Instituições de ensino particulares e academias estão autorizadas a retomar as atividades presenciais a partir desta segunda-feira (8/3), no Distrito Federal. O funcionamento desses estabelecimentos estava suspenso desde 28 de fevereiro, como parte da estratégia de combate à pandemia da covid-19. No entanto, a liberação do retorno divide opiniões entre representantes e frequentadores dos setores afetados, devido à ocupação dos leitos em unidades de terapia intensiva (UTI) para tratamento da doença passar de 90%, tanto na rede pública quanto na particular. Além disso, a taxa R(t), que calcula transmissão do novo coronavírus, está em 1,35. O resultado significa que cada 100 infectados podem contaminar, em média, outras 135 pessoas.
Na sexta-feira (5/3), o governador Ibaneis Rocha (MDB) liberou, por meio de decreto, o retorno das aulas em escolas e academias, mas com ressalvas. O texto prevê que esses locais devem seguir as medidas de segurança e os protocolos recomendados pelas autoridades sanitárias, como garantir distância mínima de dois metros entre as pessoas; proibir que integrantes do grupo de risco trabalhem; disponibilizar álcool em gel; cobrar o uso de máscaras e aferir a temperatura de todos os presentes. Além disso, as escolas devem atuar com rodízio de estudantes, e as academias não podem fazer aulas coletivas.
Michelle Silva, 49 anos, conta que se sentiu segura com as medidas de segurança adotadas pela escola do filho, Augusto César Silva, 16. “Além de confiar na unidade de ensino, confio em meu filho e sei que ele entende a necessidade de usar máscaras, manter o distanciamento social e higienizar as mãos”, relata Michelle. Apesar disso, a moradora da Octogonal ainda se mantém atenta. “Mesmo em casa, tomamos todos os cuidados e seguimos preocupados com o vírus”, completa.
A cuidadora Ana Moura, 49, frequenta assiduamente a academia há 14 anos e diz que deve voltar, nesta segunda-feira (8/3), às atividades esportivas presenciais. “O local que frequento tem todo um cuidado e me sinto segura. Eles não fazem aulas coletivas e mantêm um número reduzido de alunos em cada horário, todos com máscara, além de higienizarem o espaço constantemente”, relata. Para a moradora de Vicente Pires, o exercício físico faz a diferença na rotina. “Quando soube que as academias reabririam, foi um alívio”, acrescenta Ana.
Representantes
Assim como entre os que frequentam escolas e academias, a volta das atividades presenciais dividiu representantes de entidades sindicais. O Sindicato das Academias (Sindac-DF) ressaltou que todas as instituições seguirão as medidas de segurança. “Graças ao novo decreto estamos liberados e vamos abrir as portas na segunda-feira (8/3), seguindo todas as nossas normas à risca. Assim, vamos garantir não só a saúde da população como também a segurança em nossos ambientes”, informou a entidade em nota.
A presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinepe-DF), Ana Elisa Dumont, também é favorável ao retorno das atividades presenciais. Para ela, as escolas deveriam ser consideradas atividades essenciais. “Cerca de 85% dos estabelecimentos (de ensino) devem retornar hoje. A escola é um serviço essencial, pois cuida da saúde mental e cognitiva dos estudantes”, defende.
Já Rodrigo de Paula, um dos diretores do Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinproep-DF), não vê motivo para o retorno e espera uma intervenção por parte do Ministério Público do Trabalho (MPT). “Vamos nos reunir com a instituição e com o GDF (Governo do Distrito Federal) amanhã. Esperamos que o MPT barre essa retomada. De qualquer forma, continuaremos fiscalizando os estabelecimentos e o distanciamento entre os alunos e os servidores”, afirma. Na reunião, o sindicato também cobrará um calendário de vacinação contra a covid-19 para a área de educação.
Palavra de especialista
Sem margem para erros
Vejo a volta das atividades presenciais em escolas e academias com muita preocupação, porque estamos em um cenário de aumento progressivo da taxa de transmissão do vírus e com o sistema de saúde sobrecarregado. Não temos margem para erros, para acompanhar e ver se os locais vão conseguir cumprir as regras sanitárias. Estamos em uma situação de crise. Talvez, essa discussão deveria ter sido feita antes de atingirmos um cenário crítico. Com a volta das atividades presenciais, pode haver impacto na taxa de transmissão. Se isso acontecer, não teremos leitos para todos. Por isso, neste momento, a abertura de qualquer atividade é perigosa. Cabe à população aderir às medidas restritivas o máximo que conseguir. Claro que, quem precisar trabalhar presencialmente e estiver liberado pelo Poder Executivo, deve ir. No entanto, quem puder deve ficar em casa.
Valéria Paes, infectologista da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal