Jornal Correio Braziliense

Violência em surtos é rara, dizem médicos

Fábio Aurélio Leite, médico psiquiatra do Hospital Santa Lúcia Norte e membro titular da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, explica que pacientes esquizofrênicos não costumam ser agressivos. “Esse foi um caso de exceção. Há diversos esquizofrênicos com a vida absolutamente próxima à normalidade, desde que tratados de forma adequada. É importante destacar isso para que as pessoas não tenham preconceito e achem que, por ser esquizofrênica, a pessoa é homicida ou perigosa. Foi uma fatalidade”, lamentou o médico.

O psiquiatra chamou a atenção para a necessidade de acompanhamento adequado. “O tratamento, hoje, envolve um arsenal terapêutico bem rico, com medicamentos com baixos efeitos colaterais e alta tolerabilidade”, avaliou. “Infelizmente, via de regra, são medicamentos de custo elevado. Alguns são disponibilizados pelo governo e outros não”, contrapôs.

“Uma das questões mais importantes é a recaída. Ficar sem tomar o remédio é muito perigoso, porque pode levar a surtos, inclusive com desfechos trágicos, como esse caso de Águas Claras. Hoje, temos medicamentos injetáveis e com liberação controlada, tomados a cada mês ou com intervalos maiores, não havendo risco de interromper o uso, porque, com o comprimido, pode não haver a admissão correta, alguns pacientes, por exemplo, às vezes fingem que tomaram o remédio. Os injetáveis, então, fazem com que a pessoa mantenha boa adesão ao medicamento, sem risco de interrupção”, completou Fábio Aurélio Leite.

Anibal Okamoto Jr, médico psiquiatra pela Universidade de Brasília (UnB), afirma que, para uma pessoa que tem um surto psicótico chegar nesse ponto de violência, o comprometimento comportamental é grave. “É difícil saber os detalhes do episódio sem avaliar o paciente ou o histórico médico. Mas, geralmente, uma pessoa em surto psicótico tem delírio e/ou alucinações. Ela pode escutar vozes que falam pra ela matar, achar que os pais estão a ameaçando, concluir que os pais foram trocados por pessoas desconhecidas, etc. Esses delírios fazem com que o paciente se descole da realidade”, detalhou.

Segundo o especialista, provavelmente, o rapaz não estava tomando os remédios de forma correta, o que teria agravado o quadro. “Quando a pessoa não toma as medicações, o delírio pode voltar e o paciente pode achar que tem alguém o perseguindo, pensar que todas as pessoas ao redor estão contra ele e até mesmo achar que o remédio é veneno e acabar não ingerindo a medicação. Por isso, esses pacientes precisam sempre procurar ajuda especializada como psicólogos e psiquiatras para que possam realizar o tratamento de forma eficaz para evitar as recaídas e os novos surtos”, frisou.

O médico dá dicas sobre como proceder em casos como esse. De acordo com o psiquiatra, no caso das vítimas, é importante que elas não confrontem o paciente. Caso contrário, pode haver o agravamento da situação. “Outro ponto fundamental é garantir a própria segurança. Chame um vizinho, chame a polícia, chame alguém que possa te auxiliar e até mesmo saia do ambiente. Se o paciente estiver armado, por exemplo, priorize sua própria segurança. Caso a situação esteja um pouco controlada, tente conversar com a pessoa de forma calma e tranquila enquanto procura ajuda profissional”, orientou.