Considerada a medida mais rígida de distanciamento social, o lockdown tem se tornado a última cartada dos governantes para frear os números dramáticos da covid-19. No DF, a restrição prevalece desde 28 de fevereiro, em um modelo mais flexível, pois escolas particulares e academias estão funcionando. Especialistas ouvidos pelo Correio explicam por que uma ação mais rígida é necessária diante do pior cenário de pandemia que a capital atravessa.
O médico epidemiologista Márcio Bittencourt aponta que a diminuição do contato físico evita a propagação do novo coronavírus. “O vírus passa de pessoa a pessoa. Quanto mais tempo elas circularem, mais próximas uma das outras, maior a chance de entrar em contato com alguém infectado. O objetivo (do lockdown) é espaçar as pessoas e diminuir o tempo de contato, principalmente em ambiente fechado”, afirma.
De acordo com o epidemiologista especialista em imunização José Cássio de Moraes, medidas restritivas severas são adotadas em vários países. “A prioridade é reduzir o colapso hospitalar — que é o que está acontecendo agora. Essa é uma experiência recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), aliada ao uso de máscaras e álcool em gel”, diz. “O vírus é transmitido de pessoa a pessoa. Se elas não se encontram, vamos criar uma barreira”, destaca.
O Governo do Distrito Federal (GDF) afirmou que, mesmo com as restrições parciais, o isolamento subiu pouco: apenas 5%. José Cássio destaca que, para se tornar eficaz, seria necessário adotar um modelo mais severo: “Um lockdown curto, de duas semanas, e com um apoio da população nesse período. Se não houver um lockdown bem-feito, isso vai ser ineficiente. Ou a gente faz de uma maneira séria e correta ou não vamos conseguir”, explica.
Na avaliação da médica epidemiologista Ethel Maciel, essa é a única alternativa para frear os números alarmantes. “O infectado vai transmitindo para mais e mais pessoas, crescendo exponencialmente. Essa (a restrição ampliada) é a única forma agora. O que podemos fazer para impedir a circulação do vírus é evitar a circulação de pessoas”, ressalta.
O Distrito Federal registrou, nesta quinta-feira, 21 mortes causadas pela covid-19 e 1.858 novos diagnósticos. De acordo com boletim divulgado pela Secretaria de Saúde do DF, o número de pessoas infectadas desde o início da pandemia chega a 312.956. Desse total, 292.406 estão recuperadas e 5.048 morreram. A média móvel de casos está em 1.539, sendo 67,85% a mais do que o índice de 14 dias atrás. A média de óbitos está em 18,57 — representando variação de 69% no intervalo de 14 dias atrás.