Morreu, ontem, o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismos (Fecomércio-DF), Francisco Maia, aos 71 anos, após complicações causadas pela covid-19. Para marcar o adeus ao jornalista e empresário, amigos, familiares e colegas de trabalho soltaram balões brancos pelo céu, no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul, local onde o empresário foi sepultado durante a tarde. Autoridades de Brasília expressaram pesar pelo falecimento. Ele deixa a esposa, três filhos e seis netos.
Natural de Teresina (PI), Maia mudou-se para São Luís (MA) ainda criança, onde ficou até os 13 anos. Depois, veio para Brasília em 1963, e adotou a cidade para viver. Formado em jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB), Chico, como também ficou conhecido pelos amigos, trabalhou nos principais veículos de comunicação do DF durante a década de 1970, entre eles Correio Braziliense, Jornal de Brasília, Rádio Nacional e Diário de Brasília. Na tarde de ontem, em clima de comoção, mais de 100 pessoas reuniram-se na Capela 7 do cemitério da Asa Sul para prestar as últimas homenagens ao amigo.
O jornalista Daniel Farias, 40, um dos filhos de Maia, afirma que o pai estava no “ápice” da carreira. “Ele deixa um legado para Brasília, principalmente pelas ações que promoveu. Sempre pensou na cidade de forma empreendedora, trazendo vida nova e fazendo o bem para todos. Se preocupava muito com o bem social das pessoas, com os pobres.” Daniel relembra dos momentos marcantes que passou ao lado do pai. “Era uma pessoa extraordinária, tinha um amor incondicional para conosco. Eu estava morando em Portugal e ele sempre me incentivava. Estamos abalados”, completou.
Gildeon Torres, 42, trabalhou por dois anos como motorista de Maia. Entre uma corrida e outra, os dois tornaram-se amigos. “Era tão bom acordar sabendo que meu patrão era uma pessoa boa, calma, tranquila, que tratava a todos bem. Tinha uma educação e serenidade única”, disse.
Durante a despedida, Valéria Farias, filha de Maia, leu um texto em homenagem ao pai. “Nosso pai sabia ensinar a responsabilidade do amor. Hoje (ontem), meus amigos, nessa Quarta-feira de Cinzas, ver partir o homem que só distribuiu amor e saudade é pouco para quem expressa tanta dor. Maia não está aqui no plano físico, mas sua energia sempre estará presente.” Por fim, ela deu um recado aos profissionais da Fecomércio-DF. “Vocês, companheiros de trabalho e membros de equipe, terão de usar bem o equilíbrio. Há uma grande obra a ser continuada”, finalizou. O sepultamento contou com a presença da equipe do Corpo de Bombeiros Militar do DF, que acionou as sirenes em forma de homenagem, enquanto os presentes soltaram balões brancos.
Doença
Maia recebeu o diagnóstico positivo para o novo coronavírus em 5 de janeiro. Em entrevista ao Correio, à época, ele disse que estava bem e sem apresentar os sintomas da doença. Contudo, 12 dias depois, o estado de saúde do empresário agravou-se. Ao procurar a unidade de saúde, os exames constataram uma pneumonia: Francisco estava com metade dos pulmões comprometidos. Em 17 de janeiro, ele deu entrada na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Santa Lucia, onde precisou ser intubado por apresentar dificuldades ao respirar. “Eu ligava duas vezes por dia para saber como ele estava”, lembrou o irmão, Airton Maia, 65.
Mesmo com a complicação, Maia chegou a apresentar uma melhora no quadro de saúde, teve o tubo retirado e os testes laboratoriais apontavam que ele estava livre da infecção pela covid-19. No entanto, os efeitos ainda eram graves e 48 horas depois ele voltou a ser entubado. “A partir desse dia, foi só piorando”, disse Airton. Na madrugada de ontem, Airton recebeu uma ligação: seria o último contato da equipe médica com a família. “Estava com febre, o pulmão e o rim pioraram. Na madrugada, teve o ataque cardíaco”, relatou.
Em reuniões com membros da equipe, Maia fazia questão de frisar a importância de cumprir os protocolos de segurança para combater a covid-19. Aos colegas, ele não escondia o medo de contrair a doença. Mesmo trabalhando, Francisco chegou a aderir, por algumas vezes, ao home office e só saía de casa em casos de urgência.
Trajetória
Maia e a família vieram do Maranhão na década de 1960. O pai de Francisco, Raimundo Farias, soube por um amigo que morava na capital federal que havia um barraco vazio no terreno em que ele morava e chamou o colega para ocupá-lo.
“Eu lembro que o piso era todo de madeira, os ratos ficavam por baixo”, rememora Airton. A família vivia em Sobradinho, e foi com o trabalho de sapateiro do pai que conseguiram prosperar. “Meu pai, semi-analfabeto, chegou aqui e montou uma indústria de calçados. Era muito empreendedor, e o padrão de vida foi melhorando. Chico tinha muito dele”, relembrou Airton.
Os irmãos eram inseparáveis: fizeram a mesma graduação, jornalismo, e casaram-se com duas mulheres que são irmãs. “Tudo ele me levava. Éramos uma dupla”. Como editor, Francisco Maia passou pela redação do Correio Braziliense, em 1973. Após longa trajetória como jornalista, Maia decidiu virar empresário e montou seu próprio negócio na área de comunicação social. Foi pioneiro no segmento de produtoras de vídeo e, posteriormente, virou empreendedor no setor de eventos e hotelaria. De mente irrequieta, era para o irmão que Francisco recorria para relatar seus projetos. “Não havia ninguém em Brasília fazendo assessoria de imprensa. Chegamos a ter mais de 200 funcionários”, contou Airton.
Francisco Maia fez parte da diretoria da Fecomércio-DF por mais de 20 anos, e se tornou o
atual presidente da entidade. Há oito anos, foi o presidente do Sindicato das Empresas de Promoção de Eventos do DF (Sindeventos). Ele também atuou como vice-presidente no Sindicato das Empresas de Turismo do Distrito Federal (Sindetur-DF) e na presidência da Câmara de Turismo e Hospitalidade da Federação.
Legado
“Ele se preparou a vida toda para ser presidente da Fecomércio”, frisou Valdir Oliveira, diretor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-DF). Francisco Maia assumiu a presidência da instituição há dois anos, quando foi eleito por unanimidade dos votos. O órgão reúne representantes de sindicatos patronais do DF. “Ele tinha muita pressa para que as coisas dessem certo”, completou. Se aproximou muito da base sindical, fez esse movimento muito forte de trazer a pauta dos sindicatos para mais próximo da federação”, acrescentou Oliveira.
E não foram apenas os representantes do setor de comércio que lamentaram a morte de Maia. O maestro Rênio Quintas lembra que, em 2019, Francisco Maia escreveu uma carta ao governador Ibaneis Rocha (MDB) para sensibilizá-lo quanto à liberação de recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) para projetos culturais. “Dentro desse contexto que ele estava, uma aridez da parte econômica, tinha essa visão do que significa a economia da cultura. Fazia parte do pensamento dele essa relação direta da economia e da cultura”, afirmou.