O setor de agronegócio do Distrito Federal recebeu um investimento forte para 2021, mais um ano de pandemia da covid-19. A Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri-DF) liberou R$ 2 milhões para produtores rurais, por meio do Programa de Aquisição da Produção da Agricultura, recurso do governo federal obtido pelo Governo do Distrito Federal (GDF), de acordo com o secretário da pasta, Cândido Teles de Araújo.
Ele explica que esse montante pode ter um acréscimo ainda neste ano. “O governador liberou o recurso da cesta verde, que começou a ser aplicado no ano passado, ainda na pandemia, com R$ 2 milhões. Este ano, conseguimos mais R$ 2 milhões, recebidos no último dia 11. Então, já está nas contas da Secretaria. Há uma grande possibilidade de aumentarmos esse apoio com mais R$ 1,5 milhão por meio de emendas parlamentares. Não vamos deixar o setor desamparado”, assegura Cândido.
“O agronegócio é muito importante para a economia do DF. É o que está dando certo no Brasil. A indústria tem tido dificuldade, com fechamentos de negócios. Mas, no agro, quando se planta, se está vendendo. Em razão da produtividade, esperamos continuar com lucro em 2021. Temos muita tecnologia e lavouras cultivadas adaptadas na região, com cinco centros da Embrapa, que ajudam os produtores. A nossa esperança é continuar avançando na safra”, destaca o secretário.
Segundo a produtora rural de frutas e hortaliças, em Brazlândia, e presidente da Associação dos Produtores de Hortifrutigranjeiros do DF e Entorno (Asphor), Sandra Vitoriano, 59 anos, esse apoio financeiro gera uma boa expectativa para o setor em meio à crise. “Eu me encontrei com o secretário de Agricultura, Cândido, e ele me disse sobre o novo programa do Programa de Aquisição da Produção da Agricultura do DF (Papa-DF), do GDF. Fui para o campo comprar sementes para produzir, porque é um contrato grande que vai dar uma alavancada na agricultura”, diz.
Sandra comenta que o investimento vem em uma boa hora até para a revenda no comércio alimentício do DF que precisa dos alimentos para elaborar os pratos e refeições. “Com o fechamento de bares e restaurantes, a gente fica um pouco apreensivo. Eles também são grandes parceiros do agronegócio, principalmente do hortifrúti e das folhosas. Com a liberação do recurso, vamos assinar contratos para que a agricultura familiar possa dar uma alavancada. Estamos confiantes de que agora vai dar uma boa impulsão no agro para 2021”, complementa a presidente da Asphor.
O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio terminou o ano de 2020 com o crescimento de 24,31%, na comparação com 2019, após alta de 2,06% em dezembro, conforme o Comunicado Técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Com o resultado, o agronegócio ampliou para 26,6% sua participação no PIB total do país no ano passado. Em 2019, este percentual foi de 20,5%.
“É um desafogo”
O diretor técnico operacional das Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa-DF), Fernando Cabral, está otimista com o investimento oferecido pela Seagri-DF. “Esse programa de aquisição é importante, porque representa valor relativamente expressivo. Levando em consideração que é prioritariamente para pequenos agricultores, acaba sendo um grande volume de recursos injetados na economia deles. O fornecimento é constante para dar uma previsibilidade de recurso contínuo. É importante também dentro de uma política de emprego e renda. É um desafogo para eles”, comenta.
“Desde 2020, alguns produtos específicos tiveram redução no plantio. São aqueles cultivados no que a gente chama de circuito curto, como a produção de folhagens, tipicamente formado por quem está dentro de um raio de 150km de proximidade. A demanda do setor privado por esse tipo de produto reduziu demais. Esse produtor perdeu muito espaço, porque os restaurantes compravam muita folhagem. O produtor desse alimento sente muito essa questão. Mas existem alguns efeitos econômicos como esse investimento que você precisa ter para controlar a situação”, esclarece o diretor técnico operacional da Ceasa-DF.
Desempenho
De acordo com os dados do Índice de Desempenho Econômico do Distrito Federal (Idecon-DF), a economia do Distrito Federal se manteve estável no quarto trimestre de 2020, variando em mais de 0,2% em relação ao mesmo trimestre de 2019. O desempenho se deve muito pelo crescimento da agropecuária, com indicador de alta em 3,8%. A agropecuária, por ter sido beneficiada por uma supersafra, em 2020, foi o setor de maior crescimento no 4º trimestre do ano, impulsionada pelo aumento de 11,3% na produção de soja e de quase 100% na produção de sorgo.
Na avaliação do economista especializado em agronegócio, José Luiz Pagnussat, do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), há um crescimento da demanda por produtos advindos da agropecuária. “O leite é um deles, por exemplo, mas a carne principalmente. Tendo um crescimento da demanda por essas matérias-primas, vale a pena engordar mais o boi, porque os preços estão muito bons do ponto de vista do produto. Tem uma razão internacional para essa evolução. De um lado, o câmbio do dólar mais baixo no ano passado. De outro, a demanda dos países cresceu, especialmente pela soja, carne de boi e de porco, mesmo em pleno auge da pandemia, como foi em 2020”, analisa o especialista.
José Luiz acredita que o investimento no agronegócio feito pela Secretaria de Agricultura do DF reforça a influência na geração de empregos. “Essa área da produção de alimentos próxima da cidade, no cinturão do DF, é de pequenas unidades. Então, todo apoio de políticas públicas que garanta algum estímulo de crédito é importante. Tem que ser ajustada à realidade deles, porque os produtores têm um período diferente de maturação do negócio. É um setor com potencial de emprego muito grande, em que tudo é feito com base na mão de obra. É uma decisão correta”, avalia o economista do Corecon-DF.