O sistema de saúde do Distrito Federal possui cerca de 429 leitos para atender casos graves do novo coronavírus, destes, apenas nove estão desocupados e, segundo os dados da sala de situação da Secretaria de Saúde (SES-DF), já existem 436 pessoas na lista de espera por um leito. No atual cenário, o epidemiologista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Jonas Brant, alertou: “mesmo que a gente conseguisse dobrar o número de leitos nas unidades, já estaríamos com eles lotados hoje mesmo”.
O médico explica que a perspectiva atual não é boa. “A gente optou por fazer um isolamento social parcial, não fechamos a cidade em um lockdown. E o problema é que o isolamento parcial reduz a taxa de transmissão da covid-19, mas de forma lenta, o que significa que o número de novos casos por dia ainda é maior do que a nossa capacidade de liberação de leitos de UTI. Estamos vivendo um cenário trágico da história de Brasília”, esclareceu.
Jonas Brant foi o entrevistado desta terça-feira (23/3) do CB Poder — uma parceria da TV Brasília com o Correio Braziliense — e alertou sobre a situação atual da capital do país. “Hoje enxergamos apenas a ponta do iceberg, se não ampliarmos a testagem não vemos realmente como está a situação do DF e também do país. A testagem que fazemos é muito pequena. O laboratório de saúde pública não conseguiu ampliar isso, e sem a testagem fica impossível rastrear o contágio para quebrar a rede transmissão e diminuir o número de casos”.
O professor da UnB ressaltou que uma pessoa contaminada começa a transmitir o novo coronavírus dois dias antes de ter sintomas e, por isso, quando o caso é confirmado ela já teve contatos com inúmeras outras pessoas. “Nesse sentido, o apoio social e econômico é essencial para que essas pessoas, mesmo que ainda não apresentem sintomas, aceitem se isolar. Elas precisam de dinheiro para sobreviver e dificilmente, achando que estão saudáveis, vão querer ficar em casa, porque como vão pagar a conta amanhã sem ter trabalhado hoje?”, perguntou.
Além disso, o especialista ressalta a importância de inspeção ambiental e vigilância sanitária. “A prioridade é salvar vidas nesse momento. Precisamos ter uma ampliação da rede hospitalar, ampliação da vacinação e lockdown. Mas em paralelo, temos que tratar das medidas depois do isolamento, para que a transmissão da pandemia continue em baixa, ou seja, precisamos mudar o comportamento e hábitos das pessoas”, finalizou.
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