Força, Brasília

Agronegócio no DF recebe investimentos para ajudar produtores durante a crise

Programa de Aquisição da Produção da Agricultura do DF terá R$ 2 milhões, destinados principalmente ao pequeno produtor. Esses recursos poderão ser ampliados no decorrer do ano, segundo o secretário Cândido Teles

Pedro Marra
postado em 20/03/2021 06:00
Sandra Vitoriano:
Sandra Vitoriano: "Vamos assinar contratos para que a agricultura familiar possa dar uma alavancada" - (crédito: CNA/Divulgação)

O setor de agronegócio do Distrito Federal recebeu um investimento forte para 2021, mais um ano de pandemia da covid-19. A Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri-DF) liberou R$ 2 milhões para produtores rurais, por meio do Programa de Aquisição da Produção da Agricultura, recurso do governo federal obtido pelo Governo do Distrito Federal (GDF), de acordo com o secretário da pasta, Cândido Teles de Araújo.

Ele explica que esse montante pode ter um acréscimo ainda neste ano. “O governador liberou o recurso da cesta verde, que começou a ser aplicado no ano passado, ainda na pandemia, com R$ 2 milhões. Este ano, conseguimos mais R$ 2 milhões, recebidos no último dia 11. Então, já está nas contas da Secretaria. Há uma grande possibilidade de aumentarmos esse apoio com mais R$ 1,5 milhão por meio de emendas parlamentares. Não vamos deixar o setor desamparado”, assegura Cândido.

“O agronegócio é muito importante para a economia do DF. É o que está dando certo no Brasil. A indústria tem tido dificuldade, com fechamentos de negócios. Mas, no agro, quando se planta, se está vendendo. Em razão da produtividade, esperamos continuar com lucro em 2021. Temos muita tecnologia e lavouras cultivadas adaptadas na região, com cinco centros da Embrapa, que ajudam os produtores. A nossa esperança é continuar avançando na safra”, destaca o secretário.

Segundo a produtora rural de frutas e hortaliças, em Brazlândia, e presidente da Associação dos Produtores de Hortifrutigranjeiros do DF e Entorno (Asphor), Sandra Vitoriano, 59 anos, esse apoio financeiro gera uma boa expectativa para o setor em meio à crise. “Eu me encontrei com o secretário de Agricultura, Cândido, e ele me disse sobre o novo programa do Programa de Aquisição da Produção da Agricultura do DF (Papa-DF), do GDF. Fui para o campo comprar sementes para produzir, porque é um contrato grande que vai dar uma alavancada na agricultura”, diz.

Sandra comenta que o investimento vem em uma boa hora até para a revenda no comércio alimentício do DF que precisa dos alimentos para elaborar os pratos e refeições. “Com o fechamento de bares e restaurantes, a gente fica um pouco apreensivo. Eles também são grandes parceiros do agronegócio, principalmente do hortifrúti e das folhosas. Com a liberação do recurso, vamos assinar contratos para que a agricultura familiar possa dar uma alavancada. Estamos confiantes de que agora vai dar uma boa impulsão no agro para 2021”, complementa a presidente da Asphor.

O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio terminou o ano de 2020 com o crescimento de 24,31%, na comparação com 2019, após alta de 2,06% em dezembro, conforme o Comunicado Técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Com o resultado, o agronegócio ampliou para 26,6% sua participação no PIB total do país no ano passado. Em 2019, este percentual foi de 20,5%.

“É um desafogo”

O diretor técnico operacional das Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa-DF), Fernando Cabral, está otimista com o investimento oferecido pela Seagri-DF. “Esse programa de aquisição é importante, porque representa valor relativamente expressivo. Levando em consideração que é prioritariamente para pequenos agricultores, acaba sendo um grande volume de recursos injetados na economia deles. O fornecimento é constante para dar uma previsibilidade de recurso contínuo. É importante também dentro de uma política de emprego e renda. É um desafogo para eles”, comenta.

“Desde 2020, alguns produtos específicos tiveram redução no plantio. São aqueles cultivados no que a gente chama de circuito curto, como a produção de folhagens, tipicamente formado por quem está dentro de um raio de 150km de proximidade. A demanda do setor privado por esse tipo de produto reduziu demais. Esse produtor perdeu muito espaço, porque os restaurantes compravam muita folhagem. O produtor desse alimento sente muito essa questão. Mas existem alguns efeitos econômicos como esse investimento que você precisa ter para controlar a situação”, esclarece o diretor técnico operacional da Ceasa-DF.

Desempenho

De acordo com os dados do Índice de Desempenho Econômico do Distrito Federal (Idecon-DF), a economia do Distrito Federal se manteve estável no quarto trimestre de 2020, variando em mais de 0,2% em relação ao mesmo trimestre de 2019. O desempenho se deve muito pelo crescimento da agropecuária, com indicador de alta em 3,8%. A agropecuária, por ter sido beneficiada por uma supersafra, em 2020, foi o setor de maior crescimento no 4º trimestre do ano, impulsionada pelo aumento de 11,3% na produção de soja e de quase 100% na produção de sorgo.

Na avaliação do economista especializado em agronegócio, José Luiz Pagnussat, do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), há um crescimento da demanda por produtos advindos da agropecuária. “O leite é um deles, por exemplo, mas a carne principalmente. Tendo um crescimento da demanda por essas matérias-primas, vale a pena engordar mais o boi, porque os preços estão muito bons do ponto de vista do produto. Tem uma razão internacional para essa evolução. De um lado, o câmbio do dólar mais baixo no ano passado. De outro, a demanda dos países cresceu, especialmente pela soja, carne de boi e de porco, mesmo em pleno auge da pandemia, como foi em 2020”, analisa o especialista.

José Luiz acredita que o investimento no agronegócio feito pela Secretaria de Agricultura do DF reforça a influência na geração de empregos. “Essa área da produção de alimentos próxima da cidade, no cinturão do DF, é de pequenas unidades. Então, todo apoio de políticas públicas que garanta algum estímulo de crédito é importante. Tem que ser ajustada à realidade deles, porque os produtores têm um período diferente de maturação do negócio. É um setor com potencial de emprego muito grande, em que tudo é feito com base na mão de obra. É uma decisão correta”, avalia o economista do Corecon-DF.

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PIB agropecuário em alta

A produção agrícola no Distrito Federal tem sustentado a economia, mesmo diante da crise provocada pela covid-19 -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press - 13/8/20)
crédito: Ed Alves/CB/D.A Press - 13/8/20

Em uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Avançada (Ipea) com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram feitas projeções próprias para a pecuária a partir dos primeiros resultados da pesquisa trimestral do abate, produção de ovos de galinha e leite. No levantamento, foi revisada a estimativa de crescimento do PIB do setor agropecuário de 2020 para 1,5%. Para 2021, o Grupo de Conjuntura projetou crescimento de 1,2% para o PIB agropecuário.

Cláudio Malinski, produtor rural e agrônomo do departamento técnico da Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (Coopa-DF), relata, porém, que a safra de 2021 não está sendo tão boa quanto no ano passado. “Como nós usamos os insumos para fazer a soja e o milho colhidos hoje, os itens necessários à produção foram comprados por um dólar mais baixo. Usamos muitos fertilizantes, peças e máquinas importantes. Como elas chegaram com o dólar mais baixo, a lavoura foi plantada com um custo maior. Vários produtores, em maio de 2020, ficaram com um contrato de venda de soja para entregar em 2021. Comprometemos a soja ao valor de R$ 80 a saca, só que parte da produção não foi contratada, vendida hoje ao preço de R$ 150. Aqueles produtores que não fizeram contrato, tiveram bom resultado”, expõe o agrônomo da Coopa-DF.

De acordo com o agrônomo, mesmo com uma previsão de lucro menor para este ano, a agropecuária garante uma estabilidade à economia do DF. “Ainda há como se vender uma parte. Isso porque as chuvas começam em meados de novembro até abril, e raramente vamos perder safra por excesso de chuva no DF. Estou há 41 anos neste mercado, aqui em Brasília, e só em dois tivemos problemas de perda de safra por falta de chuva. Mesmo que chova pouco, o produtor ainda consegue ter uma margem de lucro porque o solo do Centro-Oeste é fértil. Isso é uma grande vantagem. Por isso que o agronegócio do Distrito Federal é muito importante para fornecer alimento com segurança para os consumidores e dar uma ajuda na economia. Quando os demais setores vão mal, a agropecuária, por ser estável, dá segurança para uma nova reação”, analisa o produtor rural Cláudio Malinski.

Hortaliças

Apesar da baixa demanda no início do ano, o coordenador de operações da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), Pedro Ivo Braga, cita que o setor de hortaliças deve ter uma alta nas vendas e ofertas de serviço ao longo deste ano. “Responsável por uma significativa fatia do que é gerado no agronegócio do Distrito Federal, principalmente em relação a empregos, a produção de hortaliças vem apresentando, mesmo na pandemia, índices positivos na cadeia produtiva, mas enfrenta desafios que vão do plantio à mesa do consumidor. “Atualmente, a produção de hortaliças tem expectativa de crescimento para 2021 de 4% a 5%, com geração de cerca de 2,5 mil empregos diretos”, informa.

Segundo ele, entre os desafios propostos para o setor, está o combate aos crescentes custos de produção por meio da adoção de boas práticas e do aumento da produtividade dos recursos empregados.

“Para a fruticultura, mesmo diante de inúmeras incertezas causadas pela pandemia, o setor se mostra muito promissor no DF. Com investimento em insumos produtivos, programas governamentais favoráveis, como crédito rural e assistência técnica, a Emater-DF estima que o crescimento se dará na ordem de 3% a 5%”, complementa Pedro Ivo.

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