PANDEMIA

Um ano de covid-19: "Temia morrer asfixiada", relata a paciente zero do DF

A advogada Cláudia Patrício Costa foi a primeira paciente diagnosticada com a covid-19 no Distrito Federal. Doze meses depois, ela conta como foi enfrentar a doença quando havia muito menos informações a respeito do vírus

Luana Patriolino
postado em 07/03/2021 06:00 / atualizado em 07/03/2021 12:54
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press )
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press )

O amor venceu. A advogada Cláudia Patrício Costa, 53 anos — a primeira paciente diagnosticada com covid-19 no Distrito Federal — e o marido, o empresário André Costa Souza, 49, o segundo que testou positivo na capital, permanecem unidos depois de lutar contra o inimigo invisível. Unidos há 29 anos, eles contaram como estão depois de passados quase 12 meses desde o começo do pesadelo.

Ao Correio, Cláudia Patrício falou sobre os 105 dias de internação, o susto ao acordar do coma e a vida depois da doença. Sem imaginar o que estava por vir, no dia 4 de março de 2020, o casal voltou de uma viagem de trabalho a Londres (Inglaterra), quando a advogada afirmou estar sentindo sono e cansaço.

Eles foram para o Hospital Daher, no Lago Sul, para descobrir o motivo do mal-estar. A resposta pegou não só o casal, mas a capital inteira de surpresa: Cláudia era a primeira pessoa no DF diagnosticada com a covid-19. “Meu caso é o primeiro do país a precisar de intubação por covid. Fui, também, a primeira pessoa a resistir a esse nível de gravidade”, conta Cláudia. “Era a morte que eu mais temia: asfixiada”, diz.

Depois disso, as lembranças na mente da mulher não são tão claras e ela conta com a ajuda do marido para se recordar do período antes do coma. “Entrou em um nível tão grande de estresse que esqueceu de muita coisa que aconteceu e como ela foi transferida para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran)”, lembra André Costa.

Em choque ainda pelos últimos acontecimentos, o empresário afirma que ficou atordoado e sem saber o que fazer. A única certeza que tinha era a de que queria ficar ao lado da mulher para ajudá-la a superar a doença. “Nos abraçamos e choramos. Mas, como sempre, decidimos lutar juntos. Mesmo sem imaginar o que viria pela frente”, conta André.

Cláudia ficou 60 dias em coma e, quando despertou, a pandemia tinha tomado outras proporções no país inteiro. A advogada ainda ficou mais 60 dias internada, sendo 35 dias em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Ela só mexia os olhos”, diz André Costa. Sem sequelas permanentes, a advogada faz fisioterapia e sessões com uma fonoaudióloga. “Tenho um dedo que não mexe direito e faço fisioterapia todos os dias para corrigir”, explica.

Sobre o tempo que passou internada, ela ressalta o sentimento de gratidão pelos profissionais de saúde que estiveram presentes. “Tive o privilégio de encontrar médicos humanos. Deus foi muito bom comigo, pois botou os melhores profissionais no meu caminho. Nunca vou esquecer do médico dizendo que eu ia viver, sim”, relembra.

Planos

Cláudia Patrício é advogada há mais de 30 anos e voltou a trabalhar na modalidade home office. Sócia do marido, ela conta que sempre passaram muito tempo juntos durante as quase três décadas de união. “Ficamos 24 horas juntos”, reitera André.

O tempo em casa também serviu para a mulher investir em sonhos antigos. “Aprendi a costurar. Sempre quis aprender crochê, essas coisas, mas nunca tive tempo. Os médicos também dizem que essa atividade é muito boa para recuperar o movimento total dos dedos”, revela.

Agora, o objetivo é lançar um livro sobre o enfrentamento à doença e como foi ser a primeira paciente com covid-19 no DF. O material foi escrito à mão, durante o período de recuperação, e ainda não tem data definida para publicação oficial.

Mas o casal confessa que ainda tem outro sonho não realizado: eles desejam ter um netinho e esperam boas novas em breve. “Sempre sonhamos em ser avós. Uma de nossas filhas se casou e estamos esperando”, diz Cláudia Patrício, com muita empolgação.

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