Mesmo com os efeitos econômicos provocados pela pandemia da covid-19, mulheres empreendedoras têm batalhado para encontrar maneiras de inovar e para não fechar as portas dos negócios em meio à crise sanitária. Uma pesquisa nacional do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), publicada em fevereiro de 2021, revelou que, no Distrito Federal, elas são mais de 119 mil. No entanto, foram as mais afetadas no mercado de trabalho. Na tentativa de contornar esse cenário, empresárias do DF têm apostado em novidades para cativar e manter os clientes.
As estratégias envolvem desde a oferta de meios para garantir a fidelização dos consumidores até a criação de identidades atraentes para a marca. Uma das proprietárias da Ravioli & Cia, Indianara Weisheimer, 48 anos, conta que as vendas não caíram desde que começou a disponibilizar aos fregueses produtos diferenciados. “Trouxemos um conceito novo de refeição completa no lar”, conta a empresária. O empório, fundado por ela e Daiana Paes, 37, tem massas frescas e artesanais com recheios salgados como especialidade. A loja dispõe de mais de 20 tipos.
Também é possível encontrar itens como queijos, molhos, manteigas saborizadas, conservas, vinhos, sucos e sobremesas. A marca comercializa os produtos por meio de aplicativos de delivery, em perfis nas redes sociais e em uma página na internet (leia Serviço). “Nós mesmas fazemos tudo. E eu só preciso de dois minutos para finalizar a massa. Trazemos esse conceito inovador não só para Brasília, mas para o Brasil, porque a massa fica fresca por até 48 horas. Porém, com o sistema que trouxemos da Itália, ela permanece assim por 30 dias. Com isso, as pessoas podem comprar para a semana, para a quinzena ou para o mês”, detalha Indianara.
A dupla oferece uma experiência completa na Ravioli & Cia. A arquitetura e o design são outro diferencial. Em 2019, a unidade da Asa Norte conquistou um prêmio em São Paulo de melhor arquitetura de varejo do Brasil. “Nós montamos uma fábrica. Começamos com uma loja no Sudoeste, depois, abrimos na 214 Norte. Agora, queremos lançar mais seis unidades em outras regiões administrativas”, diz Indianara. O sonho que se tornou realidade segue em construção desde 2018: “(À época,) pesquisamos o que o mercado exige, quais as novidades e do que o consumidor de Brasília reclama. Nós queríamos trazer algo com praticidade, porque até nós, como consumidoras, tínhamos de ir a vários lugares para preparar um jantar ou as refeições da semana”, comenta a empresária.
Alcance
A diretora de Pesquisa e Desenvolvimento da Aliança Empreendedora, Helena Casanovas Vieira, dá algumas dicas de passos para iniciar uma jornada nos negócios. “A primeira para quem está começando é se perguntar: o que eu sei fazer que consigo vender para quem conheço? A partir disso, é possível identificar ideias daquelas com que você gastará o mínimo possível para começar. Ao ter o mínimo possível de despesas e conseguir alcançar a rede de contatos que se tem, a empresária terá uma resposta se está no caminho certo e saberá quais adaptações são necessárias”, sugeriu a especialista em desenvolvimento de metodologias.
Com a venda de bijuterias na faculdade, Bia Tôrres, 24, conseguiu ampliar o negócio após o fim da graduação em direito. Agora, ela alcança clientes de todo o país. Em 2019, a empresária abriu um showroom em Águas Claras com uma amiga. No entanto, o local acabou fechado por causa da pandemia. Como alternativa, Bia investiu na internet e abriu a loja BT Accessories. “Quando fiz o site, abrangi muitas pessoas (no alcance da página). Em agosto, contratei um gestor de gráfica, após lançar uma coleção e notar que eu tinha um público orgânico muito bom. De setembro para cá, as vendas aumentaram bastante. São Paulo é a cidade que mais compra, além de Brasília”, conta Bia.
A jovem estudava em período integral na faculdade e viu no varejo de bijuterias uma oportunidade de garantir uma renda extra. “Eu não tinha como trabalhar estudando em três turnos. Pedi demissão (de onde trabalhava), peguei R$ 100 do valor que recebi e comprei 10 acessórios. Quando vi, tinha vendido tudo em menos de uma semana”, relembra a moradora de Taguatinga. As estratégias de negócio, segundo ela, envolvem gravar vídeos curtos para o Instagram e no TikTok, para mostrar os acessórios da loja. Além disso, ela aposta em uma paleta de cores com tons de rosa e verde turquesa, para fortalecer a identidade da marca.
A especialista Helena Casanovas Vieira observa que houve aumento do número de pessoas empreendendo, principalmente, como informais. Ao mesmo tempo, cresceu a formalização pelo modelo de microempreendedorismo individual (MEI). “Tem sido uma solução para geração de renda. Se as pessoas tiverem o mínimo de capacitação, elas encontrarão uma boa oportunidade. O único setor que conseguiu recuperar o número de empregos perdidos foi o de micro e pequenas empresas, que tem se recuperado muito mais em relação aos médios e grandes negócios, justamente pela facilidade na mudança de estratégias, serviços e até do negócio inteiro”, avalia.
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O quarto passo é organizar as informações coletadas. Ao conhecer o mercado, você conseguirá construir o plano de negócios e definir estratégias para posicionar corretamente sua empresa.
Aprenda sobre crédito
Antes de recorrer ao crédito bancário, você deve buscar informações sobre gestão de dinheiro e como conseguir esse auxílio. Alguns temas podem ajudar a começar a pesquisa, como: fornecedores e prazos de pagamento; financiamentos ideais para o negócio; análise das necessidades; renegociação de pagamento de empréstimos; e garantias necessárias à obtenção de crédito.
Fonte: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae)
Novas propostas de trabalho
A engenheira civil Lara Ferraz, 27 anos, e a gastrônoma Alessandra de Macedo, 49, — nora e sogra, respectivamente — uniram-se para criar a Alelá Doceria, na Páscoa de 2020. “A vontade de empreender no ramo de doces veio antes da pandemia. Eu trabalhava em um escritório, mas saí para me dedicar à ideia. No início, tínhamos poucas opções no cardápio, fomos pesquisando e, hoje, vendemos bolos, ovos de páscoa, brownies, palha italiana e brigadeiros gourmet”, elenca Lara.
Alessandra fica responsável por fazer os doces; Lara cuida da captação de clientes, da parte financeira e dos pedidos. A empresa cresceu tanto que a produção saiu da casa delas, no Lago Norte, e foi parar em uma fábrica, na Vila Planalto. “Antes, fazíamos doces esporadicamente, só para amigos. Então, começamos a vender dentro do condomínio. Uma pessoa foi falando para outras e o negócio foi crescendo. Como abrimos no ano passado, vimos que não valia a pena ter um espaço físico (por causa da pandemia), mas ainda temos vontade. Hoje, estamos em aplicativos de delivery e vendemos por encomendas via WhatsApp”, detalha a engenheira civil e empresária.
Especialista em políticas públicas, a economista Suzana Squeff considera que as atividades on-line são uma marca do cenário atual. “Todos os setores foram impactados pela pandemia. No ano passado, víamos uma recuperação considerável no fim do ano, mas, com a piora da situação na saúde, essa crise econômica está voltando. As pessoas perdem o emprego e precisam procurar uma nova forma de sustento, então, entram no empreendedorismo”, afirma. “Só que os empreendedores precisam identificar novas formas de atuar, como entrar em um processo de digitalização e de vendas pelas plataformas eletrônicas”, aconselha Suzana.
Em família
A empresa Fabrika Malharia alia moda com tecnologia e nasceu de um projeto familiar, em 2006. À época, Ana Bonfim, 62, mãe de Ana Paula Ferraz, 27, abriu com a filha uma loja de revenda de multimarcas, depois de a jovem terminar a faculdade. Contudo, o estabelecimento sofreu assaltos e acabou mudando de endereço, o que também gerou transformações no modelo de negócio. “Começamos a trabalhar com tecidos tecnológicos. Fomos pioneiras em Brasília. Fazíamos uniformes escolares e roupas esportivas com nossa própria confecção. Houve uma época que tínhamos mais de 300 produtos e estávamos com dificuldade de administrar a empresa. Por isso, reduzimos e fizemos outra reformulação”, conta Ana Paula.
Antes da pandemia, as vendas da malharia ocorriam só por encomenda ou nas lojas físicas. No entanto, com a crise sanitária, mãe e filha tiveram de se adaptar. “O comércio do DF fechou e veio o desespero. No começo, ficamos paradas, mas decidimos nos digitalizar. Criamos nosso e-commerce e fizemos um trabalho diferente do que costumávamos fazer nas redes sociais”, relata Ana Paula. “No fim do ano passado, abrimos um ponto na Asa Norte e, neste ano, estamos criando uma marca, a FBK Essential. Achamos que ficaríamos presas, mas acabamos fazendo mais do que pensávamos”, completa a jovem.
A economista Suzana Squeff destaca que o número de mulheres empreendedoras não para de crescer, mesmo em um momento difícil. “A atitude empreendedora está mais forte, e as mulheres estão ocupando cada vez mais espaços”, pontua. A especialista também nota o aumento da presença feminina em todos os segmentos produtivos da sociedade. “Há um esforço de empresas e até nas estruturas de governo em levar mais mulheres para atuar. Isso faz parte do espaço que a mulher tem ocupado cada vez mais, até nas estruturas de decisão. Porém, como força de trabalho, já somos um braço significativo”, complementa Suzana.
Ainda assim, a situação no mercado não está equilibrada. Rose Rainha, diretora técnica de atendimento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) no Distrito Federal, ressalta que as mulheres foram as mais afetadas no contexto profissional durante a pandemia, em relação aos homens. “Um estudo feito por nossa instituição revelou que elas foram as que mais perderam ou abandonaram empregos, além das que tiveram os negócios mais afetados, na comparação com eles. Foram 52% (de mulheres) contra 47% (de homens)”, detalha.
Entre amigas
Cansadas de ir a estabelecimentos onde o atendimento e o serviço não eram satisfatórios, as amigas Luara Corrêa, 32, Iraguaci Cordeiro, 41, Marcella Melo e Daphinie Torquato, ambas de 28 anos, fundaram o Barziin Gastrobar, na 413 Norte. O empreendimento surgiu em abril de 2019 e conquistou os brasilienses pelo diferencial. “Nosso grupo sempre gostou de frequentar bares de Brasília, só que, à época, não havia muitos lugares que investissem em drinques e petiscos como há hoje. Resolvemos abrir um bar para as mulheres se sentirem bem da forma que estiverem. Esse foi nosso propósito”, conta Luara.
A empresária detalha que o estabelecimento trabalha com uma proposta fundamental: comidas e drinques devem estar perfeitos. Contudo, apesar do sucesso da proposta, a pandemia gerou dificuldades financeiras para o grupo. “A cada dia que as medidas de restrição se estendem, é um risco mais iminente de fecharmos as portas. Mas estamos lutando todos os dias, fazendo delivery e nos reinventando. Aprendemos como nunca imaginamos”, reflete a empreendedora.
O carro-chefe do negócio, atualmente, é o Barziin em Casa. O serviço consiste em um cardápio de drinques, do qual o cliente escolhe a bebida que deseja e recebe um kit de ingredientes e um passo a passo para preparar a mistura onde estiver. A ideia deu tão certo que empresas parceiras aderiram e passaram a fornecer copos personalizados para que as empresárias fizessem promoções. “Lançamos, por exemplo, uma novidade exclusiva no Plano Piloto e na Saída Norte, que é o chope da Heineken em growler (garrafão para transporte de cerveja). Somos a única casa nessa região que tem esse produto oficial da marca. Temos buscado essas novidades para trazer os clientes para perto da gente”, comenta Luara.
*Estagiária sob supervisão de Jéssica Eufrásio
Serviço
Alelá Doceria
- Contato: 61 920-011-840
Barziin Gastrobar
- Pedidos: bit.ly/falarcomobarziin
BT Acessories
- Site: btacessories.com.br
Fabrika Malharia
- Pedidos: vendas@fabrikamalharia.com
- Site: fabrikamalharia.com
- Endereço: CLN 113, Bloco B, Loja 15
Ravioli & Cia
- Site: ravioliecia.com.br
- Asa Norte: CLN 214, Bloco D, lojas 5/7 (61 996-258-235)
- Sudoeste: CLSW 302, Bloco B, Loja 24 (61 985-953-354)