COVID-19

Ações na Justiça por leito de UTI aumentam quase seis vezes em março no DF

Após quase um mês com medidas restritivas, o DF segue com altas taxas de transmissão da covid-19 e UTIs lotadas, com muitos pacientes recorrendo à Justiça para tentar um leito. Mesmo assim, governo mantém desejo de reabrir o comércio na próxima semana

Samara Schwingel
Jéssica Moura
Pedro Marra
postado em 24/03/2021 06:00 / atualizado em 24/03/2021 11:29
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

O Distrito Federal está há 23 dias com as atividades não essenciais paralisadas e 16 dias sob o toque de recolher. Porém, mesmo com as medidas restritivas, a taxa de transmissão — apesar de estar abaixo de 1, o que indica desaceleração — segue alta, bem como a ocupação de leitos adultos em unidades de terapia intensiva (UTIs), que chegou a 99,45%. Na terça-feira (23/3), a taxa de isolamento social estava em 44,12%, cerca de 21 pontos percentuais menor que a do mesmo dia de 2020, segundo a plataforma In Loco. Mesmo assim, o GDF mantém, por enquanto, a decisão de realizar a reabertura escalonada do comércio na próxima segunda-feira.

A taxa de transmissão da covid-19, no DF, está em 0,95, a menor dos últimos três dias, sendo que, no último domingo, o índice chegou a 0,97. “É uma diminuição sensível e importante e estamos acompanhando para ver se mantém ao longo da semana. Por enquanto, se mantém a reabertura na próxima semana”, afirmou o secretário da Casa Civil, Gustavo Rocha, na terça, durante coletiva no Palácio do Buriti. Apesar da intenção de reabertura, o secretário reforça que o governo está em alerta quanto à ocupação de UTIs e ao número de casos diários.

Na manhã de terça-feira, por volta das 6h, a rede de saúde pública chegou a 99,45% de ocupação das UTIs adultas para covid-19. Considerando leitos neonatal e pediátricos, o índice estava em 97,66%. Às 16h, o valor era mais baixo, com 93,20% das UTIs ocupadas. Neste mesmo horário, a rede particular operava com 98,10% de ocupação, e a fila por um leito contava com 440 pessoas, sendo que 326 delas estavam com suspeita ou confirmação de infecção pela covid-19.

Judicialização

Com a sobrecarga do sistema de saúde, a procura pela Justiça para assegurar o acesso a um leito de unidade de tratamento intensivo (UTI) teve um salto. Nos primeiros 19 dias de março, foram ajuizadas quase seis vezes mais ações por UTI do que em todo mês anterior: 338 contra 60 em fevereiro deste ano.

Para o infectologista Hermeson Luz, este cenário de pressão judicial ocorre devido ao momento crítico da pandemia. “Algumas vezes, as famílias optavam por judicializar uma ação, mas, em uma crise sanitária, há uma carência muito grande de leitos de UTI”, ressalta. “O isolamento social não resolve a pandemia, mas faz parte de uma estratégia que inclui várias medidas: a vacinação, o isolamento e as medidas restritivas quando for necessário”, acrescenta.

No aguardo de uma cirurgia de revascularização do miocárdio, no Hospital Regional de Brazlândia (HRBz), Geraldo Alves, 70 anos, está na enfermaria da unidade à espera de um leito de UTI para receber o atendimento adequado. Com obstrução de 98% da artéria esquerda do coração, ele está internado há mais de 90 dias e corre risco de morte. “O hospital só colocou a cirurgia dele na lista de urgência depois que a gente entrou com processo na Defensoria Pública do DF, em 4 de março. O juiz deu prazo de 15 dias para eles se manifestarem, agendaram a cirurgia para 19 de março, e enviaram o procedimento para o HRBz, que, por sua vez, passou para o Iges. Um defensor encaminhou o pedido de transferência para UTI à Justiça, que deu prazo até 29 de março para a Secretaria de Saúde responder a liminar”, afirma a secretária Keila Nunes Caetano, 39, filha do paciente.

Reabertura

Para o infectologista Hermeson Luz, o ideal para a pandemia no DF é ter um retorno do comércio de forma gradual. “Que seja feito com regras de distanciamento, protocolos e deixando de lado as atividades que propiciem ou que tenham algum tipo de aglomeração para depois. A grande vantagem desse tipo de reabertura é a flexibilidade dela. Acho que o lockdown total seria uma medida de extrema necessidade caso os números saiam do controle”, analisa o especialista.

O presidente da Federação do Comércio, Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), José Aparecido da Costa Freire, diz que respeita a decisão do governador, mas pede que seja mantida a reabertura na semana que antecede a Páscoa. “Esperamos que na próxima segunda haja condições de saúde e que os comércios sejam reabertos, porque a situação do setor produtivo está ficando dificílima. Se as empresas que trabalham com ovos de Páscoa e outros produtos do tipo não tiverem uma reabertura para vender os produtos, o prejuízo vai ser muito grande”, pontua.

Sem oxigênio no Entorno

Águas Lindas de Goiás sofreu com falta de oxigênio para o tratamento de pacientes com covid-19 na terça-feira (23/3). De acordo com o Secretário de Saúde do DF, Osnei Okumoto, o prefeito do município, Dr. Lucas (Podemos), encaminhou um ofício ao GDF pedindo a doação do insumo. O governo local enviou 32 metros cúbicos, quantidade suficiente para um dia de atendimento no município. Okumoto garantiu que a doação não vai interferir no atendimento aos pacientes do DF. Apesar de cravar que não há riscos de falta de insumos como O2, o GDF vai publicar, até sexta-feira, um edital para a contratação de cinco usinas que devem ser instaladas na rede pública. De acordo com uma das empresas que fornecem oxigênio, a demanda geral do DF do insumo líquido, na terça, aumentou 119% em comparação com os últimos sete dias. No mesmo período, a demanda apenas da Secretária de Saúde aumentou 19%.

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