A vacinação dos professores do Distrito Federal está entre as promessas do governador Ibaneis Rocha (MDB) para a próxima etapa da campanha de imunização. A medida, na avaliação de especialistas, é fundamental para garantir o retorno seguro dos alunos da rede pública do DF às salas de aula. Atualmente, o ensino segue em modo remoto. Enquanto isso, educadores sofrem com o medo de enfrentar o vírus, e os responsáveis pelos estudantes têm de lidar com as limitações resultantes da falta de atividades presenciais.
Na rede privada, o tema também está em pauta. Nesta semana, um colégio do DF chegou a recomendar às famílias que não mandassem os filhos para a escola. A preocupação se dá em meio a um dos momentos mais graves da pandemia, tanto na capital federal quanto no país. As secretarias de Educação e de Saúde estão desenvolvendo um plano de vacinação para os profissionais da rede pública. Há cerca de 50 mil pessoas, como professores, assistentes, merendeiras e vigilantes, que fazem parte das categorias necessárias à manutenção das atividades. Contudo não há data definida para o início da imunização.
Ibaneis afirmou, em evento na quinta-feira, que os professores estão garantidos na próxima fase da campanha. “Em breve (serão atendidos). Estamos trabalhando isso com o secretário de Educação (Leandro Cruz). Teremos, sim, o retorno às aulas, porque vamos vacinar todos os professores e todos os educadores do Distrito Federal”, disse o governador. “As crianças também não aguentam mais ficar em casa. Por maior esforço que se faça com as aulas pelo sistema adotado pela educação, precisamos cuidar, também, da saúde mental delas”, complementou.
Na mesma ocasião, o secretário reforçou o compromisso: “Está claro que a educação é uma das prioridades de vacinação no Distrito Federal, atrás apenas do pessoal da Saúde — obviamente, aqueles que estão deixando as famílias, os lares, (para atuar) na linha de frente de enfrentamento à covid-19”, declarou Leandro Cruz.
Risco
A infectologista Ana Helena Germoglio considera que o momento impõe decisões difíceis aos gestores. “Ao mesmo tempo em que várias classes profissionais devem ser consideradas prioridades, não conseguimos vacinar toda a população mais vulnerável nem os profissionais de saúde da rede privada extra-hospitalar, que também têm alta exposição. Se não temos vacinas suficientes para todos, acabamos tendo de tomar decisões difíceis ou sacrificar alguma classe”, pontua.
Na avaliação da médica, o ideal é que, em um momento crítico como o atual, as aulas se mantenham de forma remota enquanto não houver condições para vacinação dos profissionais. “A covid-19 em crianças ainda é uma doença pouco frequente e de poucas repercussões, mas a circulação nas ruas dos profissionais da educação pode levar ao adoecimento de ainda mais pessoas. E não temos como atender de forma devida tanta gente doente, muito menos condição de vacinar todos os professores em detrimento de outros grupos”, ponderou. “Enquanto tivermos alta transmissão, UTIs (unidades de tratamento intensivo) e hospitais lotados, as aulas devem ser remotas”, acrescentou Ana Helena.
Medo
Gabriel Lott, 38 anos, é professor de matemática nas redes particular e pública do DF. Apesar de reconhecer a importância do ensino presencial para os estudantes, ele conta que os profissionais convivem com uma rotina de medo. “Ficamos apavorados, por mais que haja cuidado, estamos em contato com volume grande de pessoas, e os nichos delas não são só a escola. É uma situação desconfortável de estar, neste momento, no presencial. Entendo a necessidade dos alunos, mas estamos bem assustados com a pandemia”, afirma. “Os relatos de colegas internados e até de mortes pela covid-19 se acumulam”, acrescenta Gabriel. “Perdi um amigo na última semana. Essa realidade permeia nosso dia a dia. A morte ao lado o tempo todo vira uma rotina”, lamenta o professor.
Hélvia Paranaguá, 57, da Subsecretaria de Formação Continuada dos Profissionais da Educação (Eape), diz que a expectativa pelo atendimento é grande. “Para ter um retorno (às aulas presenciais), a rede, como um todo, precisa estar vacinada. Recebemos com muita alegria esse comunicado (do Ibaneis). Até porque entendemos que o lugar da criança é na escola. Elas precisam não só do componente curricular, mas, também, conviver com as demais, crescer na habilidade e na competência. Queremos muito que chegue esse dia, e que elas retornem com segurança. Na Eape, formamos professores para trabalhar nas escolas e nas mais diversas áreas. Por isso, é importante a vacinação”, observa Hélvia.
A avaliação da diretora do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) Rosilene Corrêa é de que a vacina é essencial para que os trabalhadores da educação possam retornar. “O sensato mesmo, e esperado, é que estejamos na lista de prioridades”, ressalta. A presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinepe-DF), Ana Elisa Dumont, cobra que os professores e profissionais da educação estejam no grupo prioritário, por considerar a educação serviço essencial. A entidade, segundo ela, tem colaborado com a Secretaria de Saúde e encaminhou à pasta informações sobre a quantidade de profissionais que devem ser imunizados.
Colaborou Alexandre de Paula
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