Vinte anos depois de inaugurada sobre o Lago Paranoá, a Ponte JK ganhará no início de 2022, um point gastronômico que quase dá para chamar de seu. Será erguido a menos de 500 metros da ponte — um dos pontos mais fotografados da cidade — na área destinada à Astrife (Associação dos Servidores do Supremo Tribunal Federal), um espaço de 15 mil metros quadrados, que contará com sede social, centro de treinamento, parque de ciclismo e quadras esportivas. Meia dúzia de grifes do setor de alimentação estão de olho para se instalar no futuro centro social e cultural de lazer e gastronomia do Lago Sul.
“(O espaço) Terá vários restaurantes distribuídos de forma harmônica nos mesmos moldes do Pontão, só que em proporções muito menores”, adianta Osiel Ribeiro da Silva, presidente da Astrife. Funcionário aposentado do STF, Osiel contratou o escritório Lazzeri Arquitetura para desenvolver o projeto, que será executado por etapas, sendo a primeira justamente a gastronômica, em sistema de contêineres montados na ponta do terreno que tem formato alongado. Estão lá Costelaria Gaúcha e O Tuga culinária lusitana. Confirmadas: Mandaka carne de sol e Picanha de Água Doce, além de um sushi que está em análise.
Chegou primeiro
A vocação gourmet começou há mais de meio ano quando se instalou na pista paralela ao acesso à Ponte JK, ao lado do Clube da OAB, ainda de forma precária, o assador Gilberto Zortea, que passou a fornecer aos domingos (pelos sistemas take out e delivery) deliciosa costela bovina feita no fogo de chão. Oriundo de uma família de origem italiana de Erechim, interior do Rio Grande do Sul, “nós todos temos o churrasco na veia”, gaúcho teve tanto sucesso na empreitada que, em setembro, a iguaria já era fornecida também aos sábados e desde dezembro, os amantes de costela tiveram mais um dia para degustá-la. “Em cada fim de semana (sexta, sábado e domingo), é consumida 1,5 tonelada de carne”, revela Zortea, que conta com dois fornecedores da raça Nelore, um do Paranoá e o outro, de Goiás.
No começo do ano, em 23 de janeiro, a Costelaria Gaúcha recebeu um vizinho, que, invés de fazer concorrência ao negócio, contribuiu para aumentar a fila de carros. Trata-se do português Antonio Machado Barrigana, de 54 anos, que nasceu em Angola e, aos 3 anos, passou a viver em Lisboa com a família de quatro irmãos. Só ele, porém, aos 27 anos veio ao Brasil e, aqui, toca uma empresa de dutos metálicos, que instala aparelho de ar-condicionado.
“Como eu já sabia preparar bacalhau e fazia muito na África do Sul, onde vivi por nove anos antes de vir para cá, para atender amigos e vizinhos, decidi lançar aqui o prato a lagareiro, que é uma receita muito apreciada feita com autêntico azeite extravirgem português regando o gadus morhua”, explica Antonio, do O Tuga. Ele, porém, não se limitou ao peixe norueguês, cuja salga é feita segundo técnica desenvolvida pelos seus conterrâneos. Quem passa pela pista, deve ter visto outra placa anunciando polvo na brasa. É que o chef português, aproveita a estrutura do fogo na brasa para assar também o saboroso molusco, que tem sempre, invariavelmente, oito tentáculos (octopus), seja o animal do tamanho que for.
Estilo artesanal
Diferentemente do gênero fast food, que indica comida rápida geralmente praticada por franquias, os alimentos oferecidos próximo à ponte têm origem muito caseira e guardam um estilo artesanal no preparo quase sempre demorado. O que fez Gilberto Zortea eleger como slogan do negócio o binômio paixão e paciência. Ele acende o fogo em lenha de eucalipto reflorestado ainda de madrugada, segundo a quantidade de carne que tem para assar. “Sexta-feira, às 4h; sábado, às 3h e domingo, às 2h”, revela o assador, que, na véspera desses dias, vai dormir às 20h para dar conta do recado.
Em seguida, espeta a carne cobrindo-a de sal grosso que penetra nas fibras à medida em que a costela vai sendo assada num processo lento e gradativo de cerca de oito horas. “Depois de assada, a gente ‘surra’ a carne no espeto batendo para tirar o excesso de sal”, ensina o especialista. Enquanto tiver carne, o fogo continua sendo alimentado, diz Gilberto, que acrescentou ao carro-chefe diversos acompanhamentos.
Arroz de costela, farofa, feijão-tropeiro, mandioca cozida, maionese de batata e vinagrete formam o elenco de guarnições que podem escoltar o bom assado vendido por R$ 84,90, a porção inteira com cerca de 1kg, ou R$ 47,90, meia porção de 500g. A equipe, que começou com duas pessoas além do assador, já conta com 15 (10 na cozinha e atendimento e quatro moto-boys) mais o chef brasiliense formado pelo Iesb Bruno de Moura Rodrigues, conhecido pelo apelido Lord, que já aprendeu a tomar chimarrão com o patrão.
Outra novidade é um rótulo de vinho exclusivo produzido pela vinícola, igualmente gaúcha, Antonio Dias. “Nada harmoniza melhor com a boa carne que a uva tinta Tannat”, sugere Zortea, que já foi dono de casa de vinhos no Sudoeste. Pedidos pelo telefone: 98423-1999.
Arroz de polvo
De preparo igualmente demorado, as iguarias portuguesas receberão reforço em breve. “Daqui a dois meses, lançaremos o arroz de polvo, aproveitando a cabeça (do animal) que, por enquanto ainda é descartada”, anunciou Antonio Machado, do O Tuga, especializada no bacalhau a lagareiro (250g por R$ 115 e 330g por R$ 170) e no polvo feito na brasa, além do bolinho de bacalhau.
Depois de limpar muito bem, o molusco é fervido por 40 a 50 minutos e quando atinge a consistência desejada (o garfo entra fácil na carne) recebe um banho de água gelada para interromper o cozimento. Aí é temperado com ervas no azeite com alho e assado na brasa. O prato vem com brocólis e batatas ao murro, cozidas e temperadas com ervas finas orgânicas (alecrim, salsa, tomilho e manjericão), antes de levarem o amasso, que dá nome à receita, é finalizado na brasa para dourar e servida com molho de azeite e alho. Você pode optar por três tentáculos médios ou dois grandes, ambos saem por R$ 115 cada.
“A novidade é um prato misto de bacalhau e polvo, que foi um pedido dos clientes. Eles vinham aqui e perguntavam se podiam levar os dois sabores”, conta Antonio, que estipulou em R$ 130 o prato misto. Ele também serve pastel de natas, um dos doces mais famosos de Portugal, confeccionado pelo conterrâneo João Manuel, proprietário da Confeitaria da Torre. Na barraca do polvo, o almoço sempre a partir das 11h, em tempos de lockdown vai até as 20h, na sexta-feira, sábado e domingo, até as 19h. Pedidos pelo telefone 98403-1122.