visionário, ele sabe onde encontrar os acontecimentos que interessa e os encontra no espaço e no tempo, essenciais para o relato da história. Como visionário, eleantevêos acontecimentos e registra-os, produzindo provas de que aquilo existiu, tornando-os imóveis e referências do passado e tirando-os da condição de fugacidade existente no presente. Assim ele começa o passado, mas também produz na condição de vidente, o inicio do futuro através da leitura da memória escrita pela linguagem universal da imagem.
A criatura mítica do fotógrafo vive a produção do passado na condição de visionário. No presente, ele é ator do tempo e produz o maravilhamento pela autoralidade da obra, oferecendo o que registrou à antevisão do futuro como um vidente. A alma e os olhos sensíveis do fotógrafo brilham diante do encanto e lacrimejam a cada instante vivido e fotografado de cenas que oferecem também a antevisão de desastres.
O fotógrafo é um visionário e proporciona a todos um exercício de clarividência, para o gozo ou para o sofrimento. O gozo tem semelhanças em qualquer parte do mundo, enquanto que o sofrimento tem milhares de rostos e situações diferentes... Infinitas feições da dor.
Prof. Pedro Jorge de Castro
Doutor em Comunicação e Artes – USP
Pós Doutor –Unuiversita de Roma Lá Sapiensa.
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