Após dois dias consecutivos de protestos de empresários do Distrito Federal contra o lockdown, o governo local manteve as medidas restritivas para o funcionamento de atividades consideradas não essenciais. Em conversa com representantes dos setores produtivos, o governador Ibaneis Rocha (MDB) frisou que é preciso aumentar o número de unidades de terapia intensiva (UTIs) e reduzir a taxa de transmissão do vírus. Caso isso aconteça, na próxima semana, o emebedista afirmou que será possível avaliar a flexibilização da abertura de atividades, como das escolas e das academias.
A transmissão no DF está em 1,08 — o que significa que 100 infectados passam a doença para 108 pessoas — e a ocupação de UTIs chegou a 91,34%. O Governo do Distrito Federal (GDF) promete abrir leitos públicos e negociar mais outros com hospitais particulares. Com o registro de 2.142 casos da covid-19 e 27 mortes provocadas pela doença, o DF acumula 298.836 infectados pelo novo coronavírus e 4.865 óbitos.
Em manifestação em frente ao Palácio do Buriti, na manhã dessa segunda-feira (1°/3), empresários pediam o fim das medidas restritivas. Leonardo Resende, 41 anos, afirmou que o setor produtivo não consegue sobreviver a mais um ano sem trabalhar. “A gente precisa ter um amparo. Já estava um caos, com o lockdown, como fica a economia?”, indaga. Para Tiago Oziel, 37, falta gestão. “Paramos as atividades por vários meses. Temos famílias e temos que ter movimentação. Somos a favor de uma gestão da pandemia. Mais leitos, mais vacinas, mas sem fechar o comércio”, protesta.
Após cerca de duas horas de manifestação, Ibaneis recebeu representantes dos setores. Durante reunião, o governador afirmou que, na próxima semana, se houver recuo nas infecções pelo novo coronavírus, vai avaliar a abertura de setores como escolas particulares e academias. Após o encontro, o chefe do Executivo local manifestou, nas redes sociais, preocupação com a economia, mas frisou que a saúde vem em primeiro lugar. “Eu disse aos empresários que nenhum dos setores da economia é culpado pela disseminação do vírus. Mas, é preciso reduzir a circulação de pessoas na cidade. É a única forma de conter o vírus”, escreveu.
“Quero que todos os setores da economia voltem a funcionar, no máximo, em 15 dias. Alguns vão voltar antes. E, para isso, precisamos da colaboração de todos. O decreto de lockdown não me traz nenhum tipo de satisfação, pelo contrário. Mas eu não posso fugir das minhas responsabilidades”, completou Ibaneis.
Presidente em exercício da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Edson de Castro comemorou a decisão do governador. “Esperamos que, nos próximos dias, a ocupação de leitos baixe e, assim, o GDF possa liberar o funcionamento de mais atividades”, diz. O vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista), Sebastião Abritta, considera que é preciso encontrar um meio termo. “Os empresários estão em dificuldades financeiras, pois não se recuperaram ainda do ano passado”, argumenta.
Saúde
Nessa segunda-feira, a taxa de ocupação de leitos de UTI voltados para o tratamento da covid-19 no DF chegou a 91,34% na rede pública. Das 236 vagas, 20 estavam livres e cinco bloqueadas aguardando liberação. Na rede privada, 87,14% das UTIs exclusivas estão ocupadas, sendo que dos 216 leitos, 27 estavam livres e quatro bloqueados.
De acordo com a Sala de Situação da Secretaria de Saúde, 19 pacientes com suspeita ou confirmação de infecção pelo novo coronavírus aguardavam na fila de espera a liberação de um leito. Outras quatro pessoas internadas aguardavam a transferência de leito. De acordo com a pasta, “a espera por leito requer, além da disponibilidade, a necessidade específica daquele paciente”. Por isso, não ocorre de forma imediata.
Segundo o GDF, mais 130 leitos devem ser abertos esta semana. Outros 200 serão disponibilizados, por meio do Ministério da Saúde, nos próximos dias, e o governo local negocia a contratação junto à rede privada para a abertura de 150 a 200 leitos. Na tarde de segunda-feira, Ibaneis se reuniu com representantes de hospitais particulares e, nesta terça-feira, deve confirmar o quantitativo de leitos que a rede poderá disponibilizar para o tratamento da covid-19. Segunda-feira, foram abertas 20 vagas no Hospital da Ceilândia e, nesta terça, serão mais 20 no Hospital da Polícia Militar.
Auxílio financeiro
Para ajudar os empresários durante o lockdown, o BRB lançou o Acredita-DF, programa que vai conceder até R$ 2,5 bilhões em crédito, para pessoas físicas e jurídicas. A iniciativa permite, também, a suspensão, por até 180 dias, de pagamento de parcelas de financiamentos já contratados em todas as linhas, entre elas os produtos Crédito Imobiliário e Crédito Consignado.
Para os clientes Pessoa Jurídica, o Acredita-DF oferece capital de giro a partir de 0,80 % a.m. e carência para pagamento de até 12 meses. Para investimento, a carência pode chegar a 24 meses. Para aderir ao programa, que terá duração de 90 dias, os clientes devem procurar os canais digitais do BRB: Mobile, Internet Banking e telebanco (61 3322-1515).
Pressão política
Nesta terça-feira (2/3), na Câmara Legislativa (CLDF), a deputada Júlia Lucy (Novo), que estava na manifestação dessa segunda-feira, deve apresentar um pedido dos empresários de derrubar o decreto que restringe as atividades econômicas. O Correio apurou que, dos 24 deputados distritais, pelo menos, dez são favoráveis ao lockdown, mesmo que com ressalvas. São eles: Fábio Félix (PSol), Arlete Sampaio (PT), Chico Vigilante (PT), Leandro Grass (Rede), Jorge Vianna (Podemos), Daniel Donizet (PL), Jaqueline Silva (PTB), Iolando Almeida (PSC), Rodrigo Delmasso (Republicanos) e Hermeto Neto (MDB).
Roosevelt Vilela (PSB) e a própria Júlia Lucy defendem menos restrições. O restante preferiu não opinar ou não atendeu à reportagem.
De acordo com o mapa do portal In Loco, que afere o distanciamento social, a maior taxa de isolamento do DF foi em 22 de março de 2020, quando 65,6% dos brasilienses cumpriam a medida de segurança. Na última medição, feita domingo, este índice estava em 48,7%. O ideal, durante a pandemia e durante um lockdown, é que mais de 50% da população fique em casa.
Colaborou Edis Henrique Peres
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