Quem visita a Quadra 10 de Sobradinho 1, em frente a um supermercado da região, quase de imediato tem a visão atraída pelas cores vibrantes da parada de ônibus em frente ao estabelecimento. As pessoas que passam pelo local não deixam de notar o projeto criado pela equipe Arte em Trânsito, que se dedica — inclusive em fins de semana — a dar mais vida às ruas da cidade. A Quadra 10 não é a única. Há pinturas na Quadra 6, na Central e em frente ao Hospital Regional de Sobradinho (HRS). O trabalho ajudou a revitalizar oito pontos de espera da cidade: sete em Sobradinho 1 e um em Sobradinho 2.
O projeto começou em janeiro, idealizado por Paulo Roberto Nunes, 33 anos, educador e morador da região administrativa. “Esse trabalho tem a parte artística, mas, também, fala sobre preservação e cuidado com a natureza. Ele educa”, descreve. A iniciativa tem o objetivo de levar cultura para os moradores, além, claro, de deixar a cidade mais bonita. “O grafite é voltado para os muros, mas decidimos, nesse projeto, trazê-lo para as paradas, justamente porque as galerias de arte estão fechadas e não são todas as pessoas que têm acesso a elas”, explica Paulo Roberto.
E, desse jeito colorido, as paradas se tornaram o ponto de encontro de outras artes, como a poesia. Paulo Roberto, que é escritor e autor do livro Pôr dos Sonhos, traduz a capital do país em versos. Um deles ganhou espaço na pintura da parada de ônibus na Quadra 4: “O céu de Brasília, além de pássaros e aviões, é todo poesia”.
Dedicação
O Arte em Trânsito conseguiu formar uma rede de solidariedade e apoio. Os integrantes do projeto não recebem qualquer tipo de pagamento, mas doam o trabalho para a cidade. A artista plástica Carol Narvaez, 37, conhecida como Kalnarvaez, deixou o Jardim Botânico, local onde moram, e foi com a amiga, e também artista plástica, Michelle Cunha, 38, para fazer parte da iniciativa. “Nossa recompensa é a alegria de ver a parada transformada. Antes, ela estava suja, destruída. Nós a limpamos e alegramos o local. Quando terminamos a da Quadra 10, o pessoal do supermercado em frente veio nos dizer que o local estava totalmente diferente, que tínhamos levado vida para lá. E esse é o melhor retorno que podemos receber”, diz Carol.
Ao atuar no projeto, muitos artistas usaram o fim de semana de folga para pintar os pontos de ônibus. A arte feita por Michelle Cunha e Carol Narvaez levou mais de sete horas para ficar pronta. Isso porque os profissionais precisam raspar a parada, tirar papéis colados ou tinta velha. Em média, o gasto é de metade de uma lata de tinta, além de seis de spray para cada parada. Além disso, há o uso de bisnagas ou outros utensílios, a depender da técnica escolhida. O tempo de produção também pode variar se o grafite precisar de muitas camadas de pintura, mas a média é de cinco horas para concluir cada projeto.
O Arte em Trânsito emprega diferentes temas, como meio ambiente, saúde, esporte e educação. No ponto de ônibus da parada do HRS, Vinícius Rodrigues, conhecido como Lapixa, 37, decidiu fazer uma homenagem aos profissionais de saúde. “Quando recebi o convite do Paulo, de imediato aceitei. Só depois parei para pensar a respeito da relevância do projeto e do impacto dele na comunidade e no dia a dia das pessoas. Acredito que os abrigos, como estavam antes, depredados, com infiltração e sujos, traziam uma certa angústia a quem precisava esperar o transporte. A revitalização, a limpeza e a pintura do espaço torna-o mais acolhedor, mais agradável. E isso, em meio a uma realidade pandêmica, com certeza, faz diferença no cotidiano das pessoas”, opina o grafiteiro, morador de Sobradinho 2.
Todas as vozes
Outro destaque do Arte em Trânsito é o talento de jovens artistas. Mel Alves Oliveira, 13, e Emily Angel Alves, 12, são irmãs e moradoras de Planaltina (GO). Apaixonadas por arte desde cedo, elas não perderam a chance de fazer parte da iniciativa. “Começamos a pintar desde que pegamos em um lápis. Desenhávamos nas paredes de casa e sempre tivemos interesse em cultura. Com esse projeto estamos levando alegria para a praça”, opina Mel. A irmã mais nova concorda: “É a primeira vez que participamos de um projeto desse tipo, e acho que traz uma boa visibilidade. Geralmente, o Paulo nos passa algum tema específico, e podemos usar nossa criatividade para compor. Por exemplo, em nossa parada, o tema era meio ambiente e educação”, complementa Emily.
As meninas trabalham sempre juntas. A tia delas Francilene Alves da Silva, 40, não nega o orgulho que sente das sobrinhas. “Sou tia coruja”, confessa a professora. Mas, além da alegria por Mel e Emily, há a felicidade de ver a arte nas ruas da região administrativa. “Morei aqui por 27 anos. Mudei (para Planaltina de Goiás) há menos de um mês. Aqui (em Sobradinho) é difícil ter esse tipo de projeto. Ficamos muito jogados. Agora, as pessoas que saem para trabalhar e precisam pegar ônibus ao menos tem um lugar mais alegre e bonito para ficar”, observa Francilene.
A proposta não agradou apenas a quem vive na cidade. Tatiane Pereira de Souza, 38, mora em Ceilândia e estava em Sobradinho a passeio. Ao encontrar as paradas, ela elogiou o trabalho. “Dá uma alegria, uma satisfação. O ponto de ônibus está muito bonito, bem mais interessante do que os que vemos por aí”, comenta Tatiane. A monitora Jéssica Neiva, 32, mora em Planaltina e também apreciou o resultado do projeto. “Há uma diferença enorme em comparação a paradas bagunçadas e sujas de outros locais. Assim, a região fica mais valorizada”, diz Jéssica.
» Como ajudar
É possível patrocinar e doar materiais para a equipe do Arte em Trânsito, como tintas spray, em bisnaga ou em lata. Para saber como ajudar, basta entrar em contato com o idealizador do projeto, Paulo Roberto Nunes, pelo WhatsApp: 992-533-671.
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