Quarenta e dois dias depois do início, a vacinação de idosos contra a covid-19 começa a apresentar reflexos no Distrito Federal, bem como as medidas de restrição de circulação anunciadas no começo do mês. Dados da Secretaria de Saúde (SES-DF) apontam que a aplicação da primeira dose no público de idade igual ou superior a 80 anos — iniciada em 1º de fevereiro — tem contribuído para a redução da ocupação dos leitos de unidades de tratamento intensivo (UTIs) da rede pública voltados aos pacientes infectados pelo vírus. Por outro lado, a utilização de vagas em UTIs por pessoas na faixa etária de 65 a 79 anos está em forte ascensão.
“Quando nós fizemos uma análise comparativa do perfil epidemiológico por idade, não foi percebida exatamente uma redução, mas uma flutuação na faixa etária de 80 anos ou mais, com uma tendência leve à redução. Não foi uma diminuição significativa, mas, comparativamente ao grupo de idosos menores de 80 anos, esses ascenderam na internação. Ou seja, percebemos que a transmissão neste momento não acometeu esse público maior de 80 anos”, explicou o secretário adjunto de Assistência à Saúde do DF, Petrus Sanches.
Em 22 de fevereiro, havia 53 pacientes na faixa de 65 a 69 anos internados em leitos de UTI para covid. Duas semanas depois, em 7 de março, esse quantitativo chegou a 125, o que representa um aumento de 135%. No mesmo período, no grupo de idosos com 80 anos ou mais — que recebeu a aplicação da primeira dose —, o número passou de 30 para 28, o que sugere uma estabilidade, com pequena redução de 6,6%.
A secretaria alerta, contudo, que a imunidade alcançada com a primeira dose é baixa. Assim é recomendada a manutenção de todos os cuidados para evitar a infecção pelo coronavírus. A maior proteção adquirida com a vacinação tem ocorrido 21 dias após a aplicação da segunda dose, apontam estudos. Mesmo neste caso, deve-se manter as medidas de profilaxia, como evitar aglomerações, usar máscara e higienizar as mãos com água e sabão ou álcool em gel.
Outro grupo prioritário no plano de vacinação é o de profissionais de saúde, cuja vacinação começou em 19 de janeiro. Em relação a esta parcela, não houve crescimento nas internações dentro da rede privada ou pública. “Este perfil epidemiológico permaneceu com um limite muito pequeno em relação ao número de internações. A partir de uma análise gráfica não percebemos um acometimento maior dos profissionais da linha de frente, só que é mais difícil obter um controle maior desse grupo porque muitas vezes ele se sobrepõe também aos critérios de idade, comorbidades e, às vezes, são profissionais de fora da rede pública”, detalhou Petrus Sanchez.
Transmissão
A taxa de transmissão do novo coronavírus caiu para 1,12 no Distrito Federal — cada 100 infectados contaminam outras 112 pessoas —, após o decreto de fechamento do comércio e do toque de recolher. O anúncio foi feito ontem pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), por meio de uma rede social. Até quarta-feira, o índice de transmissibilidade estava em 1,28, e já chegou, nas últimas semanas, a 1,38. Apesar da redução, o momento ainda é de alerta, uma vez que o número acima de 1 indica expansão da pandemia. Como sinal disso, os leitos de UTI das redes pública e privada de saúde seguem lotados, e centenas de pacientes aguardam por uma vaga.
Pelo Twitter, Ibaneis Rocha comemorou a redução da taxa de transmissão, mas chamou a atenção da população para o cumprimento das medidas sanitárias. “A taxa de transmissão da covid no DF, que já foi de 1,38, baixou para 1,12. Isso significa que as medidas que tomamos deram certo. Mesmo assim ainda é muito alta! É preciso que mantenham o uso de máscara, álcool gel e o distanciamento”, escreveu o chefe do Executivo local.
Com base no decreto assinado pelo governador, o fechamento das atividades não essenciais terá duração até 22 de março, mesma data prevista para o fim do toque de recolher. O secretário da Casa Civil, Gustavo Rocha, no entanto, não descarta a possibilidade de o governo implementar medidas mais restritivas, caso o cenário da pandemia no DF piore. Ele alertou, porém, sobre informações falsas. “Essa análise é constante. Se esse cenário não retroceder, poderão vir outras medidas mais adiante. Mas, repito, cuidado com as fake news”, advertiu o chefe da pasta. Na sexta-feira, o GDF desmentiu, em comunicado oficial, mensagem que circula nas redes sociais sobre suposto “lockdown geral” na cidade. “As medidas já tomadas para reduzir a taxa de transmissão da doença estão surtindo efeito — principalmente o toque de recolher a partir das 22 horas — e todas as alternativas estão sendo estudadas.”
Ontem, o Correio percorreu pontos da área central do DF e encontrou ruas vazias e pouco movimento nos estabelecimentos com funcionamento permitido, como os supermercados. Na Asa Sul, nas quadras 300 e 700, por exemplo, poucas pessoas caminhavam pelas ruas e os estabelecimentos comerciais, como lanchonetes e restaurantes, obedeciam às normas impostas.
Apesar das restrições, o índice de isolamento no DF caiu de 45,3% em 7 de março — data do decreto do GDF — para 35,8% ontem, segundo o instituto Inloco, que monitora o deslocamento de pessoas com base em dados de aparelhos celulares.
Espera por vaga
Dados mais recentes do InfoSaúde mostram que, no total, 279 pessoas aguardam por um leito de UTI na rede pública. Dessas, 207 são para tratamento de covid-19. Sob condição de anonimato, um profissional de saúde de um hospital público relatou o caos. “Não para de chegar paciente e não sabemos mais o que fazer. Não há vagas, não adianta. Temos pacientes recebendo tratamentos sentados, outros no chão”, descreveu.
A rede pública de saúde dispõe de apenas um leito adulto de UTI disponível e a capacidade está em 99,66%. Para as crianças e bebês que precisam de internação, são nove vagas: sete no Hospital da Criança (pediátrico) e duas no Hran (neonatal). Contudo, cabe lembrar que há centenas de pessoas esperando por uma vaga e, à medida que pacientes morrem ou recebem alta médica, os leitos são ocupados imediatamente. A capacidade de ocupação nos hospitais particulares também está alta: 98,77%. Painel do InfoSaúde mostra que há cinco leitos. Quatro deles são adultos e um, neonatal.
Na tentativa de desafogar o sistema de saúde, ontem, Ibaneis anunciou o reforço de mais 100 leitos de UTI para o tratamento da covid-19. Segundo o GDF, serão abertos 80 leitos no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) e mais 20 no Hospital de Base, estes com suporte dialítico, para pacientes que precisam de hemodiálise. A previsão de entrega, segundo o Instituto de Gestão Estratégica do DF (Iges), é na próxima semana. “É mais um esforço que estamos fazendo para atender a nossa população, mas precisamos contar com todo mundo para combater essa doença”, pontuou o governador.
*Estagiária sob supervisão de Fernando Jordão
Registro de óbitos de idosos com mais de 80 anos no DF
Dezembro de 2020
69 óbitos
Janeiro de 2021
101 óbitos
Início da Vacinação em 1º de fevereiro de 2021
Fevereiro
77 óbitos
Março de 2021
55 óbitos
Total desde dezembro:
302 óbitos
*Dados atualizados em 13 de março de 2021 pela SES-DF