Coronavírus

Escolas particulares e academias retomam atividades presenciais nesta segunda

Retorno das atividades presenciais passa a valer, mas deve obedecer às normas sanitárias de combate à covid-19. Decisão do Executivo local divide opiniões, principalmente em um momento de alta na taxa de transmissão do vírus e de superlotação no sistema de saúde

Samara Schwingel
postado em 08/03/2021 06:00
Frequentadora assídua de academia há 14 anos, a cuidadora Ana Moura voltará às atividades esportivas assim que os estabelecimentos reabrirem -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
Frequentadora assídua de academia há 14 anos, a cuidadora Ana Moura voltará às atividades esportivas assim que os estabelecimentos reabrirem - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Instituições de ensino particulares e academias estão autorizadas a retomar as atividades presenciais a partir desta segunda-feira (8/3), no Distrito Federal. O funcionamento desses estabelecimentos estava suspenso desde 28 de fevereiro, como parte da estratégia de combate à pandemia da covid-19. No entanto, a liberação do retorno divide opiniões entre representantes e frequentadores dos setores afetados, devido à ocupação dos leitos em unidades de terapia intensiva (UTI) para tratamento da doença passar de 90%, tanto na rede pública quanto na particular. Além disso, a taxa R(t), que calcula transmissão do novo coronavírus, está em 1,35. O resultado significa que cada 100 infectados podem contaminar, em média, outras 135 pessoas.

Na sexta-feira (5/3), o governador Ibaneis Rocha (MDB) liberou, por meio de decreto, o retorno das aulas em escolas e academias, mas com ressalvas. O texto prevê que esses locais devem seguir as medidas de segurança e os protocolos recomendados pelas autoridades sanitárias, como garantir distância mínima de dois metros entre as pessoas; proibir que integrantes do grupo de risco trabalhem; disponibilizar álcool em gel; cobrar o uso de máscaras e aferir a temperatura de todos os presentes. Além disso, as escolas devem atuar com rodízio de estudantes, e as academias não podem fazer aulas coletivas.

Michelle Silva, 49 anos, conta que se sentiu segura com as medidas de segurança adotadas pela escola do filho, Augusto César Silva, 16. “Além de confiar na unidade de ensino, confio em meu filho e sei que ele entende a necessidade de usar máscaras, manter o distanciamento social e higienizar as mãos”, relata Michelle. Apesar disso, a moradora da Octogonal ainda se mantém atenta. “Mesmo em casa, tomamos todos os cuidados e seguimos preocupados com o vírus”, completa.

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    Michelle com o filho, Augusto César: cuidados na escola vão continuar Arquivo pessoal

A cuidadora Ana Moura, 49, frequenta assiduamente a academia há 14 anos e diz que deve voltar, nesta segunda-feira (8/3), às atividades esportivas presenciais. “O local que frequento tem todo um cuidado e me sinto segura. Eles não fazem aulas coletivas e mantêm um número reduzido de alunos em cada horário, todos com máscara, além de higienizarem o espaço constantemente”, relata. Para a moradora de Vicente Pires, o exercício físico faz a diferença na rotina. “Quando soube que as academias reabririam, foi um alívio”, acrescenta Ana.

Representantes

Assim como entre os que frequentam escolas e academias, a volta das atividades presenciais dividiu representantes de entidades sindicais. O Sindicato das Academias (Sindac-DF) ressaltou que todas as instituições seguirão as medidas de segurança. “Graças ao novo decreto estamos liberados e vamos abrir as portas na segunda-feira (8/3), seguindo todas as nossas normas à risca. Assim, vamos garantir não só a saúde da população como também a segurança em nossos ambientes”, informou a entidade em nota.

A presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinepe-DF), Ana Elisa Dumont, também é favorável ao retorno das atividades presenciais. Para ela, as escolas deveriam ser consideradas atividades essenciais. “Cerca de 85% dos estabelecimentos (de ensino) devem retornar hoje. A escola é um serviço essencial, pois cuida da saúde mental e cognitiva dos estudantes”, defende.

Já Rodrigo de Paula, um dos diretores do Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinproep-DF), não vê motivo para o retorno e espera uma intervenção por parte do Ministério Público do Trabalho (MPT). “Vamos nos reunir com a instituição e com o GDF (Governo do Distrito Federal) amanhã. Esperamos que o MPT barre essa retomada. De qualquer forma, continuaremos fiscalizando os estabelecimentos e o distanciamento entre os alunos e os servidores”, afirma. Na reunião, o sindicato também cobrará um calendário de vacinação contra a covid-19 para a área de educação.

Palavra de especialista

Sem margem para erros

Vejo a volta das atividades presenciais em escolas e academias com muita preocupação, porque estamos em um cenário de aumento progressivo da taxa de transmissão do vírus e com o sistema de saúde sobrecarregado. Não temos margem para erros, para acompanhar e ver se os locais vão conseguir cumprir as regras sanitárias. Estamos em uma situação de crise. Talvez, essa discussão deveria ter sido feita antes de atingirmos um cenário crítico. Com a volta das atividades presenciais, pode haver impacto na taxa de transmissão. Se isso acontecer, não teremos leitos para todos. Por isso, neste momento, a abertura de qualquer atividade é perigosa. Cabe à população aderir às medidas restritivas o máximo que conseguir. Claro que, quem precisar trabalhar presencialmente e estiver liberado pelo Poder Executivo, deve ir. No entanto, quem puder deve ficar em casa.

Valéria Paes, infectologista da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal

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Ocupação nos leitos de UTI perto de 100%

Por volta das 14h de domingo (7/3), 99,22% dos leitos públicos em unidades de terapia intensiva (UTI) voltados para o tratamento de adultos com covid-19 estavam ocupados. Às 16h30, a taxa referente às vagas na rede pública para adultos e crianças estava em 96,65% — sendo que, dos 285 totais, 260 estavam ocupados, nove livres e 16 bloqueados, em aguardo de liberação.

Na rede privada, 93,33% das UTIs para adultos e crianças estavam ocupadas às 11h de domingo (7/3), horário da mais recente atualização do portal InfoSaúde-DF. O site permite acompanhar a situação da pandemia no Distrito Federal. Das 226 vagas, apenas 16 estavam livres, e uma, bloqueada. A intenção da Secretaria de Saúde (SES-DF) é ampliar a oferta com 221 leitos novos. Até domingo (7/3), a pasta havia aberto 110 vagas, mas prevê a ativação de mais 105 nos próximos sete dias.

Além disso, está previsto para esta segunda-feira (8/3) o lançamento da licitação que prevê a construção de três novos hospitais de campanha. Cada uma das unidades terá cerca de 100 leitos de UTI. A SES-DF informou que, além dessa medida, deve contratar mais profissionais de saúde para atuar da linha de frente, como médicos, enfermeiros e profissionais intensivistas. As equipes atuarão nesses novos locais de atendimento. Na última semana, houve nomeação de 15 médicos para reforçar o quadro. Em todo o ano passado, foram 4.213 servidores entre efetivos e temporários.

Para o professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB) Walter Ramalho, a abertura de leitos é importante, mas não é a principal medida para combater a covid-19. “O ideal é que se evite a internação dos pacientes. E para isso é preciso manter a higiene das mãos, o afastamento social e o uso de máscaras, além de manter a campanha de vacinação constante”, considera. No domingo (7/3), não houve vacinação de pessoas do grupo prioritário no DF. Com isso, o total de imunizados com a primeira dose permaneceu em 155.481, e a população que recebeu o reforço soma 57.947.

Casos e mortes

A Secretaria de Saúde confirmou, ontem, 874 novos casos de covid-19 e 12 mortes provocadas pela doença na capital federal. O mais recente boletim epidemiológico divulgado pela pasta revela que o total de infectados subiu para 306.251, dos quais 287.469 se recuperaram. No entanto, 4.962 pessoas não resistiram às complicações da doença.

A média móvel de casos ficou em 1.365, ontem, e a de mortes, em 17,71. Analisando o cenário do DF, o pesquisador do Centro Universitário Iesb e pós-doutor em ciência do comportamento pela UnB Breno Adaid afirma que a expectativa é de que, ao longo desta semana, os novos casos fiquem em torno de 1 mil por dia. “Caso venha a ultrapassar demais essa previsão, o principal motivo deve ser que o lockdown não foi respeitado plenamente. Mesmo assim, se isso acontecer, cabe um estudo para entender melhor o que pode ter ocasionado a alta, inclusive após o fechamento”, comenta Breno.

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