O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) vai instaurar uma notícia de fato para apurar a vacinação contra a covid-19 do ex-comandante-geral da PMDF Julian Pontes e de outros integrantes do alto comando da corporação. Nesta sexta-feira (3/4), o coronel foi exonerado após tomar a "xepa" da vacina, ou seja, as doses remanescentes destinadas aos policiais militares que atuam na linha de frente, como prevê a circular vigente da Secretaria de Saúde (SES-DF).
Ao Correio, o promotor da 2ª Promotoria de Defesa da Saúde, Clayton Germano, afirmou que vai instaurar a notícia de fato na segunda-feira (5/4) e, em seguida, ouvirá todos os envolvidos para, depois, concluir se a atitude do ex-comandante-geral da PMDF e dos outros militares trata-se de crime ou improbidade administrativa.
Fontes policiais ouvidas pela reportagem informaram que, além de Julian Pontes, outros dois militares, incluindo o subcomandante-geral da corporação, coronel Cláudio Fernando Condi, e o irmão dele, o subcomandante operacional do 2º Comando de Policiamento Regional, tenente-coronel Eduardo Condi, receberam os imunizantes. Eduardo Condi passou a atuar na área administrativa da PMDF após ser indiciado 23 vezes por tráfico de animais silvestres, fraude processual, maus-tratos e associação criminosa no âmbito da operação Corn Snake, deflagrada pela 14ª Delegacia de Polícia (Gama) em julho do ano passado.
"Eu já estava tratando desse caso ontem (sexta-feira) ao saber dessa informação. Expedi recomendação à SES-DF para que regulamentasse a sobra de doses nos postos de saúde. A secretaria concluiu que as doses remanescentes seriam dadas aos PMs, na justificativa que eles estão trabalhando na ponta, fazem a segurança do perímetro e trazem as doses, ou seja, estão expostos. Só que a circular define que as ‘xepas’ são destinadas aos militares que fazem o trabalho de rua. Vamos ouvir todos os envolvidos e, se porventura, surgir alguma controvérsia, iremos escutar os profissionais que aplicaram a vacina", explicou o promotor Clayton Germano.
O outro lado
Após a exoneração, Julian Pontes se manifestou sobre o assunto e esclareceu que, “apesar de poder ser classificado como inoportuno, tal ato não foi ilegal”. “Em nenhum momento furei os critérios estabelecidos para a vacinação, sendo vacinado dentro das doses remanescentes, após o término do período regular e sob a coordenação do funcionário da Secretaria de Saúde”. Por fim, o policial afirmou que acolheu a decisão do governador Ibaneis Rocha (MDB) em relação à exoneração e agradeceu “a confiança depositada nesse período”.
Outros dois policiais também foram acusados de furar a fila de vacinação, mas negaram ter recebido o imunizante. Um deles é o chefe do Departamento Operacional (DOP), coronel Hemerson Rodrigues. “Não vacinei e não vou vacinar enquanto meu último homem não vacinar. Sou um profissional de 30 anos de carreira, sabem que eu não fiz. Todo final de semana estou na Esplanada. Quem não me conhece acha que eu tomei a vacina e, por dever moral, não faria isso e não farei. Estou com restrição (de sair de casa) porque minha esposa está grávida. Não procurei ninguém para ser vacinado. Achei isso uma injustiça como profissional”, declarou, ao Correio.
A reportagem procurou o subcomandante-geral da PM, coronel Cláudio Fernando Condi, e o subcomandante operacional do 2º Comando de Policiamento Regional, tenente-coronel Eduardo Condi, mas até o fechamento desta edição não obteve retorno. O espaço permanece aberto para manifestações.
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