Juramento a Hipócrates
Horas depois que a cardiologista Ludhmila Hajjar disse não ao presidente Jair Bolsonaro, o empresário brasiliense Alex Pantazis postou no Stories do Instagram uma foto ao lado da ex-futura ministra da Saúde. Irmão do também empresário Basile Hajjar, Alex postou: “Abençoada Dra. Ludhmila! Parabéns por não se submeter a esses doidos”. Os irmãos já tiveram problemas com o Ministério Público, foram alvo de buscas e apreensões e o grego Basile prestou depoimento na CPI das Quarteirizações da Assembleia Legislativa de São Paulo, sobre a compra de respiradores chineses pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, no governo de João Doria. A médica aparece dentro de um jatinho, com a mesma roupa que usou no dia do não.
Prioridade para forças de segurança
Com a morte de quatro policiais militares de covid-19 ontem — sendo dois sargentos na ativa e dois na reserva — cresce a pressão para a imunização de integrantes das forças de segurança, principalmente os que estão na linha de frente. O trabalho de policiamento é de risco, de contato. O secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, que inclusive esteve internado na UTI no ano passado por covid-19, tem reunião marcada hoje com o secretário de Saúde, Osnei Okumoto, para pedir prioridade para vacinação dos policiais. O problema é a falta de doses e muita gente em risco: professores, profissionais de saúde e doentes crônicos. Difícil.
Turismo cívico, uma vocação
A Câmara Legislativa aprovou nesta semana projeto de lei que inclui setembro como o mês do Turismo Cívico no Calendário Oficial de Eventos do DF. De autoria do presidente da Casa, Rafael Prudente (MDB), o projeto segue agora para sanção do governador Ibaneis Rocha. “Essa lei é fruto de um trabalho de estruturação do programa de turismo cívico. Representa o resultado de uma série de ações que o nosso governo vem realizando para fortalecer toda a cadeia produtiva e posicionar Brasília como destino turístico, gerando mais emprego, renda e ainda incentivando que todos os brasileiros conheçam a capital do seu país”, comemora a Secretária de Turismo do DF, Vanessa Mendonça.
Pressão total
Em reunião ontem, o presidente da Conav (Comissão Nacional de Acompanhamento da Vacinação (Conav)), o deputado Rodrigo Delmasso (Republicano), destacou a importância do trabalho técnico e da atuação rápida da Anvisa para a liberação das vacinas e questionou qual é a perspectiva para que os imunizantes em análise possam começar a ser utilizados no Brasil. A Agência alertou que, se cumpridos os critérios para autorização, o processo deve ser mais rápido do que o esperado.
À QUEIMA-ROUPA
Alexandre Cabral
Defensor público da União, autor da ação civil pública que pede a decretação de lockdown no DF
“O principal para retomar emprego e lucro será
sempre estar vivo e ter saúde, e não o contrário”
Desde que a ação civil pública com pedido de medida cautelar para decretação do lockdown foi ajuizada, a taxa de transmissibilidade do DF caiu. Ainda é preciso adotar mais restrições para evitar a circulação das pessoas?
A taxa de transmissibilidade cair é uma boa notícia, mas ela precisa estar abaixo de 1 pra sinalizar equilíbrio e, depois, redução da curva. Se ainda está acima disso, é alta e mostra crescimento da pandemia. Por isso, o entendimento é de que mais restrições, pontuais, podem melhorar esse desempenho salvando vidas e
protegendo a saúde de todos.
Há muitas queixas de filas para leitos de UTI, falta de vagas em
enfermaria e pacientes dividindo equipamentos de ventilação.
Podemos dizer que chegamos a um colapso na saúde pública do DF?
Se não estamos em colapso, estamos perto e a ideia é justamente evitar isso. Os profissionais de saúde, nosso heróis nessa crise, estão esgotados, pergunte a qualquer um da linha de frente. O governo faz esforços, criando leitos de UTI, mas é preciso lutar nas duas pontas, ampliar leitos e reduzir o contágio.
Como atingimos essa situação?
A pandemia tem dinâmica própria, mutações do vírus e outras características que resultaram na “segunda onda” no mundo todo. Ocorre que aqui pecamos pela falta de coordenação entre os entes públicos a permitir que esse novo agravamento, anunciado, nos antingisse tão fortemente. Faltaram: comunicação com o público, interação entre esferas de governo e planejamento de medidas.
Academias e escolas estão funcionando. Igrejas, não. Acha coerente?
Na nossa ação, pedimos o fechamento temporário dessas atividades (academias, escolas e locais de culto) até a inversão da curva de contágio e o equilíbrio do sistema de saúde (em especial de UTIs X demanda).
Como compatibilizar a saúde e o emprego numa pandemia?
O Estado precisa intervir com medidas ágeis. O auxílio emergencial não deveria ter sido suspenso, nem deve ser reduzido se o pior momento é agora. Também é preciso apoiar o empreendedor. O GDF prorrogou prazos para pagamento de impostos e promoveu a desoneração da taxa de ocupação de área pública. Acreditamos que é possível evoluir nisso. O principal para retomar emprego e lucro, porém, será sempre estar vivo e ter saúde, e não o contrário.
O toque de recolher funciona?
O toque de recolher é medida extrema e deve ser excepcional e temporário, apenas no ápice da crise. Tem sido adotado em inúmeros países e cidades, o que fala por sua eficácia. O que não parece lógico é impor uma medida tão grave no geral e permitir tantas atividades abertas como exceções individualizadas ou o transporte público lotado noutros horários.
Qual é a sua expectativa sobre a decisão da Justiça?
Espero uma decisão equilibrada e baseada em fatos e dados técnicos. Solicitamos desde o início uma
audiência de conciliação para o debate e eventual acordo, outra possibilidade. A única pretensão da ação é resguardar a vida e saúde de todos no DF, da melhor e mais rápida forma possível.
A Defensoria pensa em adotar alguma medida
jurídica para tentar acelerar a vacinação?
Não posso falar pela Defensoria do DF, nem por toda Defensoria Pública da União, cada membro age na sua atribuição com independência funcional. O que posso afirmar é que a DPU já acompanha o processo de vacinação em todo o Brasil e já atuou, por exemplo, via recomendação do nosso Defensor Geral Federal, dr. Daniel Macedo, para que as prioridades do plano nacional de vacinação sejam efetivamente observadas, evitando “fura-filas”. Não há, porém, como judicializar tudo que gostaríamos de ver acontecer. No tema das vacinas, por exemplo, é preciso que existam e estejam já no Brasil para que se pense, com alguma efetividade, em otimizar as medidas práticas de imunização.