Os 50 anos de Ceilândia chegaram, e a maior região administrativa do Distrito Federal não pôde celebrar com toda a festa e entusiasmo que a ocasião merecia. Mas o momento difícil há de passar e certamente os ceilandenses poderão comemorar os próximos aniversários da cidade em grande estilo.
Ceilândia guarda parte determinante da essência de Brasília. Ali, candangos construíram, pela segunda vez, uma cidade do zero. Direto do barro, ergueram suas casas e cravaram símbolos de resistência. O principal deles é cartão-postal da região até hoje. Tombada em 2013, a caixa d’água foi construída apenas seis anos depois da inauguração. Mais um direito fundamental conquistado a muito custo.
Enquanto nos eixos se edificava a cidade dos sonhos, da terra batida que abrigou moradores retirados, principalmente, da Vila do IAPI brotavam os planos de uma vida melhor, mais digna, de filhos alimentados e sadios. Brasília e Ceilândia são puro contraste, mas se integram como cores complementares no círculo cromático.
Impossível compreender todas as nuances da região, que é um dos berços da cultura nordestina no DF, sem ser de lá. Ela permite, no entanto, a qualquer visitante de coração aberto vivê-la intensamente, como um bom anfitrião do Nordeste. A Casa do Cantador dá lugar à tradição do repente e do cordel, mas também a manifestações culturais diversas e atuais. Do rap aos animes. Preconceito é palavra sem vez no vocabulário do ceilandense de raiz.
Tem até o próprio movimento popular, batizado de “por uma Ceilândia melhor”. O Mopocem, inclusive, não deixou a data passar em branco. Além da militância e da luta diária por melhores condições de vida, educação e trabalho na região administrativa, debate o futuro, discute soluções possíveis e necessárias e organiza as devidas reverências.
No sábado, data que marcou os 50 anos da inauguração, integrantes do coletivo, apoiados pela Administração Regional, afixaram uma placa em homenagem à data na Feira Central, marco da diversidade de Ceilândia. Com o título de “Meio século de luta”, lá ficará o registro da trajetória nessas últimas décadas, um resumo da criação e a linha do tempo com todos os setores que a cidade ganhou até hoje.
Na edição de 26 de março de 1971, véspera da inauguração, reportagem do Correio resumiu como seria o processo de transferência dos moradores das vilas e deu a dimensão do potencial daquela região: “Assim vai ser iniciada a mudança de uma população que constitui 15 por cento da população de Brasília e implantada uma cidade maior que milhares de cidades brasileiras com até mais de um século de existência”. Ceilândia nasceu gigante e se tornou monumental.