Há pouco mais de um ano após a chegada do vírus na capital, os brasilienses começam a semana em um dos cenários mais críticos até agora. Apesar das medidas restritivas, como o fechamento do comércio e o toque de recolher, o índice de isolamento social registrado ontem era de 39,73%, segundo dados da plataforma Inloco. A rede pública de saúde atingiu, nesse domingo à noite, a capacidade máxima de ocupação dos leitos para adultos de unidade de terapia intensiva (UTI) voltados para o tratamento da doença (100%).
Apenas nas últimas 24 horas, foram 1.699 novos infectados e 19 mortes notificadas, sendo que três delas ocorreram ontem. Somente no DF, a covid-19 matou 5.116 pessoas e infectou 317.880 (278.567 são residentes da capital). Desses, 296.802 recuperaram-se da doença.
Ontem, os leitos de UTI adulto chegaram a ficar todos ocupados. Recente atualização do InfoSaúde, painel de dados da Secretaria de Saúde mostrava, até as 19h, que havia apenas 10 leitos disponíveis (sete pediátricos e três neonatais). Anteriormente, a pasta havia informado que há perspectiva de abrir 221 novos leitos este mês. Nos hospitais particulares, a situação não é diferente. Com 98,77% da capacidade atingida, há apenas cinco leitos disponíveis, sendo quatro adultos e um pediátrico.
O Hospital Regional da Asa Norte (Hran) decretou, na quarta-feira passada, bandeira vermelha, limitando o atendimento para os pacientes em estado grave em decorrência do novo coronavírus.
Um dia antes, vistoria da força-tarefa do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) na unidade de saúde definiu o local como “um cenário de guerra”. A taxa de transmissão da covid-19 está em 1,01, como anunciado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), ontem, no Twitter oficial do chefe do Buriti. Apesar da leve queda, o número ainda é alto e preocupante.
A enfermeira Lídia Rodrigues, 31 anos, trabalha no pronto-socorro do Hran e relata que a situação dos últimos dias é a pior desde o início da crise sanitária. “Estamos lotados, a equipe sobrecarregada e os pacientes todos em situação grave. Todo dia chegam mais pessoas e, mesmo com a abertura de mais leitos, a situação não melhora”, conta.
“Precisamos passar doze ou seis horas de plantão paramentados com gorro, capote, máscaras N95 e todos os itens de proteção individual para nos protegermos e protegermos os pacientes. É exaustante, mas estamos fazendo nosso melhor”, completa Lídia. A enfermeira foi a primeira a ser vacinada contra a doença no DF e atua no box emergencial do Hran desde o início da pandemia.
Gama
O colapso no sistema de saúde foi relatado por um profissional de saúde do Hospital Regional do Gama (HRG). Ele usou o prontuário de um paciente para denunciar a situação e descreveu o drama enfrentado pela equipe médica. No desabafo chocante, afirmou que a unidade de saúde está com 180% de lotação.
O pedido é de socorro. No texto, ao qual o Correio teve acesso, o profissional alerta: “O bloco respiratório covid-19 do HRG em estado caótico. Estamos com lotação em 180%. Necessitamos com urgência da liberação de leitos de UTI e transferência dos pacientes”, desabafou. Ele denuncia: não há espaço físico, pontos de oxigênio, bombas de infusão, nem sequer ventiladores mecânicos — equipamentos essenciais para o tratamento de pacientes graves. Segundo ele, há pontos de oxigênio sendo compartilhados por até três pacientes.
Por fim, o profissional reitera que “todos os pacientes aqui (HRG) internados estão sob elevadíssimo risco de desfecho negativo, incluindo óbito”. Fontes revelaram ao Correio que, para tentar desafogar a superlotação no Hospital do Gama, alguns pacientes estão sendo transferidos ao Hospital da PM.
A direção do Hospital Regional do Gama (HRG) informou, por meio de nota oficial, que, devido à grande demanda de pacientes graves, os pacientes com estado clínico estável e sem gravidade do bloco respiratório estão aguardando um tempo maior para receberem a visita do médico e não há paciente desassistido.
A Secretaria de Saúde explicou que as unidades hospitalares estão apresentando superlotação, com número crescente de pessoas procurando por atendimento. Todas as unidades da rede pública estão trabalhando intensamente para que os pacientes sejam atendidos em curto espaço de tempo e da melhor maneira possível, dentro de um contexto de pandemia.
Variantes
De acordo com a Secretaria de Saúde, pelo menos quatro variantes da covid-19 circulam no DF. São elas: P1, de Manaus; P2, do Rio de Janeiro; B.1.128, uma das primeiras cepas a circular no DF; e a B.1.1.143, outra linhagem também registradas em diversos estados. Estas cepas foram identificadas pelo Laboratório de Saúde Central do Distrito Federal (Lacen-DF).
A B 1.1.7, variante britânica, foi inicialmente identificada em duas pessoas da capital federal pelo Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz). Porém, depois, o Ministério da Saúde corrigiu a informação e afirmou que as amostras, na verdade, eram de pacientes residentes no Entorno. Apesar disso, na tabela de dados na Rede Genômica Fiocruz, a cepa ainda está classificada como se estivesse em circulação no DF. Procurada pela reportagem, a secretaria informou que não há outras variantes em investigação e que novas amostras de genomas são sequenciadas semanalmente tanto pelo Lacen quanto por laboratórios de referência em outras unidades da Federação.
Diante deste cenário, o pesquisador Breno Adaid, do Centro Universitário Iesb, alerta para a necessidade de ampliar o isolamento social enquanto não há vacinação em massa da população. Adaid detalha que a força de contaminação de um vírus é determinada por três elementos básicos. De maneira simplificada: como o vírus é transmitido, quanto tempo a pessoa fica com o vírus e a taxa de contato. “Os dois primeiros elementos, não controlamos. O contato é, portanto, o único que podemos controlar”, ressalta o doutor em administração e pós-doutor pela Universidade de Brasília (UnB) em ciência do comportamento.
Carreata pede fim do lockdown no DF
Organizada pelas redes sociais, uma manifestação reuniu, ontem, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Esplanada dos Ministérios. A carreata começou por volta das 10h, e os participantes buzinavam ao longo do Eixo Monumentla em protesto contra diversas pautas, como o decreto do governador Ibaneis Rocha que restringiu as atividades econômicas no Distrito Federal para conter a disseminação da covid-19. Temas polêmicos também estavam presentes, como a intervenção militar, voto impresso, alta no preço dos combustíveis e oposição a decisões de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como a de Edson Fachin que tornou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva novamente elegível. Havia faixas de apoio ao deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), preso por defender o AI-5, instrumento mais duro da ditadura militar.
Números da covid-19 no DF
317.880
infectados
5.116
mortos
296.802
recuperados
15.962
em tratamento
306
em leitos de UTI (rede pública)
226
à espera de leito de UTI para tratamento contra a covid-19
1,01
taxa de transmissão
39,76%
taxa de distanciamento social
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