O momento crítico na rede pública de saúde que levou o governador Ibaneis Rocha (MDB) a decretar o fechamento de parte dos serviços no Distrito Federal provocou críticas entre muitos setores. No entanto, o secretário-adjunto de Assistência à Saúde do DF, Petrus Sanchez, destacou que, se não houvesse essa medida, faltariam leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs) para tratar pacientes com covid-19 em estado grave.
Em entrevista ao CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília —, na segunda-feira (1º/3), Petrus falou da importância de o sistema de saúde local se recompor até, ao menos, 15 de março. A data ficou estabelecida, inicialmente, pelo chefe do Executivo local como limite para o fechamento de serviços não essenciais. Na ocasião, Ibaneis fará uma nova avaliação do cenário.
Na entrevista à jornalista Denise Rothenburg, o secretário-adjunto da Secretaria de Saúde (SES-DF) destacou que as festas clandestinas do carnaval e a chegada de pacientes do Entorno, bem como de outros estados, podem ter contribuído para a lotação dos leitos no DF. Além disso, Petrus anunciou que, nesta semana, devem chegar mais doses de vacinas contra a covid-19 à capital federal e que a pasta disponibilizou um novo meio de agendamento para a imunização, por meio do telefone 160. O serviço está em operação desde a tarde de segunda-feira (1º/3).
Na semana passada, chegamos a ter apenas um leito de UTI para adulto e dois para crianças. Por que chegamos a essa situação?
Quando colocamos o tamanho da população, nossas necessidades, e percebem que só há um leito disponível naquele momento — ainda mais tendo a abrangência do Entorno —, é preocupante. Temos um plano de mobilização que vem acompanhando o avançar da primeira onda da doença. Vivemos um período de dois meses em que a taxa de transmissão — o dado mais importante desse avançar — subiu de maneira importante, a ponto de termos uma taxa de transmissão, na sexta-feira, de 1,08. Isso quer dizer que, para cada 100 pacientes que adquirem a doença, 108 (novos) vão surgir. O alastramento da covid-19 nos impõe uma dificuldade, sabendo que ela tem um comportamento que temos de prever em um período de duas semanas adiante. Quando temos um aglomerado em festividades ou eventos, é certo que, em 12 ou 14 dias, vamos ter uma repercussão dessa disseminação. A figura do carnaval nos preocupa, porque, se ele tivesse um controle muito bom para evitar as aglomerações, não estaríamos percebendo essa dinâmica (de alta nos casos). A situação do Entorno também nos preocupa, o que acaba ocupando nossos leitos. Em dados reais, perto de 20% da ocupação de nossa (demanda de) alta complexidade nos leitos de UTI são por residentes de fora do Distrito Federal.
Tivemos a transferência de pacientes de outros estados para cá. Isso ajudou a agravar a situação?
Sim. Sabemos que o DF tem uma responsabilidade e que o SUS (Sistema Único de Saúde) é universal. Trabalhamos com cenários, tentando fazer planejamentos que são para a nossa população. Quando (o cenário) começa a trazer impacto de fora, isso (o agravamento) se torna muito previsível. Então, o plano de mobilização foi reativado. Colocamos, na inauguração do Hospital Regional de Samambaia, sete leitos na sexta-feira. Isso era um planejamento prévio e, coincidentemente, entraram na sexta-feira, pois tivemos a aquisição de alguns leitos da iniciativa privada para a covid-19.
Qual o cenário hoje? Vão precisar reabrir os hospitais de campanha?
A questão do hospital de campanha é sempre levada em consideração. O do Mane Garrincha, para deixar bem claro, não ofertava leitos de UTI. Acaba sendo uma conversa que não condiz com a realidade. Fechamos porque não havia necessidade, porque a contratação dele, ao mês, era de R$ 13,5 milhões. Nesse período de mais de quatro meses de inatividade, tivemos quase R$ 60 milhões de economia para leitos que não eram de UTI.
De qual explicação o empresariado precisa para entender que a situação é grave?
Trazemos muito a visão da saúde. A covid-19 é uma situação macro: ela pega outras óticas, relacionadas às partes econômica e financeira. Quando falamos em relação ao lockdown, falamos da capacidade assistencial da área de saúde e, neste momento, estamos em um período crítico. Para a gente se recompor, como tem sido feito, vamos tentar oferecer o melhor na saúde, mas precisamos nos recompor até 15 de março. Entendemos a lógica do sistema econômico e financeiro, mas, se não tivesse esse fechamento, faltariam leitos.
Para quem tem de tomar a segunda dose, está assegurado o estoque ou os idosos podem ter uma surpresa de ir ao posto e não ter vacina?
A segunda dose é garantida pelo Estado. Àqueles que tomaram a primeira dose e estão com receio de não encontrar a segunda dose, fiquem tranquilos porque que ela está guardada pelo GDF (Governo do Distrito Federal).
Como as pessoas fazem para agendar a dose da vacina?
Tivemos uma primeira iniciativa que foi o Telecovid. Foi um serviço muito bem executado. Ele tirava as dúvidas, no início da pandemia, e, depois, foi usado para agendamento de pacientes acamados. Agora, não tem mais, deve ser feito pelo site.
E quem não tem acesso ao computador?
Tivemos reclamações dessa dificuldade no acesso, sendo do computador, tablet ou celular. Percebemos essa dificuldade e iniciamos, junto à Secretaria de Economia, o uso do (telefone) 160. Quando a pessoa é atendida, digita o (número) 6. (A ligação) vai cair no atendente, treinado pela equipe da Saúde, e ele (o paciente) poderá preencher (o formulário) nessa mesma plataforma, para que tenha o agendamento facilitado.