Na última quarta-feira (17/3) cerca de 2 mil motoristas de aplicativos protestaram pelo pagamento de reajustes no valor pago para categoria. No entanto, os condutores, longe de terem alcançado um retorno positivo, relatam o que chamam de “retaliação” de uma das empresas, a Uber. Segundo relatos, ela diminuiu, nesta quinta-feira (18/3), a taxa mínima de viagem de R$4,45 para R$ 4,10.
O líder do movimento no DF, Manoel Scooby, avalia que a ação pretende desunir a categoria. “Estão afrontando o pessoal da liderança para que os motoristas não tenham união para ir às ruas ou lutar por seus direitos. Querem que os motoristas tenham medo de se manifestar”, disse.
Quem percebeu a diferença no valor pago foi Iedo Souza, 29 anos, morador de Águas Lindas. “Quando eu finalizei a viagem eu levei um susto. Fiquei me perguntando que história era essa da gente fazer manifestação e eles baixarem ainda mais os preços. Estamos sendo praticamente escravos”, pontua.
Iedo conta que compartilhou o print do valor no grupo de motoristas e, ao longo do dia, foram surgindo mais relatos de taxas mínimas abaixo do preço pago até a última quarta-feira (17/3). “Pelo menos até agora, as demais taxas não baixaram, somente essa de preço mínimo por viagem. Mas é difícil de acreditar, até pensei que era um erro do computador, mas realmente a empresa fez isso”, lamenta.
Em nota, a Uber explicou que houve uma falha técnica que reduziu o "repasse mínimo das viagens em Brasília para motoristas parceiros de R$ 4,45 para R$ 4,10 durante cerca de 36 horas. O problema já foi corrigido, e a Uber já enviou o ressarcimento devido aos motoristas parceiros".
Categoria esquecida
Para Iedo, que já trabalha há um ano e cinco meses como motorista de aplicativo, falta também uma ação do governo. “Se o aplicativo seguisse o aumento de gasolina não haveria problema, a questão é que a gasolina aumenta e o preço pago para a gente cai, não tem como sobreviver desse jeito. Além disso, somos ignorados, se o governo quisesse nos ajudar ele conseguiria, mas ele não se importa”, diz o motorista.
Na quarta-feira (17/3), segundo a categoria, cerca de 2 mil motoristas participaram do protesto em frente ao Complexo Cultural da Fundação Nacional de Artes (Funarte-DF). Em buzinaço, eles deixaram a Funarte e saíram para o Palácio do Buriti, Palácio do Cruzeiro e Esplanada dos Ministérios.
Os motoristas que não conseguiram estar na manifestação protestaram sem aceitar corridas. Esse foi o caso de Leandro de Oliveira Varanda, 26, morador de Planaltina-DF. “Não consegui ir para a carreata porque tive que ajudar minha vó, mas fiquei em casa, desliguei o aplicativo e não aceitei nenhuma corrida. Porque, sinceramente, não compensa trabalhar, as taxas são muito baixas, o combustível está caríssimo, em alguns lugares custa R$ 6,20. Estamos, na verdade, pagando para continuar no serviço”.
Mas os problemas dos aplicativos não se restringem ao baixo salário. “Nós somos constantemente postos em perigo. Quando aceitamos a viagem de um passageiro, recebemos apenas o nome dele, não temos acesso a foto para saber quem é e isso nos deixa muito vulneráveis a assaltos. Além disso, tem a questão da cadeirinha para crianças, muitos passageiros querem que levemos os filhos sem terem cadeirinha. O aplicativo deveria enfatizar essa questão para as normas de segurança serem seguidas”, sugere.
Audiência pública
Às 19h da quarta-feira (17/3) também foi realizada uma audiência pública na Câmara Legislativa do DF (CLDF) para discutir algumas reivindicações dos motoristas, mas nenhuma empresa de aplicativos compareceu ao debate.
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