CORONAVÍRUS

Vacinação: DF deve receber novas doses nesta quarta e ampliar público atendido

Idosos com 75 anos serão incluídos na campanha, caso o DF receba do Ministério da Saúde, nesta quarta-feira (3/3), 26,2 mil doses de CoronaVac. Pessoas com 70 anos e profissionais da linha de frente em áreas sociais podem entrar no plano de imunização até o fim do mês

O Distrito Federal deve receber, nesta quarta-feira (3/3), mais 26,2 mil doses da CoronaVac, imunizante contra a covid-19 produzido pelo Instituto Butantan, em São Paulo, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. Caso a remessa chegue, começará, na quinta-feira (4/3), a vacinação de pessoas com 75 anos. A Secretaria de Saúde (SES-DF) calcula que o grupo seja composto por cerca de 9.363 idosos. O Executivo local pretende, até o fim de março, finalizar o atendimento de todos os brasilienses com mais de 70 anos. Se a previsão se concluir, em abril, terá início a aplicação das doses em pessoas com 65 anos ou mais, além do público em geral.

A ampliação da campanha de imunização é uma das principais medidas para combater o avanço da pandemia da covid-19. Entre segunda (1º/3) e terça-feira (2/3), a SES-DF confirmou 563 novos casos de infecção pelo novo coronavírus e 22 mortes pela doença. Com isso, o total de contaminados chegou a 299.399, e o de vítimas, a 4.887. Além disso, por volta das 18h, 88,67% dos leitos públicos e privados em unidades de terapia intensiva (UTIs) voltados a esses pacientes estavam ocupados. Do total de 459 vagas, apenas 43 estavam disponíveis, e nove, bloqueadas.

Até terça-feira (2/3), 143 mil pessoas haviam sido imunizadas contra o novo coronavírus. Segundo o governador Ibaneis Rocha (MDB), o Executivo local conta com a distribuição de cerca de 30 milhões de doses pelo Ministério da Saúde para todo o país, neste mês. Com isso, outros trabalhadores devem entrar nos grupos prioritários nas próximas semanas. “Fiscais e auditores da (Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística) DF Legal, assistentes sociais e conselheiros tutelares. Mandei fazer um levantamento das áreas mais sensíveis, para decidir em conjunto com a Secretaria de Saúde”, afirmou.

Desde o início da pandemia, o Distrito Federal recebeu seis remessas com os imunizantes, um total de 240.560 unidades. Até terça-feira (2/3), 52.680 pessoas haviam recebido as duas doses. Em estoque, a SES-DF conta com 10,2 mil doses de vacinas contra a covid-19. Questionado sobre os envios ao DF, o Ministério da Saúde informou que está “elaborando o cronograma de distribuição da nova remessa de vacinas do Instituto Butantan”.

Na avaliação de Ana Helena Germoglio, infectologista do Hospital Águas Claras, a vacinação deve ocorrer de forma “sistemática e gradativa”, priorizando grupos com maior risco de evolução para casos graves. Só após a imunização de cerca de 80% da população, segundo ela, será possível controlar a circulação viral e reduzir o número de casos. “A pandemia tem desafiado pesquisadores e gestores a encontrar medidas que evitem o colapso dos sistemas de saúde e reduzam as mortes. Estudos sugerem que o distanciamento social, desde que bem adotado pela população, é efetivo, especialmente quando combinado à testagem ampla, ao isolamento de casos confirmados e à quarentena dos contactantes”, ressaltou a médica.

Protesto

Apesar de especialistas defenderem a adoção de medidas restritivas e de distanciamento social para evitar a disseminação do novo coronavírus, o Distrito Federal encontra-se na sétima posição no ranking que avalia o índice de isolamento nas unidades federativas, com taxa 37,02%. Os dados são da plataforma Inloco. Ainda assim, na terça-feira (2/3), mais de 60 manifestantes se reuniram em frente à Câmara Legislativa (CLDF) para protestar contra o fechamento de alguns setores. A medida, decretada pelo Executivo local, começou a valer no domingo.

Ao som de buzinas e vestidos com blusas pretas ou com as cores da bandeira do Brasil, os manifestantes levantavam cartazes e faixas com dizeres como “Queremos trabalhar” e “Salvar empregos também é salvar vidas”. O ato, que durou mais de três horas, foi coordenado pelo bolsonarista Renan Silva Sena — preso em junho por gravar vídeos xingando Ibaneis e atacando instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional. Renan é o mesmo que, em maio, hostilizou enfermeiras durante um protesto silencioso promovido pela categoria na Praça dos Três Poderes. “Estamos lutando pelos nossos direitos. Não pense vocês que o lockdown vai quebrar a todos. Isso é uma mentira. Pelo contrário, ele atingirá somente a nós, empresários”, disse ele, na terça-feira (2/3).

A maioria dos manifestantes eram empresários que pediam a reabertura do comércio. Aurileia da Silva, 45 anos, administra uma loja de roupa de bebês na Feira dos Goianos, em Taguatinga Norte, e teme ficar sem salário este mês. “Meu marido está desempregado, e tenho uma filha jovem para sustentar. Quero saber o motivo pelo qual os hospitais de campanha e os leitos de UTI foram desativados. Somos a favor dos cuidados com a pandemia, mas, por causa de um erro político, todos pagam”, criticou.

Polêmica

A medida restritiva gerou polêmica entre a comunidade médica, após o Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) publicar uma nota contrária à suspensão das atividades, na segunda-feira (1º/3). No dia seguinte, o presidente da entidade, Farid Buitrago, disse ser contrário a lockdowns e considerou ineficaz a proposta do DF. “Para evitar a transmissão, é preciso adotar ações diferentes. O vírus se transmite a todo momento”, comentou. O representante do CRM-DF também cobrou a expansão da imunização contra a covid-19. “Foram atendidas poucas pessoas. Sabemos que a disponibilidade de doses é pequena, mas a população precisa ser vacinada.”

Após a divulgação do texto, a Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) e a Sociedade de Infectologia do Distrito Federal (SIDF) divulgaram notas de repúdio ao posicionamento do conselho. “Surpreende-nos sobremaneira a afirmação do CRM-DF ao argumentar contra uma medida destinada a evitar a morte das pessoas afetadas pela doença”, disse o texto do grupo vinculado à instituição de ensino. No documento da SIDF, houve críticas e a informação de que não houve consulta ao grupo representante dos infectologistas “antes da emissão dos posicionamentos recentes, que são a favor do tratamento específico precoce para covid-19 e contra o lockdown”.