GÊNERO

Pesquisa do IBGE atesta desigualdades no DF

“Ser mulher e negra é difícil em qualquer território no Brasil”, sentencia a professora de dança Joceline Gomes, 33 anos. A frase dela resume alguns dos resultados compilados por uma pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se da segunda edição do levantamento Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres. No caso do Distrito Federal, a desvantagem delas na comparação com os homens bateu recordes.

No mercado de trabalho, as mulheres foram as mais afetadas pelo desemprego, em 2019. Enquanto 16,1% delas estavam desocupadas, a falta de trabalho atingiu 10,8% dos homens. A diferença — de 5,3 pontos percentuais — foi a maior verificada na série histórica do IBGE, que começou em 2012. Em relação às mulheres negras, a situação é mais grave: a taxa chegou a 18,6%, quase o dobro do resultado observado entre homens brancos (9,6%).

Para a analista censitária do IBGE Aline Schons, os indicadores refletem uma situação enraizada. “Essa discrepância entre mulheres brancas e pretas ou pardas é uma questão estrutural brasileira, herança de uma sociedade escravocrata e, também, consequência do racismo. Quando analisamos essas duas variáveis ao mesmo tempo, percebemos que o impacto é maior, pois fica evidenciada a sobreposição entre as desigualdades de gênero e de raça”, ressalta.

As mulheres também dedicaram mais tempo a atividades não remuneradas. Em 2019, foram 18,8 horas semanais, em média, voltadas a afazeres do lar e a cuidados com outras pessoas. Os homens gastaram 10,8 horas nessas tarefas. Quando Joceline Gomes morava com a mãe e o irmão, ela observava essa diferença. “Eu me dedicava mais a essas funções, lavando louça e limpando a casa, por exemplo. Isso deveria ser para todo mundo. A gente precisa dividir, porque tem uma sobrecarga muito grande”, comparou a professora.

Educação e política

O levantamento do IBGE aponta que, mesmo com mais educação e qualificação, do que os homens, as condições para as mulheres no mercado de trabalho são piores. No DF, a remuneração delas é cerca de 27% menor que a dos homens, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua de 2018. Além disso, 28,7% delas têm ensino superior completo; para os homens, esse índice é de 26,6%. Também em relação à educação superior, 45,5% dos docentes são mulheres no Distrito Federal. Mas o resultado é a menor proporção do Centro-Oeste.

Outro aspecto revelado pelo estudo diz respeito à representação política. Em 2020, a bancada do Distrito Federal na Câmara dos Deputados teve maioria feminina: de oito parlamentares, cinco são mulheres. Contudo, na Câmara Legislativa, as quatro distritais equivalem a 16% dos 24 parlamentares. A sub-representação se repete nos cargos de liderança em órgãos públicos e empresas, onde os homens lideram em 63,9% desses postos.