“Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens.” O versículo bíblico retrata a vida do padre Aleixo Susin, que aos 93 anos deixa amigos, familiares e fiéis. Conhecido em Brasília como idealizador e fundador da Via Sacra do Morro da Capelinha, em Planaltina, a mais tradicional da capital, o sacerdote faleceu na noite de sexta-feira, após complicações decorrentes da doença de Alzheimer, diagnosticadas há dois anos.
Natural de Caxias do Sul (RS), ainda adolescente entrou na Congregação de São José (Josefinos de Murialdo). Estudou filosofia com os padres jesuítas em São Leopoldo (RS) e formou-se em teologia na Universidade Gregoriana, em Roma, onde também foi ordenado sacerdote. No início deste mês, o padre foi levado para sua cidade natal, para passar os últimos momentos em família.
Ao longo dos seus 93 anos, Aleixo serviu a Congregação de São José como mestre de noviços e professor. Em 1969, veio para Brasília. Foi o primeiro pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo, no Guará 1, onde serviu por 48 anos. Em 1970, assumiu a Paróquia São Sebastião, sem Planaltina, onde permaneceu por 14 anos. Pároco, vigário paroquial, confessor, mestre de vida, orientador espiritual de muitas pessoas do DF, padre Aleixo deixa como memória sua vida de total entrega à missão religiosa.
“Um homem cheio de virtudes, nasceu para ser padre. Não tinha outra vocação, ele falava”, explica a administradora e amiga Viviane de Paula Araújo, 40 anos. De acordo com ela, Aleixo viveu o amor a Deus expressado também em suas belas artes, como a Via Sacra do Morro da Capelinha. “Sua vida foi de total doação à Santa Igreja e ao povo de Deus, a quem amava incondicionalmente”, recorda. Segundo Viviane, o sacerdote será sempre lembrado como um homem bom, cordial, alegre e caridoso. “Um padre humilde, disposto sempre a ajudar, mesmo na sua velhice, brincava e fazia-nos sorrir”, explica.
Atual pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo e também amigo de Aleixo, o sacerdote Sérgio Murilo Severino diz que o sacerdote deixará saudades pela amabilidade, paciência e carinho dirigido a todos e a todas que o conheceram. “Perdemos um homem na terra e ganhamos mais um santo no céu. Vai em paz, padre Aleixo, que os anjos te acompanhem e Cristo Bom Pastor te receba na eternidade”, disse.
Homenagens
A Paróquia São Paulo Apóstolo transmitiu, na manhã de ontem, a missa de corpo presente em homenagem ao religioso. A cerimônia foi realizada na Paróquia Nossa Senhora de Caravaggio, em Caxias do Sul (RS), onde o religioso estava desde o início deste mês. A transmissão, feita pelas redes sociais da paróquia, foi acompanhada por mais de 1,3 mil pessoas. Nos comentários, muitas homenagens de fiéis e amigos do padre. “Gratidão ao padre Aleixo por tudo que fez pela nossa paróquia”, agradeceu uma internauta. “Deus o receba e lhe conceda um bom lugar”, desejou outra.
O velório e o enterro acontecerão em sua cidade natal. Em Brasília, a despedida do padre será na missa de sétimo dia, na quinta-feira, na Paróquia São Paulo Apóstolo. A solenidade deverá ser realizada com homenagens de vida e reconhecimentos da comunidade, segundo o pároco da comunidade.
Em seu perfil nas redes sociais, o deputado distrital Claudio Abrantes (PDT) lamentou a morte do religioso. “Que o Senhor acolha de volta esse homem cuja vida pode ser definida como dedicação e fé”, escreveu. Abrantes, que encenou a Paixão de Cristo por vários anos no papel de Jesus, destacou ainda o legado do pároco para Brasília. “Um homem que punha a mão na massa, Padre Aleixo ajudou a construir casas populares no Guará e também trabalhou firme para erguer a Paróquia São Paulo Apóstolo.”
Admiração pelo papa
Padre Aleixo era um grande admirador do papa Francisco, a quem elogiava os exemplos de simplicidade e de amor. O papa, na visão do religioso, é fora do comum, com “algo do papa João XXIII e do João Paulo II”, como afirmou ao Correio em 2013. “Francisco quer renovar a Igreja, sem estardalhaço. Quer reformar, como Jesus ensinou, pelo amor aos pobres, o amor entre nós e o amor àqueles que não são da nossa religião. Ele quer união com todo mundo: respeitando a religião de cada um”, elogiou o padre à época.