Pai dedicado, avô apaixonado, marido maravilhoso e médico respeitado. É assim que a publicitária Marcella Godoy Evangelista da Rocha, 50 anos, define o pai, o médico Jair Evangelista Rocha — conhecido como “doutor milagreiro”. O pediatra morreu na tarde de terça-feira (23/3), depois de lutar contra a covid-19. Aos 81 anos, ele estava internado na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Regional de Samambaia (HRSam).
Jair Evangelista dedicou a vida à medicina. Foram 40 anos de trabalho no Hospital de Base de Brasília, onde foi chefe, por 16 anos, da ala pediátrica. O médico também foi um dos idealizadores do Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB), inaugurado em 2011. “Era um sonho dele. Ele viu a necessidade de ter um hospital dedicado à criança”, conta Marcella Godoy.
Nascido em uma fazenda do município goiano de Catalão, Jair saiu da cidade ainda muito jovem para se dedicar à medicina. Foi o primeiro passo de uma bem-sucedida carreira na área da saúde. “Ele passou em primeiro lugar no vestibular de medicina, na Universidade do Triângulo Mineiro, em Uberaba. Na época, era um dos cursos mais concorridos do Brasil”, detalha a filha.
Em 1967, o goiano veio para a capital, de Fusca, com o objetivo de fazer residência no, à época, chamado Hospital Distrital. Em 1969, casou-se com Jane Godoy, colunista do Correio, e adotou Brasília como sua casa. “Eles fariam 52 anos de casados em 18 de maio”, diz Marcella.
Alguns anos mais tarde, Jair se tornaria, por 22 anos, o preceptor de ensino da residência médica no hospital, além de ter atuado como coordenador de pediatria da Secretaria de Saúde por 14 anos e participado de várias iniciativas relacionadas a crianças e adolescentes.
Complicações
O médico foi hospitalizado em 9 de fevereiro com covid-19. Segundo a filha, ele tomou a primeira dose da vacina contra a doença em 2 de fevereiro, mas foi infectado no dia seguinte. Com quadro gravíssimo, Jair Evangelista passou por uma traqueostomia em 13 de março, com o objetivo de regredir a inflamação dos pulmões. No entanto não melhorou e, nos últimos dias de vida, precisava receber 100% do oxigênio. A saturação estava em 85% — quando o mínimo considerado normal é de 95%.
O óbito foi notificado às 15h10 dessa terça-feira (23/3). Marcella Godoy conta que a família estava presente na hora. “Foi um momento de muita ternura. Pudemos dizer a ele o quanto o amávamos e que ele podia ir em paz”, conta a filha, emocionada.
Jair deixa três filhos — Bruno, Marcella e Régis — e dois netos — Bernardo e Guilherme. O sepultamento será realizado na cidade de Araguari (MG) para que a mãe do médico, que tem 101 anos, possa participar.
Homenagens
Especialista em endocrinologia infanto-puberal, Jair ganhou a fama de milagreiro. A filha do médico conta como ele começou a ser conhecido assim na capital. “Ele conseguiu diagnosticar doenças raras em crianças que já tinham passado por vários outros médicos e não tiveram resultado”, explica.
O médico infectologista Julival Ribeiro, que trabalha há 30 anos no Base, lamentou a perda do colega de profissão e destacou o trabalho dele: “Excelente colega, muito preocupado na formação de novos residentes, e o mais importante: um homem muito dedicado para cuidar das crianças. É uma perda muito grande essa morte do doutor Jair Evangelista”.
O Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF), que administra o Hospital de Base, também manifestou profundo pesar pela notícia do óbito. “O Iges-DF se solidariza com familiares e amigos pela perda desse dedicado médico, que nos honrou com seu trabalho, sua competência e sua dedicação à saúde do Distrito Federal.”
Em nota, o senador Izalci Lucas também lamentou a perda do amigo. “O doutor Jair, meu amigo e referência de ser humano, vai fazer grande falta, mas seu legado como médico e guerreiro pela saúde das crianças, certamente, ficará para as gerações futuras. À minha querida amiga Jane, filhos e netos, a nossa solidariedade e esperança que Deus os conforte nesse difícil momento da separação”, afirma.
Para Marcella Godoy, o carinho dos amigos e pessoas que o admiravam é um alento. “Estamos muito tocados e felizes com isso. É o que tem nos confortado ao longo dos mais de 40 dias que ele passou no hospital”, emociona-se.
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