SOLIDARIEDADE

Com estoques baixos, Hemocentro convoca população a doar sangue

Três tipos sanguíneos estão com os níveis abaixo do recomendado e um tem situação crítica. Fundação ressalta que adota os protocolos de segurança e que os funcionários estão imunizados

A Fundação Hemocentro de Brasília (FHB) está operando com níveis baixos de vários tipos sanguíneos devido à diminuição no número de doações. Com queda de 12% em relação a janeiro, fevereiro recebeu uma média diária de 155 bolsas de sangue. Neste início de março, o Hemocentro registrou mais uma queda, com média de 150 bolsas por dia. A baixa nos estoques começou ainda no fim do ano passado.

Para o chefe da Divisão Técnica da FHB, Alexandre Nonino, o aumento dos casos de covid-19 e o agravamento da pandemia no Distrito Federal estão ligados à queda do estoque, por provocarem uma redução no comparecimento dos doadores. “Como em qualquer momento, também na pandemia a doação é essencial para termos sangue para oferecer aos pacientes internados que precisam de transfusões”, destaca.

As coletas são feitas apenas mediante agendamento para evitar aglomerações neste período de pandemia. Entretanto 25% dos voluntários que marcam a doação de sangue não comparecem efetivamente ao local.

Além do atendimento a pacientes em estado grave de covid-19, as bolsas de sangue são necessárias em procedimentos cirúrgicos de maior porte — caso das operações cardíacas e oncológicas —, que não foram suspensos. Com isso, não houve uma diminuição da demanda por bolsas de sangue nas últimas semanas, pressionando ainda mais os estoques do Hemocentro.

Os tipos sanguíneos O+, O- e B+ estão com os estoques abaixo do recomendado, enquanto B- encontra-se em nível crítico. “É necessário que haja um aumento no número de doações para que os estoques retornem ao nível estratégico. Em relação ao mês anterior, estamos com baixa de mais de 10% de doações’’, enfatiza Nonino.

Gesto nobre

A enfermeira Raylani Welk, 27 anos, já doou três vezes ao Hemocentro. Segundo ela, o ato de solidariedade é um sonho antigo. “Quando completei 18 anos, veio a questão do peso, porque eles exigiam mínimo de 50 kg, e eu não tinha. Então, sempre ficava me pesando com aquela vontade. Na minha família ninguém é doador, mas eu sempre tive esse desejo de doar. Depois que entrei na faculdade, comecei a ter contato (com pessoas necessitadas), e a vontade aumentou mais ainda”, lembra. Para a moradora de Taguatinga, “doar é um ato que não leva muito tempo, é rápido e simples, mas que salva outras vidas”.

Raylani ainda incentivou a amiga Eliadina de Jesus da Silva, 23, a doar também. A estudante de fisioterapia e moradora de Ceilândia fez sua primeira doação ontem, mas diz que sempre teve vontade, embora nunca tenha tomado iniciativa. “Fiquei quase emocionada na hora de doar, porque eu tinha outra perspectiva e achei surpreendente”, pontua. A jovem afirma ter gostado do gesto e conta que já fez o agendamento no celular para saber quando pode repetir a doação.

Outra moradora de Ceilândia, Ana Clara Martins, 18, também esteve no Hemocentro ontem, acompanhada de quatro amigos. Foi a segunda vez que ela doou, sendo a anterior em novembro do ano passado. “Muita gente precisa, muitas vezes essas pessoas estão precisando de sangue, e eu vi que eles publicaram que o estoque está baixo”, afirma a estudante, que acrescentou: “Na primeira vez eu estava com medo e passei mal, mas foi por ser a primeira vez e, às vezes, isso acontece. Mas eu vim de novo, espero que não aconteça”.

Como doar

O Hemocentro atende de segunda a sábado, das 7h às 18h. Como medida de precaução, durante a pandemia de coronavírus, a doação de sangue deve ser agendada pelo site ou pelo telefono 160, opção 2.

Para doar, é necessário ter entre 16 e 69 anos, pesar mais de 51 kg e estar saudável. Além de dormir pelo menos seis horas, com qualidade, na noite anterior à doação. Quem passou por cirurgia, exame endoscópico ou adoeceu recentemente deve entrar no site do Hemocentro para saber se está apto a fazer a doação.

“O Hemocentro segue adotando medidas de prevenção ao novo coronavírus, como o agendamento obrigatório das doações. Além disso, os servidores da instituição já estão imunizados com as duas doses da vacina contra a covid-19”, ressalta Nonino.

Aos vacinados

Especificamente em relação às vacinas contra a covid-19, o Ministério da Saúde atualizou os critérios de impedimento e estabeleceu que pessoas imunizadas com a Coronavac devem aguardar dois dias para se candidatar à doação de sangue, enquanto as imunizadas com a Oxford/AstraZeneca devem aguardar sete dias para doar. Além disso, o teste para covid-19 não é feito pelo Hemocentro, devido às evidências científicas de que a doença não é transmitida pelo sangue.