Em meio ao aumento do número de casos e das mortes pela covid-19 no Distrito Federal, os setores econômicos se prepararam para voltar às atividades na segunda-feira. Lojas e estabelecimentos comerciais poderão abrir as portas, mas com horários de funcionamento reduzidos e em cumprimento a uma série de protocolos. O toque de recolher das 22h às 5h segue em vigor, segundo o governador Ibaneis Rocha (MDB). Para especialista em saúde ouvida pelo Correio, este não é o melhor momento de reabrir o comércio, e a iniciativa é arriscada.
Desde 29 de fevereiro, o DF segue um esquema de restrições para alguns setores, devido à situação de colapso na rede de saúde. Na data, a ocupação dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) estava próxima de 100% para adultos com covid-19. Desde então, apenas serviços considerados essenciais podem funcionar, à exceção de academias e instituições de ensino privadas. A flexibilização das medidas ficou condicionada à redução na taxa de transmissão do vírus, segundo o Executivo local. Em fevereiro, chegou a 1,35 — cada quando 100 infectados podem transmitir o vírus para, em média, 135 pessoas.
Ontem, entidades do setor de bares e restaurantes enviaram um ofício ao governador, para pedir a ampliação do horário de funcionamento desses estabelecimentos até as 22h. Bianca Ferreira, 22 anos, administra uma loja de roupas e cosméticos há quatro anos em Taguatinga Norte e precisou se readaptar durante para manter os negócios. Dos dez funcionários da empresa, quatro foram demitidos. “Quando estava tudo funcionando, conseguíamos vender cerca de R$ 2 mil por dia. Agora, se tirarmos R$ 200, é muito. Seguiremos todas as medidas, e nossa expectativa é de que tudo melhore”, comentou.
Leandro Nunes, 35, é dono do restaurante Le Parisien, na 103 Norte. Desde o começo das novas restrições, o estabelecimento sofreu consideráveis perdas no faturamento. Para sobreviver à crise, o empresário teve de diminuir a equipe de funcionários e adotar um sistema de delivery. “Criamos novos pratos e lanches específicos para essa nova demanda. Com a reabertura, esperamos que os clientes voltem a frequentar o restaurante, mas com um público reduzido”, afirmou. “Esperamos, um dia, conseguir voltar a encher nossas casas, cobrir os prejuízos e sobreviver a essa terrível fase que estamos passando, de crise sanitária e financeira”, completou.
Alerta
O presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Jael Antônio da Silva, afirmou que não teve resposta do chefe do Executivo local, por enquanto. “Nossa expectativa é de que o horário (de funcionamento) seja ampliado. Muitos restaurantes só funcionam no período noturno e, com a limitação até as 19h, muitos estabelecimentos ficariam no prejuízo”, frisou. Ainda assim, Jael Antônio considera que o fechamento mais cedo também acarretará em prejuízos aos funcionários. “Muitos trabalham à noite e seriam dispensados. Temos de destacar a despesa que os empresários teriam também, pois o melhor faturamento é no jantar.”
Na avaliação de Carla Pintas, enfermeira e professora do curso de saúde coletiva da Universidade de Brasília (UnB) em Ceilândia, o momento é de cautela. Ela avalia que o DF precisaria de mais uma semana de medidas restritivas para observação dos resultados. “Não estamos no momento de fazer essa reabertura. Precisaríamos de, ao menos, mais sete dias para termos os melhores dados. O que vemos são hospitais, emergências e leitos de UTI lotados. O certo seria manter fechado, até porque, na próxima semana, é a Páscoa, e as pessoas vão sair mais”, alertou.
Com a alta no número de mortes, o DF não conseguiu ver os resultados das medidas restritivas, segundo a especialista. Com a reabertura, ela prevê um aumento nos registros de infecções. “Abrir de forma temporária ou intermediária, agora, pouco vai ajudar, porque continuaremos tendo população nos ônibus e em outros lugares. A ideia das medidas é diminuir a circulação das pessoas, mas estamos fazendo o contrário”, pontuou Carla.
Mudanças
Confira como funcionará o comércio do DF a partir de segunda-feira:
Por setor
Academias: das 6h às 21h
Comércio de rua: das 11h às 20h
Clubes recreativos: das 6h às 21h
Bares e restaurantes: das 11h às 19h
Agências de viagens: das 10h às 19h
Cultos, missas e rituais: sem horário pré-determinado
Atividades coletivas de cinema e teatro: sem restrição
Eventos em estacionamento ou drive-in: sem restrição
Shopping centers e centros comerciais: das 13h às 21h
Salões de beleza, barbearias, esmalterias e centros estéticos: das 10h às 19h
Supermercados: horário definido em alvará, respeitando o toque de recolher
Atividades 24 horas
Hospitais;
Farmácias;
Funerárias;
Postos de gasolina;
Clínicas médicas e veterinárias.
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