O verão se despede — levando as altas temperaturas — para dar lugar ao outono e seu clima ameno. A estação começa no próximo dia 20, segue até 21 de junho, no Equinócio, e marca o início do inverno. As folhas no chão, gramados marrons, tingidos pela vegetação seca, e árvores completamente nuas marcam, para alguns moradores do Distrito Federal, o melhor período do ano.
Trazendo consigo características próprias, a estação significa, na prática, o fim do período chuvoso e a diminuição nas temperaturas. “A característica do outono é o período de transição. Tem dias que o tempo estará com aparência de verão, outros com aparência de inverno. Isso já tem início principalmente na região sul do país. Algumas massas de ar começam a passar por ali”, explica o meteorologista Mamedes Luiz Melo, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
O fenômeno do equinócio de outono marca a chegada dessa estação. Época em que os raios solares incidem de forma perpendicular sobre a Linha do Equador e a luminosidade se distribui de forma relativamente uniforme entre os hemisférios Norte e Sul. “A Terra tem seu eixo de rotação ligeiramente inclinado quando estamos no verão do Hemisfério Sul. Essa inclinação nos deixa virados para o Sol. Por isso, o dia fica mais longo. Quando estamos no inverno, é o contrário, estamos virados para longe do Sol, por isso os dias ficam mais curtos”, explica o professor de ecologia da Universidade de Brasília (UnB) Eduardo Bessa.
Considerada a estação de transição, nela, o comportamento dos animais também muda. “Os animais investem em fazer crescer os filhotes produzidos nos meses quentes. Muitas espécies se despedem do cerrado para migrar para ambientes mais úmidos, como os tizius”, explica o professor. De acordo com Eduardo, essa rota de migração está sendo desvendada só agora por doutorandas da pós-graduação em ecologia da UnB.
O outono permite aos organismos do cerrado se prepararem para nossa seca severa. “As folhas perdidas pelas plantas passarão a seca sendo processadas por organismos que vão desde cupins até fungos, de forma a devolver para o solo seus nutrientes, que servirão de adubo novamente para as plantas que retomam a produção de folhas e irão florescer”, ressalta o especialista.
Vegetação
Muitas espécies do cerrado, principalmente as que não são árvores, intensificam a produção de flores e frutos no outono, e consequentemente dispersam suas sementes na estação seca, as quais ficarão em estado de dormência, aguardando o início da estação chuvosa para germinar. “No outono, muitas espécies também iniciam a floração, como os ipês-roxos, e essa fase se estende até o final da estação seca, quando ocorre uma grande dispersão de sementes que germinarão no início da estação chuvosa e contarão com esse período para crescer e se estabelecer na comunidade de plantas”, explica a professora de botânica da UnB Cássia Beatriz Rodrigues Munhoz.
Todos os processos de floração e frutificação das espécies, e os períodos que eles ocorrem, denominados de fenologia reprodutiva, estão associados ao sucesso das espécies de plantas para se estabelecerem e se manterem no cerrado. “No final do outono, uma boa parte da vegetação rasteira do cerrado seca, formando uma biomassa de combustível inflamável, a qual torna o cerrado muito susceptível ao fogo”, ressalta Cássia.
Em alta frequência, a professora explica que o fogo compromete a estrutura e a diversidade da flora do cerrado. “Diferentemente das regiões temperadas, as árvores do cerrado não perdem suas folhas no outono, e as que perdem folhas realizam essa perda no auge para o final da estação seca”, completa Cássia.
Admiração
A história que define as cicatrizes das árvores brasilienses marca também a vida da estudante universitária Sabrina da Costa Silva Barros, 21 anos. “Normalmente achamos que uma árvore é bonita pelas flores e cores, sendo que é muito mais. No outono, as flores caem e as árvores podem mostrar suas histórias e cicatrizes. Eu fico admirada”, pontua.
A moça conta que a paixão pelo outono foi além da admiração. Ela criou o bazar OUT inspirado na estação que, para a estudante, representa transição e recomeço. “Quando pego uma roupa usada, dou uma nova chance no brechó. Através dele, ela ganha uma nova história, um novo lar, então faz a transição, do estado que não gosta mais e vira uma roupa que pode ser amada por outra pessoa”, ressalta.